Depois de medronho e água, agora também há vinho em Monchique

Carlos Gracias vai produzir o primeiro vinho regional do Algarve de Monchique

Monchique é conhecida pelo medronho e pela água, mas pode também vir a ser conhecida pelo vinho. O empresário Carlos Gracias, que vai lançar no mercado, daqui a cerca de um ano, o “Terraços da Fóia”, acredita que isso pode acontecer.

Foi em dia de vindima que o Sul Informação foi à Quinta de São Francisco, na encosta Norte da Fóia, para acompanhar a colheita das uvas da casta tinta-roriz, que dará origem às primeiras garrafas do “Terraços da Fóia” tinto, produzido pela empresa Sul Composto.

A vinha já existia, mas «foi danificada pelo fogo de 2018», conta Carlos Gracias. Então, os proprietários, «que foram os primeiros exploradores, abandonaram-na. O engenheiro Manuel Romão ficou com os direitos desta vinha, mas a exploração ficou a nosso cargo. É uma parceria em associação com a família Semedo, o engenheiro Manuel Romão e a Sul Composto».

 

Dia de Vindima

Os primeiro vinho «nunca estará disponível antes do ano que vem, em Setembro. Será um vinho complexo, de altitude, com taninos muito vivos. Vai ter de amadurar em madeira, onde fará as duas fermentações. Vamos aguardar como evolui. Pretende-se que seja um produto de excelência».

Também pelo facto de a produção ser pequena, uma vez que poderá dar «500 ou 600 garrafas, vamos ter de pôr o vinho num patamar superior. É essa a ideia».

A cepas de tinta-roriz já estavam plantadas, mas Carlos Gracias quer inovar e plantou também a casta riesling, que dará origem, no futuro, a um “Terraços da Fóia” branco.

«Será um vinho branco de altitude, que irá buscar os terroirs da Alsácia, do nicho franco-alemão do Vale do Reno», adianta Carlos Gracias.

Segundo o empresário, «só há quatro ou cinco produtores a fazer vinho com riesling em Portugal. É um projeto inovador, vamos ver como se vão adaptar as plantas. Se se adaptarem bem, como parece que está a acontecer, penso que teremos aqui uma produção interessante. Não em termos de quantidade, mas de qualidade».

 

 

Ainda assim, para que esse branco chegue aos consumidores, a espera será maior. «Penso que só daqui a dois anos teremos produção para apreciar os primeiros vinhos brancos» produzidos na Fóia.

A relação de Monchique com a produção vitivinícola não é conhecida, mas, segundo Carlos Gracias, ela existe: «eu próprio tinha a ideia que não havia vinhas e vinhos em Monchique, mas fiz um trabalho de pesquisa em documentos camarários do século XIX, e fala-se de gado, pastagens, fruta e da vinha como uma atividade. Além disso, em conversa com pessoas locais, descobri que há produtores com pequenas vinhas para autoconsumo que fazem vinhos e parece que são interessantes».

Por tudo isto, Carlos Gracias acredita que pode nascer um nicho de produção de vinhos de altitude em Monchique. «Se resultar, se houver êxito, pela especificidade, poderá haver um crescimento brutal. Mais produtores virão. Nada é fechado, as pessoas entusiasmam-se com as ideias e haverá experts de todo o lado a querer provar o vinho e aparecerão novos produtores a instalar-se e a fazer também vinho do concelho de Monchique».

 

 

Mas a Sul Composto não está só em Monchique e até já tem marcas no mercado.

A empresa «apareceu para potenciar a experiência que adquiri, nos últimos anos, no setor vitivinícola e para não perder o know-how, o conhecimento e os contactos que fiz nos últimos anos», conta Carlos Gracias, que presidiu à Comissão Vitivinícola do Algarve, até 2019.

A Sul Composto tem mais quatro marcas registadas, além da “Terraços da Fóia”: «a Al-Mudd, com vinhos feitos com uvas exclusivas do Algarve, próprias ou compradas, a Al-Olea, de azeites com origem no Algarve, o Burgau, a partir de uma vinha plantada e desenvolvida no Burgau, com Sauvignon Blanc, e depois a há a marca Calhou, que vai produzir vinhos de várias regiões vitivinícolas. O objetivo é que seja, por exemplo, o vinho “Calhou na Beira Interior”, ou “Calhou na Bairrada”», explica Carlos Gracias.

 

Carlos Gracias com a vinha reisling

 

Sobre o escoamento dos vinhos, o empresário não está muito preocupado, uma vez que, «como as produções são pequenas, penso que irá criar uma curiosidade tão grande, que não será difícil vender».

Ainda assim, explica, «já tenho contactos com distribuidores e já tenho vinhos nos Intermarchés, os Al-Mudd».

Mas a ideia é também a criação de uma loja física. «Queremos abrir uma loja em Portimão, que tenha como foco a comercialização dos nossos vinhos e produtos regionais, com parcerias ponto a ponto, produto a produto. Não nos interessa produtos massificados. Queremos produtos do Algarve. E não quero entrar em competição com outras lojas, quero marcar um caráter diferenciador», conclui.

 

Fotos: Flávio Costa | Sul Informação

 

 

 

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