Murais “à moda quarteirense” mostram a alma de um povo

Três artistas quarteirenses são responsáveis por esta obra

Dino d’Santiago e Naomi Guerreiro, do movimento “Sou Quarteira” – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

À entrada está o Dino, um filho da terra que faz sucesso pelo mundo fora. Mais à frente, umas mãos enrugadas seguram uma rede de pesca, com peixe, mas também – símbolo dos tempos – plástico, máscaras e garrafas. Vira-se a esquina e surge um barco, feito de papel, que representa a alma de um povo tão ligado ao mar. Assim são os três murais “à moda quarteirense”, inaugurados esta sexta-feira, 9 de Outubro, no novo parque de estacionamento junto ao Centro Autárquico de Quarteira.

Durante uma semana, no passado mês de Setembro, Nuno Viegas, Menau e Daniela Guerreiro juntaram-se para trabalhar dia e noite. Todos são em artistas, mas em comum, têm uma causa (ainda) maior: são de Quarteira.

«Foram sete dias sem parar, das 8h00 às 20h00», conta, sorridente, Naomi Guerreiro, ela que, não pondo as mãos na massa, também teve um papel essencial para a criação destes três murais de arte urbana que têm um nome que fica no ouvido: “À moda quarteirense”.

Naomi, também criada na cidade, é um dos rostos do “Sou Quarteira”, um movimento que recebeu um convite irrecusável da Câmara de Loulé.

«A Câmara lançou-nos o desafio de fazer estes murais e nós agarramo-lo. Pensámos nos artistas para pintar e escolhemo-los. Chegámos a querer trazer alguém internacional, mas Quarteira é tão rica que temos cá um artista internacional: o Nuno Viegas. Foram os três perfeitos para este projeto que, espero, é apenas o primeiro de muitos», explica.

 

Mural pintado por Daniela Guerreiro – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

É que Quarteira, que acolhe tanta gente de tantas nacionalidades, tem «um potencial muito grande» na arte urbana, defende Naomi. «Há outras cidades com um desenvolvimento tão grande nesta área. Há quase um turismo para este tipo de arte que também podemos exponenciar», considera.

Vítor Aleixo, presidente da Câmara de Loulé, presente na inauguração, não escondia o entusiasmo por ver terminada uma obra que fez questão de visitar ao longo da sua conceção para ver, in loco, o trabalho dos artistas.

«Quarteira, nos últimos anos, tem-se qualificado e elevado o seu nível. Precisava de um bom pontapé de saída para uma forma de expressão artística urbana que, aqui, faz todo o sentido. Se há terra cosmopolita, aberta às ideias globais, é Quarteira», disse.

Para o autarca, estes três murais, que representam um investimento de 32 mil euros, com apoio do CRESC Algarve2020, faziam falta: «provavelmente, até se abriu aqui um caminho novo no que diz respeito à requalificação das ruas nesta cidade».

Mas, palavra aos artistas: Daniela Guerreiro, Menau e Nuno Viegas, os três quarteirenses que pintaram os murais que são tanto uma ode à cidade que os viu crescer, como um alerta para temas fulcrais da atualidade.

 

Mural pintado por Nuno Viegas – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

Daniela, artista que tem dado cartas no mundo da arte urbana, conta que, nesta obra, quis retratar «o problema da poluição».

«Quando penso em Quarteira, a primeira coisa que me vem ao pensamento é este mar que tem de ser preservado. É uma mensagem de cá para todo o lado. Decidi retratar este tema para me lembrar sempre de onde vim e dos cuidados que temos de ter», atira.

Nuno Viegas, por sua vez, fala das luvas de latex que pintou (símbolo do mundo do graffiti de onde vem), mas também do barco, feito de papel, «alusivo a Quarteira».

Já Menau decidiu retratar o seu conterrâneo Dino d’Santiago, pegando numa fotografia tirada ao cantor durante a recente manifestação Black Lives Matter. «Ele é, para mim, a cara da nova revolução portuguesa – tem um papel no panorama nacional e tem braço para combater as lutas que estão para vir», explica.

Nascido em Cabo Verde, mas criado em Quarteira, Dino d’Santiago nunca negou esta ligação quase umbilical ao Algarve. Tem feito sucesso pelo mundo, mas é a Quarteira que sempre volta. Foi o que aconteceu esta sexta-feira: o cantor não faltou à inauguração destes murais – nem escondeu a emoção pelo momento.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

«Já recebi tanta coisa no país e até fora, prémios de relevo, mas ver esta homenagem, estar ali representado, foi o melhor que me aconteceu até hoje», disse.

Ele, que também faz parte do “Sou Quarteira”, vê este «movimento a elevar-se cada vez mais». «Nós fizemos estes três murais só com artistas da nossa cidade e nem todas podem dizer o mesmo. Nós podemos gritar o talento quarteirense!».

«Para mim, isto é uma bênção. Imagina estar lá fora e poder mostrar: olha, isto está a acontecer na minha terra, com artistas locais. É um motivo de orgulho e inspiração. Quando quiserem saber quem eu sou, cheguem a Quarteira e há uma árvore onde brotam mil Dinos. É uma cidade que emana talento e é isso que me tem dado forças para continuar», conclui.

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

 

 

 

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