Algarve, Alentejo e Andaluzia juntam as suas artes para criar “Contentores de histórias”

Peças da nova coleção do projeto TASA interligam técnicas ancestrais das três regiões do Sul da Península Ibérica

Hugo da Silva – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

As técnicas e a mestria vieram das três regiões do Sul da Península Ibérica, mas as peças de novo artesanato da coleção “Contentores de histórias”, que estão expostas até ao dia 18 na sede da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, em Faro, não têm nacionalidade e a criatividade que as fez nascer não respeitou fronteiras.

O projeto TASA – Técnicas Ancestrais, Soluções Atuais desafiou artesãos do Algarve, Alentejo e Andaluzia a colaborar com o designer de produto Hugo da Silva e com a designer de comunicação Joana Prudêncio na elaboração de uma coleção que juntasse saberes e técnicas das três regiões.

Os artesãos José Rosa, Martinho Jacinto e Vanessa Flórido (Algarve), Vitor Caço (Alentejo) e Antonio Nuñez e Rogelio Moreno (Andaluzia) contribuíram com conhecimentos do uso de vários materiais, nomeadamente palma, cana, vime, madeira e pele, para criar «peças que combinam materiais sustentáveis, criando novas soluções para as artes tradicionais e enaltecendo identidades locais», segundo a Proactivetur, a empresa que dinamiza o TASA, um projeto promovido pela CCDR do Algarve.

«Esta exposição nasceu da vontade de fazer produtos entre a Andaluzia, o Alentejo e o Algarve. Daí termos pegado na ideia de contentores, que é um produto que é comum em qualquer cultura, e conjugado artesãos com as técnicas das três regiões. Daqui criámos nove produtos, em que apenas um tem uma técnica só do Alentejo. Todos os outros são uma combinação», revelou ao Sul Informação Hugo da Silva, diretor criativo da nova coleção TASA.

«É quase um diálogo, são histórias que são aqui contadas, nas quais temos o artesão do Alentejo a trabalhar com o da Andaluzia, temos o da Andaluzia a trabalhar com o do Algarve. E essa comunicação entre as peças, essa linha que continua entre as peças, é o que vai contando histórias», acrescentou.

 

Inauguração da exposição Contentores de Histórias – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Para aqui chegar, foi preciso ir ter com aqueles que guardam técnicas ancestrais. Para trabalhar o vime, foi escolhido o artesão José Rosa, de Monchique. Já a palma, foi trabalhada «em duas situações, aproveitando uma relação entre mestre e aprendiz.

O mestre é António Nuñez, especialista andaluz da palma «com um trabalho excecional». A aprendiz é Vanessa Flórido, uma das artesãs formadas pelo TASA no curso de entrelaçados do Programa “Artesãos do Século XXI”, que esteve «a desenvolver as mesmas peças com ele». O produto final «foi aliciante a nível técnico e foi interessante a colaboração entre os dois».

«Depois temos o mobiliário alentejano, que é um mobiliário muito tradicional. Desta vez, tínhamos um artesão jovem, que já trabalhou como aprendiz, mas que desde que as empresas onde ele trabalhou fecharam, sempre tentou voltar a pegar na madeira e fazer produtos/materiais inspirados no mobiliário alentejano. Daí termos trabalhado com ele», revelou Hugo da Silva.

Neste caso, a inovação foi introduzida não apenas pelo design, mas também pelo material utilizado.

«Fomos buscar um lado inovador com material que é português, 100% português, produzido em Portugal que é o aglomerado de madeira Valchromat, que sendo um produto nacional autêntico, achámos que tinha muitas valências para trazer para o mobiliário alentejano, neste caso, para estas peças», explicou.

As decorações que embelezam as peças foram trabalhadas por Vítor Caço, «inspirado nas folhas, nas flores, que são normais e características do mobiliário alentejano e que o identificam».

 

Inauguração da exposição Contentores de Histórias – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

«Temos, também, a cana, que foi o Martinho Jacinto, aqui no Algarve, que a trabalhou. E, depois, temos a pele. Fomos a Ubrique, na Andaluzia, que é uma terra em que quase toda a população é especializada em pele e trabalha a pele de alguma forma, ou na venda, ou no tratamento, ou em alguma parte do processo. E o António e o Rogélio foram os dois artesãos que trabalharam connosco, já têm um grande conhecimento a trabalhar a pele», contou o coordenador da coleção “Contentores de histórias”.

Ubrique, um município da região de Cadiz, situa-se numa zona de montanha, num local que sempre teve muita água. «Daí ter nascido o tratamento e a utilização da pele. Neste momento produzem para marcas internacionais, porque fazem de tudo, desde as peças mais manuais às mais técnicas. E daí termos encontrado umas boas pessoas para trabalhar a pele, que tinham o know how que nos poderia ajudar aqui».

A junção da pele com outros materiais também visou «elevar um pouco» as peças, tendo em conta que este é visto «como um material refinado». Já a cana, «por exemplo, não é vista assim, mas tem muito trabalho, tem um processo duro e longo ao produzir».

Aliás, quando fala em elevar as peças, a prespetiva de Hugo da Silva é precisamente esta: dar a perceber que todas as técnicas são nobres. Assim, em algumas das peças, é a base que é feita em pele e a peça em si, «o contentor maior, que é a predominância da peça, é em cana, para tentar elevar esse estatuto que o produto acaba por ter».

Para já, existem apenas os prótótipos, que estão em exposição na CCDR, em Faro, mas a equipa do TASA vai «iniciar o trabalho ao nível de produção e acabar alguns detalhes, para que possamos ter as peças à venda no site e na loja», algo que deverá acontecer «no próximo ano».

 

Maria de Lurdes Carvalho – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

O “Contentores de histórias” é um projeto que é feito no contexto da Eurorregião Alentejo, Algarve e Andaluzia, pelo que esta está «em cada uma destas peças, o que para nós também é muito importante», revelou, por seu lado, Maria de Lurdes Carvalho, diretora de serviços de Desenvolvimento Regional da CCDR do Algarve.

«É muito importante, também, pelo aspeto do desenvolvimento regional porque, de facto, o artesanato ao ser feito pelas pessoas, com os produtos endógenos, com os produtos da região, é extremamente importante para o desenvolvimento da região. Não parece ter grande dimensão mas de facto tem», disse ao Sul Informação a mesma responsável.

Este é um projeto, co-financiado pelo Programa Operacional de Cooperação Transfronteiriça Espanha Portugal (POCTEP), no âmbito do projeto GIT_EURO_AAA_2020 – Gabinete de Iniciativas Transfronteiriças Alentejo-Algarve-Andaluzia, cujos beneficiários são a Junta Autónoma da Andaluzia, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo.

 

 

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