Museu de Olhão enche-se de 325 anos de devoção a N. S. do Rosário

Museu acolherá exposição comemorativa dos 325 anos da criação da paróquia e da freguesia de Olhão

Foto: Hugo Rodrigues|Sul Informação

São já 325 anos de devoção a Nossa Senhora do Rosário e do aprofundar da ligação entre uma comunidade historicamente ligada à pesca e a sua padroeira, que há mais de três séculos levou à criação de uma nova paróquia, a de Olhão.

O Museu de Olhão, situado no antigo edifício do Compromisso Marítimo, vai receber a partir de domingo e durante «pelo menos, um ano», uma exposição de comemoração dos 325 anos da criação da paróquia e da freguesia de Olhão.

«A exposição resulta da vontade da paróquia, nomeadamente do padre Armando Amâncio, em comemorar os 325 anos. Depois de uma primeira reunião com o padre Armando, chamou-se o Arquivo Municipal e o museu no sentido de ver o que se poderia ter aqui em exposição», explicou ao Sul Informação Gracinda Rendeiro, vereadora da Câmara de Olhão.

E depressa se percebeu que havia muito material para montar uma exposição.

Ao longo de mais de três séculos, os olhanenses deram contributos decisivos para o reconhecimento da paróquia de Olhão, para a construção da Igreja Matriz, batizada com o nome da padroeira e para a acumulação de um vasto espólio, decorrente das dádivas e dos contributos dos fiéis, que vai desde paramentos e livros seculares a baixela em metais preciosos, sem esquecer o “Tesouro da Santa”, que acompanha a imagem de Nossa Senhora do Rosário que sai à rua nas procissões.

A partir de domingo, algumas das peças mais emblemáticas e mais interessantes deste espólio poderão ser vistas no Museu de Olhão.

«Na sala introdutória, vamos ter três peças. Desde logo um conjunto de tábuas que descobrimos e que estavam quase escondidas na Igreja, às quais as pessoas não tinham acesso. Nós restaurámo-las e vai ser possível visitá-las. Vamos ter também um ex-voto, que também estava de alguma forma escondido. É uma embarcação com pormenores fabulosos, que foi o agradecimento por parte de alguém à santa. Vale a pena a visita», descreveu ao nosso jornal Hugo Oliveira, responsável pelo Museu de Olhão.

 

Foto: Hugo Rodrigues|Sul Informação

 

O ex-libris desta primeira sala será, ainda assim, a figura principal de Nossa senhora do Rosário, que ali ficará exposta. Também vai aqui estar aqui, «por tempo limitado», o chamado Tesouro da Santa, as peças que acompanham a imagem da padroeira de Olhão durante a procissão.

«O Tesouro vai estar aqui apenas em datas específicas, depois vai retornar. Vai estar agora na inauguração e depois, provavelmente, na altura do Natal. Mais à frente, também será mostrado amiúde. Normalmente, estas peças só são vistas na procissão, uma vez por ano. Aqui, as pesosas podem ver com mais calma.», acrescentou o responsável pelo espaço museológico.

Já a segunda sala será dedicada à arte sacra. Nela poderão ser vistas quadros, paramentos e alfaias litúrgicas, várias imagens da cruz e ourivesaria.

As peças que poderão ser vistas a partir de domingo pertencem à Paróquia de Olhão, mas chegam ao olhos do grande público após todo um trabalho de inventariação e restauro, garantido pelas equipas do Museu e do Arquivo Municipal.

Muitas das peças foram recolhidas pelo padre Luís Gonzaga, mas acabaram por ficar guardadas num local sem as condições necessárias, o que fez com que, em alguns casos, estivessem já muito degradadas quando chegaram às mãos dos técnicos do Museu.

«Quero salientar que a nossa equipa teve muito trabalho para recuperar as peças que vão estar aqui. Algumas, nomeadamente o missal, estavam num estado de degradação já muito avançado. O trabalho realizado por eles merece ser visto», afirmou Gracinda Rendeiro.

«Uma das grandes dificuldades que tivemos foi ao nível dos tecidos. Tivemos que recuperar quase fio a fio os paramentos utilizados nas homilias. Tivemos que recuperar os tais missais, que também já estavam num estado de degradação muito avançado. E, depois, todas as peças em madeira, em talha dourada, bem como os metais, a nível de pratas e até dourados, teve que ser tudo recuperado», descreveu, por seu lado, Hugo Oliveira.

 

Foto: Hugo Rodrigues|Sul Informação

 

«Esta exposição mostra, por um lado, a vontade das pessoas em doarem alguns objetos à igreja, por força de benesses, promessas que tenham feito, mas também ao nível dos próprios serviços das homilia. São peças que foram sendo coletadas ao longo do tempo. A mais antiga data ainda do início do século XVIII. É uma peça muito simples, feita por alguém, provavelmente um pescador, como agradecimento. Vamos dar destaque a esse tipo de peças», acrescentou.

Hugo Oliveira revela, de resto, que o facto de Olhão ser uma terra de pescadores «é notório nas peças que vão estar expostas», com os motivos marítimos a dominar as ofertas que eram feitas pelos fiéis.

Além deste trabalho de recuperação das peças que irão estar em exposição, também foi feito um trabalho de recolha e inventariação do espólio documental da paróquia.

«O Arquivo Municipal foi chamado a participar, numa primeira fase, com o objetivo de inventariar e tratar o arquivo da paróquia, que estava num estado de conservação muito satisfatório, mas guardado e sem se saber o que lá existia. Desta forma, nós, os técnicos do arquivo, procedemos ao tratamento e à digitalização do fundo documental da paróquia. Oportunamente será divulgado e sairá uma publicação, um inventário, para dar a conhecer aos investigadores», explicou ao Sul Informação Helena Vinagre, a responsável pelo arquivo da Câmara de Olhão.

Entre a documentação encontrada, destaca-se «um alvará régio, em que os habitantes de Olhão fazem um pedido ao rei para que a feira de Olhão passe a ser feira franca. Desta forma, ficámos a saber que, naquela altura, na segunda metade do século XVIII, já existia a Feira de Olhão, que já se chamava de São Miguel».

«O que também é curioso é que os habitantes de Olhão pedem para que seja feita a 28, 29 e 30 de Setembro. E ainda hoje é nessa data.Esse é um documento muito interessante, que desconhecíamos totalmente. Aliás, andávamos à procura dessa resposta já há algum tempo», acrescentou a arquivista.

«Depois, temos um documento também interessante, mas muito mais recente, já de 1983, em que o bispado concede a passagem da paróquia da Culatra para a jurisdição aqui de Olhão – pertencia a Faro, como é óbvio. Isso para os olhanenses é sempre motivo de satisfação», rematou Helena Vinagre.

 

Helena Vinagre, Gracinda Rendeiro e Hugo Oliveira – Foto: Hugo Rodrigues|Sul Informação

 

À luz do trabalho que foi feito, Gracinda Rendeiro não poupa elogios às equipas do museu e do arquivo, nas quais a Câmara «tem estado a apostar».

«Só tenho que agradecer a estas duas equipas e aqueles que têm trabalhado comigo porque realmente que são jovens que não são de Olhão e que tem estado a colocar os serviços no mapa de Olhão e não só», afirmou a vereadora da Câmara de Olhão.

E o investimento nestes dois serviços é para continuar.

«Vamos ter instalações de conservação e restauro novas, resultantes da vontade do executivo em dotar o museu de um serviço, de uma valência que não tínhamos. Antes, tínhamos que contratualizar fora. Portanto, há aqui também um investimento do executivo, nesse sentido, em melhorar as condições do próprio serviço», ilustrou Hugo Oliveira.

 

 

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