#vamosconstruiraesperança

«A fraternidade não é um automatismo, uma inevitabilidade da nossa espécie, não é simplesmente ouvir o arquétipo da nossa natureza, é uma construção ética, é uma decisão»

O mundo em geral e o nosso país em particular já demonstraram, por diversas vezes, que, quando queremos, conseguimos unir-nos e gerar rapidamente algo fantástico e que se destine ao serviço de todos.

Sinal disso mesmo foi a rápida criação de várias vacinas para o combate à Covid-19, criação essa que é fruto de imensas conjugações de esforços entre vários laboratórios médicos de distintos países, situados nos mais diversos cantos do nosso mundo.

Para uns, pode ser um sinal de perigo; para outros, um sinal de esperança. Para mim, é sinal de que, quando a Humanidade quer, consegue superar as diferenças e as guerras e, unindo esforços e sinergias, ser um todo muito maior do quer as partes.

Dizia (num encontro realizado por vídeo conferência, promovido pela Capela do Rato, no Patriarcado de Lisboa, no dia 11 de janeiro e cujo tema era a encíclica do Papa Francisco Fratelli Tutti) o Cardeal D. Tolentino de Mendonça que «a fraternidade não é um automatismo, uma inevitabilidade da nossa espécie, não é simplesmente ouvir o arquétipo da nossa natureza, é uma construção ética, é uma decisão».

E é verdade. Somos irmãos, segundo a palavra que nos deixou Jesus Cristo e todos os profetas antes dele, mas só vivemos essa fraternidade como um ato de vontade própria, livre, consciente. Não a vivemos como algo que nasce connosco, como a cor dos nossos olhos ou o tamanho do nosso nariz.

Temos de a construir individual e coletivamente e a existência desta(s) vacina(s), que tantas vicissitudes teve de atravessar – com as tentativas de açambarcamento, as necessárias autorizações para realização de testes, as longas horas passadas a analisar resultados, etc., etc., etc.– é prova de que o esforço e o empenho em criar algo que funcione para todos e que seja partilhado e melhorado em comum resultam na criação desse tal bem maior, universal, de que tanto fala a doutrina social da Igreja e de que muitos se apropriaram.

Acredito na esperança e, por isso, acredito nesta vacina. Tanto, que já fui vacinado, pois trabalho com pessoas de risco e, eu próprio, também integro esse grupo.

Vejo nela um sinal oposto a tantas das coisas que temos acompanhado nos últimos dias, nomeadamente em Portugal, com as eleições presidenciais à porta, e noutros países, como os EUA, onde se assistiu ao impensável ataque ao Capitólio e se vivem horas de receio relativamente a um possível conflito interno.

O percurso dos radicais, daqueles que semeiam a divisão e acirram as desavenças, procurando todas as respostas nas práticas liberalistas ou radicais e exacerbando, como dizia o cardeal português, «lógicas de violência, de xenofobia ou de desprezo pelos outros seres humanos», só vencerão se quisermos, porque tudo está nas nossas mãos.

A vacina é a prova de que, quando existe um projeto comum, desenvolvido para ultrapassar uma crise global, podemos reencontrar a verdadeira nobreza do ser humano. Quando somos chamados a olhar para nós mesmos e o fazemos com verdade, idealizamos um futuro melhor e começamos a construí-lo.

Em maio de 2019, o Papa Francisco visitou a Bulgária. Nessa ocasião e numa das suas homilias, desafiava aquele povo a que pudesse animar-se «para criar esperança», semeando um «canteiro de obras de esperança», porque «otimista é um homem ou uma mulher que cria a comunidade esperança».

Nessa homilia, a palavra esperança foi a mais pronunciada e fez-se dela eco por todo o mundo. A mim, também chegou e agora, neste momento, mais do que nunca, faz sentido para mim.

Se quero um mundo melhor, tenho de começar eu mesmo a construí-lo. Eu já comecei. Tomei a vacina. E desafio todos os demais a porem de lado a mediocridade que se esconde no lado mais escuro dos seres humanos, para que, iluminados por essa luz quente que vem da certeza de que a fraternidade pode ser criada, abracemos o desafio: #vamosconstruiraesperança .

E não se esqueçam, porque só na lua não há vento, aqui, na terra, tudo é possível.

 

Autor: o Padre Miguel Neto é diretor do Gabinete de Informação e da Pastoral do Turismo da Diocese do Algarve, bem como pároco de Tavira

 

 

 

Ajude-nos a fazer o Sul Informação!
Contribua com o seu donativo, para que possamos continuar a fazer o seu jornal!

Clique aqui para apoiar-nos (Paypal)
Ou use o nosso IBAN PT50 0018 0003 38929600020 44

 

 



Comentários

pub