Lagos lamenta morte do escultor e ceramista Jorge Mealha

Jorge Mealha «deixa a cultura e o panorama artístico mais pobres»

A Câmara de Lagos aprovou um voto de pesar pela morte, no passado dia 15 de Janeiro, de Jorge Mealha, escultor, ceramista e artista plástico que se notabilizou pelo seu trabalho em pasta de grés, mas também pela decoração de interiores e azulejaria.

A autarquia lamenta, em nota enviada à imprensa, «esta perda» de alguém que era um ícone de Lagos.

No voto de pesar pode ler-se que, para a Câmara Municipal a partida de Jorge Mealha «deixa a cultura e o panorama artístico mais pobres», mas a sua obra, caracterizada por «formas únicas bastante simples» e «um universo muito próprio, povoado de animais, figuras humanas, caravelas, vasos, colunas, continuará a caminhar ao nosso lado e o seu exemplo será, certamente, uma fonte de inspiração para todos aqueles que encontram na arte a forma de expressão, intervenção e realização».

Jorge Augusto Mealha da Costa, mais conhecido apenas como Jorge Mealha, nasceu em 1934 na cidade de Lourenço Marques (atual Maputo), onde residiu e trabalhou até 1974, aí se dedicando à cerâmica, escultura e decoração de interiores.

Participou, desde 1964, em exposições individuais e coletivas, dentro e fora do país, desenvolvendo trabalhos e intervenções integrados em varadíssimos projetos de arquitetura e urbanismo, designadamente de espaços públicos, hotéis, bancos, residências particulares, instalações aeroportuárias e instalações fabris, entre outros.

Na sua formação artística contactou e aprendeu com os grandes mestres, como o pintor António Quadros (no Núcleo de Arte de Loureço Marques) e Querubim Lapa (em Lisboa).

 

Duas peças de Jorge Mealha

 

Em 1975 vem residir para o Algarve, adotando, pouco tempo depois, Lagos como porto de abrigo, onde se fixou e viveu durante mais de quatro décadas.

Foi na cidade lacobrigense que fez grande parte do seu percurso artístico, dedicando-se exclusivamente à escultura/cerâmica.

Em Lagos, é possível apreciar peças da sua autoria, como o padrão em pedra comemorativo do Dia 10 de Junho (inaugurado em 1996, aquando das comemorações oficiais aqui realizadas), o painel de azulejos que reveste o acesso à ponte pedonal da Marina e, ainda, no revestimento em calçada portuguesa de diversos passeios públicos da cidade. A sua obra está igualmente representada em coleções de arte de inúmeras instituições públicas e privadas.

Na Casa dos Oleiros, aquela que foi até há poucos dias a sua residência familiar, ateliê de trabalho e espaço expositivo, os trabalhos de Jorge Mealha estão presentes em cada recanto.

Miriam Tavares, investigadora que em 2010 comissariou a exposição “Jorge Mealha – 1960/2010 – Reinventando uma Arte”, então patente no Centro Cultural de Lagos no âmbito do programa Allgarve, descreveu Mealha como «um artista africano que nasceu em Moçambique em 1934, mas (…) que não é (apenas) um artista africano».

Segundo a académica, Jorge Mealha teve um curso «bastante longo», com «influências também vindas da Europa».

Jorge Mealha «experimentou a pintura, o desenho, a escultura tradicional e o batique, mas o seu verdadeiro encontro com a arte aconteceu através de António Quadros e de um torno mecânico. (…) O encontro do artista com a cerâmica foi mais do que um encontro fortuito. Nasceu uma paixão para o resto da vida que o fez percorrer diversos caminhos para aprofundar os seus conhecimentos e a sua capacidade de reinventar, constantemente, a técnica e criar a sua arte», acrescenta.

Pessoa de trato fácil, a Câmara de Lagos recorda como «Jorge Mealha foi detentor de um enorme talento, criatividade e sensibilidade, e, na mesma medida, de simplicidade e humildade, traços que caracterizam os grandes nomes e os tornam referências para os demais».

De resto, já em 2019 o Município havia reconhecido o talento, o percurso e a obra deste artista, residente em Lagos, ao atribuir-lhe, no Dia do Município, a Medalha de Mérito Municipal – Grau Prata.

 



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