Estes “môces” criaram uma associação para ajudar os “esquecidos” da sociedade

Projeto piloto está a decorrer com uma comunidade cigana de Boliqueime

Maria Lopes (ao meio) – Foto: Associação Môçes

Mário Silva e Maria Lopes são um casal que, depois do período de confinamento vivido no Brasil devido à Covid-19, decidiu regressar ao Algarve com uma missão: ajudar populações desfavorecidas, como ciganos ou toxicodependentes. Para isso, criaram a associação “Môçes”, com sede em Santa Bárbara de Nexe (Faro), que, através do ensino de técnicas, como a empreita e o crochê, quer «dar uma nova vida a quem mais precisa». 

Apesar de algarvios, a ideia destes dois jovens nasceu bem longe da região. Foi durante uma viagem pela América do Sul que, de uma necessidade, nasceu uma oportunidade.

«Estávamos no Brasil e tivemos a necessidade de criar qualquer coisa para podermos continuar a viagem. O Brasil tem muito isso: feiras, jovens a vender artesanato na rua, na praia, e pensámos: por que não fazemos nós qualquer coisa?», conta Maria Lopes.

O crochê foi a arte encontrada para começarem a desenvolver os seus próprios produtos. Em primeiro, nasceu a loja online “Água na Boca”, com peças de roupa, que evoluiu depois para a associação, porque «faltava a parte social de todo este trabalho».

«Por mais dores de cabeça que tivesse dado no início, fui insistindo e a coisa ficou. Eu, por exemplo, já estou a desenvolver mais a técnica e quero continuar cada vez mais», explica Maria.

 

Foto: Associação Môçes

 

São esses ensinamentos que Maria e Mário já estão a passar a uma pequena comunidade cigana, uma «franja da sociedade muitas vezes esquecida».

«Neste momento, está a decorrer o projeto piloto, com o qual começámos a associação, e temos trabalhado com jovens ciganas de Boliqueime, ensinando-lhes crochê», conta Mário.

Duas vezes por semana, o casal vai ter com esta comunidade e a evolução tem sido notória. «Já estão autónomas e tem sido muito bom porque notamos que é algo que lhes faz bem», diz, entusiasmado, Mário Silva.

Com estas pessoas, o objetivo é fazer uma «grande manta, em crochê». Aliás, no futuro, o intuito de tudo o que a associação fizer é vender «as peças, numa plataforma online, com parte dos lucros a serem usados para que os jovens possam reinvestir o dinheiro para continuarem a sua formação».

Em todo este trabalho, a associação “Môçes” tem contado com o apoio da Casulo, uma incubadora da Fundação António Aleixo, em Loulé.

«São eles que nos têm apoiado, nomeadamente em contactos, porque queremos fazer parcerias com associações que representam, de certa forma, franjas da população que são postas de lado», conta Mário.

 

Foto: Associação Môçes

 

É que, depois deste projeto piloto com a comunidade cigana de Boliqueime, já há mais ideias na calha.

«No fundo, desejamos trabalhar com todos os grupos considerados de risco: jovens com deficiências, de orfanatos, com dificuldade de aprendizagem em escolas, mulheres vítimas de violência doméstica, refugiados ou toxicodependentes», exemplifica Maria Lopes.

Para tal, além do crochê, o objetivo é explorar outras «técnicas mais ancestrais, como a empreita, a latoaria, a olaria ou a cerâmica», fazendo «formações nessas áreas». «Ainda não temos nada fechado, mas temos muito a explorar», resume.

«O que queremos é dar uma nova vida às pessoas e também à própria arte que tende a cair em esquecimento e é mais conotada só com as nossas avós. O objetivo mesmo é mudar a vida de pessoas que vêm de meios mais desfavorecidos. Ou, pelo menos, encaminhá-las», conclui Mário Silva.

 

 

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