«Desesperados», os setores da restauração e da noite manifestaram-se em Faro

Ao contrário do que aconteceu no Porto e em Lisboa, a manifestação de hoje não teve desacatos, apesar de o tom ter subido em alguns momentos

 

«Vocês estão a matar quem quer trabalhar!». «Queremos ser ouvidos!». Estes foram apenas alguns dos gritos de guerra ouvidos na manhã deste sábado, 21 de Novembro, numa manifestação que juntou empresários da restauração, bares e discotecas, junto à Doca de Faro. 

Centenas de pessoas, vindas de todo o Algarve, mas também de outros pontos do país, responderam ao apelo do movimento “A Pão e Água” e compareceram neste protesto que durou toda a manhã.

Pelo palco, passaram nomes conhecidos como os chefs Ljubomir Stanisic e Leonel Pereira, Eliseu Correia, diretor da EC Travel, Sofia Hipólito, diretora-geral do Hotel Faro, Bento Algarvio, em representação da Vivmar, ou mesmo Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro.

Ao contrário do que aconteceu no Porto e em Lisboa, a manifestação de hoje não teve desacatos, apesar de o tom ter subido em alguns momentos.

 

 

Houve quem chamasse «aldabrão» a António Costa e quem acusasse mesmo o primeiro-ministro de ter «cagado na restauração».

Espalhadas pela zona da Doca de Faro, as pessoas, praticamente todas com máscara, empunhavam cartazes onde se liam frases, como: “1200 milhões para a TAP e para nós?! 20% de nada”, “Não queremos esmolas; queremos trabalhar” ou “Estamos sem discos, mas não paramos de levar baile”.

Aos jornalistas, Leonel Pereira, um dos organizadores da iniciativa, reconheceu que o Algarve «está a sentir de forma diferente» os impactos da Covid-19.

«Já não bastava a sazonalidade… Estamos desesperados totalmente e foi isso que me levou a aderir a esta manifestação», explicou o reputado chef, dono do “Check-In”, em Faro.

Ao Governo, Leonel Pereira pede que «mostre sensibilidade» com o setor da restauração.

 

Leonel Pereira

«Com esta redução dos horários, por exemplo, eu tive uma quebra só nesta semana de 70%. Eu e toda a restauração. Não termos uma luz ao fundo do túnel, é o que nos deixa mais preocupados. Tenho 20 colaboradores, todos à beira de ir para casa e questionam-nos todos os dias se vão continuar», lamentou.

Por isto, as reivindicações que serviram de base a este protesto foram quatro: «redução do IVA em 50%, isenção da Taxa Social Única (TSU), reposição dos horários com que trabalhávamos e que sejam criados apoios a fundo perdido».

«Com este prolongamento do Estado de Emergência, não sabemos como vai ser. De certa maneira, são muitas casas que sustentamos e não temos palavras para eles [os funcionários]. Não há coração que aguente quando te perguntam se haverá dinheiro para pagar os salários. Estão solidários connosco, mas custa», disse ainda Leonel Pereira.

 

 

O setor da noite – que inclui bares e discotecas – também tem sofrido com as alterações que a pandemia trouxe à vida em sociedade. Miguel Gião, dono do bar “Columbus”, em Faro, resumiu numa frase a grande exigência deste protesto: «ou nos dão condições para trabalhar ou fechamos e pagam-nos. Assim não pode ser».

Um dos momentos mais quentes da manifestação deu-se quando Rogério Bacalhau subiu ao palco para falar. O autarca agradeceu a tenacidade do empresários e «tudo o que fizeram nos últimos anos», mas também aproveitou para pedir que continuem os esforços para manter as portas abertas.

Na plateia, ouviram-se apupos e gritos: «já não conseguimos mais!». De resto, apesar de os ânimos se terem mantido calmos durante toda a manifestação, foram-se ouvindo, aqui e ali, algumas palavras de maior incentivo à violência para com a classe política.

Depois de um minuto de silêncio e de se ter cantado o hino, a manifestação terminou, já perto das 13h00, hora de recolher obrigatório em Faro, um dos concelhos de alto risco.

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

 

 

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