Batata Doce de Aljezur tem loja online e negoceia contrato com grande distribuição

Este ano, o Festival da Batata Doce de Aljezur decorre online

Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

«Não será a mesma coisa» que nos outros anos, mas nem a pandemia de Covid-19 impedirá Aljezur de fazer um festival da batata doce, desta vez só em versão digital, para marcar posição e garantir que este ícone local volte a andar (literalmente) nas bocas dos portugueses.

O Festival da Batata Doce de Aljezur vai decorrer online a partir de hoje, sexta-feira, dia 27 de Novembro, e até ao dia 8 de Dezembro, aliando a necessidade de segurança imposta pela pandemia ao estímulo da economia local.

Ao mesmo tempo, serão satisfeitas as expetativas daqueles que não dispensam a batata doce da variedade Lira, típica deste concelho da Costa Vicentina e detentora de Indicação Geográfica Protegida (IGP).

Isto significa que quem quiser comprar a batata doce aljezurense, poderá fazê-lo numa loja virtual, que está disponível no site da Cãmara Municipal de Aljezur e na plataforma Dott.pt já a partir de hoje, dia 27, e ter o produto entregue à sua porta «num curto espaço de tempo».

Esta foi a solução encontrada pela Câmara e pela Associação de Produtores de Batata Doce de Aljezur para assinalar as datas em que, num ano normal, se realizaria este certame, que atrai dezenas de milhar de pessoas ao concelho.

O festival não deixa de se realizar, mas a componente física, essa, revelou-se «impossível», devido à evolução da situação epidemiológica no país e na região.

«A questão de se fazer o festival nestes moldes tem a ver com o momento que vivemos. Nós trazermos 20 ou 30 mil pessoas ao concelho de Aljezur, nesta altura, seria fantástico. Mas era impossível, não havia hipótese de o fazermos», disse ao Sul Informação José Gonçalves, presidente da Câmara de Aljezur.

«Ainda chegámos a equacionar outra modalidade para a realização do festival, que envolvia os restaurantes. Inicialmente, quando estávamos a pensar como se iria fazer, começou-se por pôr essa possibilidade e até havia restaurantes que estavam disponíveis. Mas, de facto, com o agravar da situação, constatámos que não há condições. Não podemos arriscar uma situação dessas, até porque não podemos pôr em causa a segurança das pessoas», acrescentou o autarca.

 

José Gonçalves

 

«O ano que vivemos obrigou-nos a repensar as coisas. O festival será realizado em moldes diferentes, mas, ainda assim, daremos oportunidade às pessoas de adquirir a nossa batata doce, dinamizando, desta forma, a economia local», reforçou ao nosso jornal António Carvalho, vereador da Câmara que assume mais de perto a organização do festival.

«A nossa aposta foi essa: tornar a venda de batata doce digital», afirmou.

Ainda assim, aqueles que, ano após ano, não dispensam fazer a viagem até Aljezur, serão bem vindos.

«Paralelamente, também estamos a convidar as pessoas a vir aos nossos restaurantes, para poderem degustar este produto nalguns pratos típicos que a nossa restauração apresenta», segundo António Carvalho.

«Temos consciência que o impacto económico que este modelo terá será muito inferior ao de outros anos, mas achamos que é importante continuar a assinalar e a marcar esta data, porque era quando o festival aconteceria, num ano normal», disse, ainda, o vereador.

Uma visão partilhada por Manuel Marreiros, presidente da Associação de Produtores de Batata Doce de Aljezur.

«A edição deste ano será minimalista, como é óbvio. Acima de tudo, o que se pretende é dizer que estamos presentes, que a nossa batata doce está aí e que qualquer pessoa a pode adquirir, neste caso, usufruindo das facilidades que nos proporcionam as plataformas eletrónicas», resumiu ao Sul Informação o dirigente associativo.

E, neste caso, até há uma vantagem, uma vez que, sendo uma loja online, o produto torna-se acessível, também, para quem está mais distante.

«Vamos conseguir chegar mais longe do que quando fazemos o festival, porque os custos serão os mesmos para um consumidor de Faro e um do Porto, por exemplo», disse Manuel Marreiros.

«A pandemia acabou por gerar algumas oportunidades de negócio, alguns dos quais, principalmente os online, têm crescido muito, devido às restrições de mobilidade que estão em vigor e ao facto de as pessoas já estarem mais familiarizadas com este tipo de mercado», acrescentou.

Manuel Marreiros garante que as batatas que chegarão à casa de quem as comprar online, «em termos de qualidade, da preocupação em enviar o produto em condições e bem calibrado, não têm nada a ver com o que vemos em algumas superfícies comerciais. As pessoas podem pedir os quilos que quiserem. Obviamente que, quanto menos quantidade, mais caro ficará por quilo».

 

Manuel Marreiros – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

«A nossa batata doce poderá ser entregue em qualquer ponto do país. E isso está a refletir-se na comunicação que estamos a fazer do festival, este ano. Normalmente, focávamos a nossa comunicação do Tejo para baixo, mas, em 2020, estamos a alargar mais um pouco e estamos a apostar também em meios de comunicação social nacionais, de modo a que toda a gente possa perceber que poderá, em qualquer ponto do país, fazer uma encomenda da nossa batata, com Indicação Geográfica Protegida», considerou, por seu lado, António Carvalho.

E não será apenas durante uma semana e meia que isto vai acontecer. «A ideia passa por manter a loja online por mais tempo. Queremos publicitar essa loja agora durante o festival da batata doce, mas mantê-la ativa nos próximos tempos».

Ou seja, a parceria que foi estabelecida com a associação, que também envolve os CTT, «vai prolongar-se, pelo menos, enquanto a batata doce estiver em condições de ser comercializada desta forma e será mais um instrumento para poder tentar escoar o produto, este ano».

Em 2020, a produção de batata doce da variedade Lira deverá «andar à volta das 20 ou 30 toneladas», números semelhantes ao ano passado.

Tendo em conta que, num ano normal, se vendem durante o festival «20 a 25 toneladas», percebe-se bem a importância que o certame tem para os que produzem este produto de excelência reconhecida e muito apreciado.

Desta forma, a associação já está no terreno à procura de alternativas.

«Não havendo o festival nos moldes tradicionais, estamos também a procurar outros canais de escoamento. Vamos, em princípio, fazer um contrato com uma grande distribuidora e penso que as batatas não ficarão no armazém e chegarão à casa das pessoas», disse Manuel Marreiros.

«Serão vendidas com uma apresentação mais cuidada, numa embalagem de cartão. Entrarão no circuito gourmet».

Caso se confirme este acordo, «a nossa dificuldade até vai ser ter batata para vender no festival (risos)».

 

 

Entretanto, o presidente da Câmara de Aljezur também tem estado ativo na promoção deste produto local.

«A Câmara de Aljezur está a adquirir batata doce para completar os cabazes de Natal que temos para os funcionários, e não só, e já desafiei os meus colegas, na AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, a fazer o mesmo e a comprar à associação», disse o edil aljezurense.

Apesar da vertente de comercialização da batata doce parecer bem encaminhada, com a versão online do festival e o potencial acordo com a grande distribuição, a não realização do evento nos moldes tradicionais não deixa de ser um rombo para outros produtores locais e para artesãos.

No caso dos outros produtores, poderão, em breve, beneficiar do sistema de venda online que será criado para o festival.

«O intuito é evoluir, mais tarde, para uma loja que possa representar alguns dos produtos locais, como o mel, os enchidos e outros. Essa é uma questão para avançar um pouco mais para a frente, no próximo ano», revelou António Carvalho.

Quanto aos artesãos, que também são presença regular no festival, tentou encontrar-se uma alternativa, mas não será possível avançar.

«Tínhamos um desenho anterior que previa a criação de um circuito, em alguns espaços da Câmara e que outras pessoas estavam dispostas a alugar, que cederíamos aos artesãos. Mas isso acabou por não ser possível, devido à evolução da pandemia. Ainda equacionámos fazê-lo aqui online, mas tudo isto tem um custo muito elevado e demonstrou não ser exequível», contou.

«A batata doce é um ícone importante do território de Aljezur e da economia local. Portanto, acaba sempre por ser uma alegria celebrá-la, ainda que também haja aqui um sentimento de muita tristeza. Acho que é um sentimento que todos temos, porque estamos muito condicionados na nossa vivência. Mas, aquilo que pudermos celebrar, vamos fazê-lo», rematou o vereador da Câmara de Aljezur.

 

 

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