Presidente da União das Misericórdias defende novo modelo de financiamento do setor social

«Salário mínimo, em muitas instituições, é o salário médio: isso é inaceitável», destaca Manuel Lemos

Manuel Lemos – Foto: RR

O presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) defendeu uma mudança no modelo de financiamento do setor social e maior atenção à situação dos idosos, particularmente atingidos pela pandemia.

“É óbvio que uma das coisas que tem de mudar é o modelo de financiamento”, refere Manuel Lemos na entrevista semanal conjunta Renascença/Ecclesia, emitida e publicada a cada domingo.

O responsável admite que, neste momento, o Estado tem menos recursos para apoiar as pessoas, mas sublinha que “nas sociedades desenvolvidas, o setor social não pode ser um subproduto”.

Citando o antigo primeiro-ministro António Guterres, o presidente da UMP refere que “o Estado devia pagar no mínimo 50% do custo da resposta e, desejavelmente, 60%.

“Atualmente, estamos em 37,38%. E estamos a valores de 2018, porque em 2020 ainda não temos contas prontas. Portanto, vai para 34, 35%, por causa dos custos dos Equipamentos de Proteção Individual, etc.”, precisa.

Manuel Lemos refere ainda que a vacinação nos lares “é uma prioridade” e idosos “têm de ser mais bem tratados, a rede de cuidados continuados não pode estar como está”.

Para o presidente da UMP, durante a pandemia ficou visível a “falta de articulação entre os órgãos do Estado, nomeadamente entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Segurança Social”.

Como momentos mais difíceis de 2020, o entrevistado recorda “os primeiros casos” de Covid-19, porque ninguém estava preparado para “lidar com eles”, bem como a ideia que foi passada para a opinião pública de que as instituições do setor social não teriam capacidade para enfrentar a pandemia, pelo que a sua gestão nesta crise “caberia ao Estado”.

“A cultura do cuidado é um valor absoluto, que em Portugal – não só pelas Misericórdias, mas também por outras organizações – fomos desenvolvendo. E é isso porventura que explica o relativo sucesso em termos de cuidados que nos fomos prestando”, observa, destacando uma taxa de mortalidade inferior, nos Lares, face a outros países europeus.

Manuel Lemos elogia o papel dos trabalhadores, que considera “uns heróis, neste processo”, admitindo que estão “muito mal pagos”.

“O salário mínimo, em muitas instituições, é o salário médio: isso é inaceitável”, assinala, reforçando a necessidade de mudar o sistema de financiamento, para poder aumentar as retribuições.

“Quanto custa cuidar de um idoso hoje? E quanto custa cuidar desejavelmente? A parte de leão desse trabalho tem de ser para pagar aos nossos colaboradores”, questiona.

O presidente da UMP, há 13 anos no cargo, diz ainda que este mandato é “com certeza o último”.

“Estou muito orgulhoso e honrado por ter estado estes anos e levar o mandato até ao fim. Acho que há um tempo para tudo”, explica.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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