«Primeiro passo» está dado para criar museu na antiga Tipografia União em Faro

A antiga Tipografia União, propriedade da Diocese do Algarve, funcionou de 1909 a 2013

Foto: Samuel Mendonça | Folha do Domingo

É «um primeiro passo» rumo a um propósito maior. A Câmara Municipal, a Diocese e a Universidade do Algarve (UAlg) assinaram esta sexta-feira, 11 de Dezembro, um protocolo de colaboração que vai permitir que se comece a elaborar um estudo para criar um núcleo museológico na antiga Tipografia União (1909-2013), na Vila Adentro, em Faro.

O momento decorreu na sala de arte antiga do Museu Municipal de Faro, juntando Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro, Paulo Águas, reitor da UAlg, o padre César Chantre, vigário geral da Diocese do Algarve, D. Manuel Neto Quintas, Bispo do Algarve, mas também Alexandra Rodrigues Gonçalves, professora universitária e responsável pela equipa que vai fazer o estudo para a criação do núcleo museológico.

Em declarações aos jornalistas, a antiga diretora regional de Cultura do Algarve explicou que, «além da inventariação do que há em termos de espólio», este estudo, que custará cerca de 33 mil euros, «vai fazer o levantamento de testemunhos e o estudo documental do que há em torno da imprensa escrita, não só da história da Tipografia União, como da cultura impressa no Algarve e em Faro».

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

É que, como disse, a «história daquele espaço não é só a história de Faro – é a história de uma região e de vários períodos que demonstram que culturalmente o Algarve teve uma relevância que é desconhecida da maior parte da população».

A antiga Tipografia União, propriedade da Diocese do Algarve, funcionou de 1909 a 2013 e chegou a ser a responsável, até à primeira metade do século XX, pela impressão de quase todos os jornais da região.

Esta tipografia foi criada para que pudesse ser impresso, a partir de 1910, o Boletim do Algarve, da Diocese do Algarve.

Este jornal, que durou até 1913, deu lugar, depois, à Folha do Domingo, periódico que ainda existe.

É com base nesta histórias – e noutras – que o estudo que agora se inicia vai « identificar como é que narrativas de maior significado vão ser contadas ao público» no futuro espaço museológico.

 

Foto: Samuel Mendonça | Folha do Domingo

 

«Será feita uma proposta de criação de uma narrativa e dos instrumentos de apoio, da interpretação que será utilizada para apresentação dessas histórias ao público que visitará aquele sítio, tornando a proposta o mais inclusiva e multissensorial possível, indo ao encontro das tendências da nova museologia de maior interatividade, com base tecnológica», explicou Alexandra Rodrigues Gonçalves.

Por isso, a equipa, delineada pela Universidade do Algarve, é multidisciplinar. Assim, da UAlg, a equipa integra Alexandra Rodrigues Gonçalves, especialista em gestão cultural, museus e turismo, Mauro Figueiredo, especialista em sistemas de computação e realidade virtual aumentada, Bruno Mendes da Silva, especialista em Comunicação, Cinema e Literatura, e Maria Caeiro, especialista em Design. Do CHAM – Centro de Humanidades (unidade de investigação interuniversitária vinculada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e à Universidade dos Açores), participa Patrícia de Jesus Palma, especialista em História Contemporânea e Estudos Portugueses.

«Na nossa complementaridade, creio que temos condições para conseguir estabelecer um rumo e uma proposta de uma nova atração cultural e de um novo pilar de criação de conhecimento na região», considerou Alexandra Gonçalves.

Este trabalho de estudo durará todo o ano de 2021, estando previstas visitas a outros espaços que já têm museus na área da imprensa, em Portugal e no estrangeiro, se a pandemia o deixar.

Quanto ao levantamento do espólio, «está em vias de começar». Até agora, sabe-se que há «máquinas tipográficas e prensas muito relevantes, com grande valor histórico, únicas, mas também um acervo documental que ainda está por estudar».

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

«Temos muita coisa da nossa história regional que ainda está por conhecer e divulgar. Ao mesmo tempo, isto pode servir de base para criação de novo conhecimento. Estamos a cruzar várias áreas: a ciência, a cultura, a própria religião. Criar um novo centro de debate e conhecimento é, de facto, o objetivo maior da concretização deste futuro núcleo museológico», disse Alexandra Gonçalves.

Até porque, apesar de «muitos ainda não o saberem», foi em Faro que foi impresso o primeiro livro em Portugal: o Pentateuco, por Samuel Gacon, em 1487. «Queremos reafirmar Faro na sua centralidade», resumiu a professora universitária.

De resto, a ideia de criar este espaço museológico não é nova e até foi lançada pelo Bispo D. Manuel Neto Quintas, em 2017, no âmbito de uma reedição fac-simile do Pentateuco e de um colóquio organizado pela Direção Regional de Cultura, Câmara de Faro e CHAM.

Neste sentido, Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro, fez referência aos «anos de preparação» deste passo tomado hoje, 11 de Dezembro, bem como à importância de preservar o espólio da antiga Tipografia União.

«É a nossa cultura, a nossa identidade que ali está», concluiu.

 

 

 

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