Espaços verdes, precisam-se!

Os espaços verdes são fundamentais na regulação do ciclo hidrológico, preservando a permeabilidade do solo e prevenindo as cheias urbanas

Inundação no Alto Rodes, em Faro, Outubro de 2020 – Foto: Luís Santos, publicada no Facebook

Sobre os espaços verdes da cidade de Faro, pode dizer-se que há falta deles, pois os espaços verdes urbanos — parques, jardins, hortas, ruas e praças arborizadas — desempenham um papel insubstituível na qualidade de vida dos cidadãos.

Se a cidade tiver vegetação abundante, torna-se mais húmida e fresca, o que para Faro não é uma questão de somenos. Também na adaptação às alterações climáticas, é fundamental a criação de áreas frescas para refúgio da população, em situações de ondas de calor.

Para além da termorregulação da cidade, os espaços verdes são fundamentais na regulação do ciclo hidrológico, preservando a permeabilidade do solo e prevenindo as cheias urbanas bem como transferindo a água do solo para a atmosfera por evapotranspiração.

Também melhoram a qualidade do ar, não só porque consomem CO2 e produzem Oxigénio, como também porque a humidade produzida ajuda a baixar as partículas poluentes, diminuindo a poluição atmosférica. Outras funções importantes dos espaços verdes em meio urbano são a protecção contra o vento e a redução dos níveis de ruído.

Os espaços verdes são ainda refúgios de biodiversidade no espaço urbano preservando espécies e habitats, e permitem aos citadinos o contacto com a natureza, a educação ambiental, o desporto, o recreio e o lazer, promovendo a saúde e o bem-estar.

Apesar dos reconhecidos benefícios dos espaços verdes urbanos a sua implementação em Portugal tem sido escassa e as cidades sofrem de uma excessiva densificação da malha urbana, fruto de situações de especulação fundiária e da ausência de um planeamento adequado.

Este crescimento urbano desordenado aconteceu por todo o país, em especial no litoral e Faro não foi excepção. Nos últimos 40 anos a cidade de Faro duplicou a sua população e o parque habitacional acompanhou este crescimento.

As hortas de Faro (Horta das Figuras, Horta do Ferragial, Vale da Amoreira) deram lugar a densas urbanizações onde não restou um único espaço verde.

Salvo o relvado frente ao Fórum Algarve, que deve a sua existência ao combate judicial, cívico e político dos farenses, que fizeram valer a lei, pois que, para aquele espaço, a Câmara previa mais uma zona comercial e uma bomba de gasolina, ao arrepio do Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação que dispõe que os projectos de loteamento devem prever áreas destinadas à implantação de espaços verdes. (1)

Campanha do Glocal Faro com a União de Freguesias de Faro

 

Com efeito, a expansão urbana de Faro não teve uma equivalência nos espaços verdes de utilização colectiva, que são os mesmos “de sempre”: o Jardim da Alameda João de Deus, que tem mais de cem anos, e a Mata do Liceu, de meados do século passado!

Desde 2014, Faro dispõe também do Parque Ribeirinho, um espaço vocacionado para o recreio e lazer e para a divulgação dos valores naturais da Ria Formosa, inserindo-se já na área do Parque Natural. Sendo uma zona lagunar, de salinas e sapais, a vegetação espontânea é arbustiva e teremos ainda de aguardar uns bons anos para que cresçam as árvores plantadas no âmbito do projecto.

Os restantes espaços verdes de Faro — Jardim da Alagoa, Jardim Luís Bívar, ruas arborizadas — são pequenos nichos, uma mais-valia, mas sem dimensão.

A expansão de Faro faz-se agora para norte, a oeste do Fórum e na Quinta da Penha. Esperamos que as áreas de cedência à Câmara para espaços verdes não venham a ser desvirtuadas, como já aconteceu no passado, a bem da sustentabilidade ambiental da cidade e da saúde dos farenses.

Como o Glocal Faro já alertou aqui, cada habitante de uma cidade necessita, pelo menos, de 40 m2 de estrutura verde urbana e a cidade de Faro disporia, em 2015, de 8,8 m2 de estrutura verde por habitante, o que é claramente insuficiente!

O que importa é ter arvoredo e com a densidade apropriada; não precisamos de grandes jardins relvados que têm manutenção onerosa e gastam muita água. Precisamos de sombra, alamedas, bosques urbanos e ruas arborizadas.

E precisamos que o conjunto de espaços verdes que Faro tem e venha a ter no futuro, se estruture num sistema comunicando em contínuo através de corredores de vegetação que promovam a ligação entre os diversos espaços verdes e a paisagem envolvente à cidade, como Ribeiro Telles nos ensinou.

 

 

Autora: Ana Xavier é licenciada em Antropologia e pós-graduada em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental. Membro do Glocal Faro.
O texto não respeita o novo AO.
[email protected]
https://www.facebook.com/glocal.faro/

 

(1) nº 1 do artigo 43.º do Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação (RJUE), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro, na sua redacção atual.

 

 

 

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