18 milhões de euros fazem nascer Central Fotovoltaica de Paderne na zona do Escarpão

Instalação da central permitiu redescobrir entrada do Algar do Escarpão

O presidente da Câmara de Albufeira com o diretor-geral do fundo NextPower III – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Um parque solar de 17,4 MWp, com um total de 39.564 painéis, capacidade de produção anual de 29.6 GWh de energia elétrica que permitirá abastecer 8450 habitações e evitar a emissão de 9.620 toneladas de CO2 por ano, numa área de 28 hectares, representando um investimento de 18 milhões de euros.

Estes são, em resumo, os dados da Central Fotovoltaica de Paderne, situada na zona do Escarpão, que será a primeira operação em Portugal, aliás, a primeira na Europa, fora do Reino Unido e de Itália, da NextEnergy Capital, empresa de gestão de investimentos e ativos no setor das energias renováveis, através do fundo NextPower III.

O projeto foi divulgado esta sexta-feira, dia 23, com o lançamento da primeira pedra no terreno onde será construída a futura central.

Filinto Martins, diretor-geral do fundo NextPower III (NextEnergy Capital), anunciou que o parque solar entra em construção ainda este ano e estará operacional «no terceiro trimestre de 2021».

«Há alguma imprevisibilidade em relação ao tempo de construção, tendo em conta a atual situação de pandemia, que pode implicar algumas restrições no movimento de mercadorias», acrescentou. Por isso, está a ser avançado o prazo alargado de um ano de construção até a central entrar em funcionamento.

«Este investimento na Central Fotovoltaica de Paderne permite à NextEnergy reforçar a sua presença global e concretizar a primeira operação em Portugal, um país com elevado potencial de crescimento na produção de energia solar e uma aposta da empresa para futuros investimentos. Por outro lado, não menos importante, trata-se de um projeto que contribui para o desenvolvimento económico e sustentável da região do Algarve», disse ainda Filinto Martins.

O diretor-geral do fundo NextPower III fez ainda questão de sublinhar que «a instalação deste parque não tem qualquer tipo de subsidiação do Estado. É inteiramente investimento privado, que irá buscar as suas receitas à venda de energia à rede. Este parque prova que é possível instalar uma central fotovoltaica sem necessidade de, ao nível da receita, recorrer a subsídios ou a apoios de natureza fiscal». Aliás, frisou, «este parque terá a sua derrama para o município».

O único «factor de risco», admitiu aquele responsável, tem a ver com a volatilidade da situação económica. «A venda de eletricidade é imprevisível, já que, com a pandemia de Covid-19, o consumo de eletricidade baixou. Mas esta é uma operação de longo prazo».

 

José Carlos Rolo, presidente da Câmara de Albufeira, também presente no lançamento da primeira pedra, destacou a importância do investimento para o concelho, mas também para a região e para o país. «Temos de olhar cada vez mais para as potencialidades do nosso território, colocando-nos ao lado de investimentos como este, que constituem uma mais-valia».

O autarca, que confessou a sua «grande simpatia para com este tipo de energias», revelou ainda que a empresa promotora vai ser responsável pela instalação de uma central fotovoltaica para autoconsumo, no quartel dos Bombeiros Voluntários de Albufeira. Este equipamento é uma oferta da empresa.

Mas não é só ao nível da produção de energia renovável que o projeto traz benefícios. Para já, a central vai começar a ser instalada na zona do Escarpão, um planalto calcário escavado por pedreiras e que, durante décadas, foi local de lixeira e colocação de aterros. Nos últimos anos, esta vasta zona com cerca de 300 hectares tem vindo a ser alvo de um projeto de reabilitação ambiental e recuperação paisagística, até porque se trata de uma área importante de infiltração de águas do aquífero Querença-Silves. A instalação de centrais de energias renováveis estava prevista no plano de reabilitação.

 

Além disso, Miguel Ornelas, da empresa Azimuth Molecule, uma das promotoras do projeto, revelou ao Sul Informação, que os estudos para instalação da central permitiram relocalizar a entrada do Algar do Escarpão, uma gruta vertical com dois níveis e com um lençol freático ativo.

«Nós tínhamos que tentar localizar a entrada do algar, que se pensava que teria ficado tapada quando aqui foram colocadas as terras da construção da Marina de Albufeira. Tínhamos de tentar, mas não éramos obrigados a localizar. Mas conseguimos isso, com a ajuda de um espeleólogo, que se lembrava de lá ter estado antes de isto estar cheio de terras de aterro». A entrada do Algar do Escarpão, adiantou, será agora protegida.

Com este projeto e dados os ativos solares operacionais e em construção, o portefólio do fundo de investimento NextPower III aumenta a sua diversificação e alcança os 335 MWp de capacidade instalada, em «perto de 200 centrais pelo mundo todo».

«A nossa estratégia de investimento baseia-se na aquisição de projetos de energia solar operacionais ou prontos para construção, em mercados de elevado crescimento como os Estados Unidos, a Índia, a América Latina e a Europa», explicou Filinto Martins.

Neste caso, o projeto foi adquirido às empresas Azimuth Molecule e Cardinal Flexível, beneficiando de um contrato de compra de energia pelo prazo de dez anos. A central em si deverá manter-se operacional durante 30 anos.

O diretor-geral acrescenta que, «pelas condições de irradiação solar, a Península Ibérica é um mercado-chave para o qual temos um plano de crescimento definido, que nos permitirá fechar novos projetos de investimento até final do ano». Este, perto de Paderne, é o primeiro em toda a Península Ibérica. Mas, como anunciou Filinto Martins, «até ao final do ano teremos pelo menos mais uma central em Portugal, talvez também no Algarve».

«O Algarve poderia ser a melhor zona de produção de energia fotovoltaica de toda a Europa. É até melhor que o Alentejo», que tem o problema das elevadas temperaturas, que fazem com que algumas das centrais lá instaladas «estejam paradas no Verão».

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

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