Prioridades e aspirações dos Millennials

Existe uma oportunidade genuína para os líderes, sejam de governos, de empresas ou de outras organizações, de capturar os corações e as mentes das novas gerações

Vive-se cada vez mais na incerteza, que afeta, e muito, aquelas que são as prioridades e aspirações da geração dos Millennials.

A geração Millennials são os jovens nascidos entre 1980 e 1996. Num espaço de 10 anos, enfrentam agora a segunda crise económica das suas vidas, crise essa que pode, infelizmente, pôr em causa, mais uma vez, as suas ambições pessoais.

O Laboratório Colaborativo Para o Trabalho, Emprego e Proteção Social, no seu mais recente estudo, designado «Trabalho e Desigualdades no Grande Confinamento – perda de rendimento e transição para o teletrabalho», é unânime unânime numa conclusão: são os jovens os mais ameaçados pelo desemprego e pela pobreza que advém das crises económicas.

Mas vamos às prioridades e aspirações dos Millennials.

De acordo com o questionário The Deloitte Global Millennial Survey 2019, num universo de 13.416 jovens inquiridos, 57% referenciaram que tinham como prioridade viajar pelo mundo, 52% dos inquiridos afirmaram que tinham como aspiração ter um bom salário e gerar riqueza, 49% gostariam de comprar casa própria, 46% gostariam de trabalhar em organizações que criassem impacto positivo na sua comunidade e na sociedade e, por fim, 39% dos inquiridos afirmaram ter como prioridade constituir família e ter filhos.

Com o atual contexto económico de crise, e com uma crónica precariedade laboral acomodada no mercado de trabalho, é certo que estas prioridades e aspirações acima mencionadas irão percentualmente reduzir-se e muitos destes jovens irão começar (é expectável que o façam) a pôr algumas poupanças de lado todos os meses. Isto remete-nos para algo preocupante e que é muito
estrutural e comum na nossa sociedade, que é: no geral, as famílias poupam pouco.

Se começássemos a poupar mais, porém, iríamos no imediato ter comportamentos de consumir menos. E por sua vez, essa diminuição de consumo reduziria a procura dos produtos e serviços disponíveis na economia.

Esta escassez de procura poderia levar algumas empresas a cortar ou reduzir parcialmente os preços dos seus bens ou serviços, para assim estimular os consumidores a gastar mais, mas a maioria das empresas, quando se depara com menos vendas, tende a cortar nos seus processos de produção.

Por um lado, isso implicaria igualmente comprar menos aos seus fornecedores, difundindo assim a falta de procura por toda a economia.

Por outro lado, isto implicaria despedir alguns trabalhadores e pagar menos a outros. Conclusão: o rendimento de todos iria desabar drasticamente.

Em suma, poupar é um fator importante na gestão pessoal dos rendimentos das famílias e das empresas, porém um abrupto comportamento coletivo de poupança, pode conduzir as economias a recessões profundas.

Todo o sistema anteriormente exposto provém do “paradoxo da poupança”, uma teoria económica descrita por um dos economistas mais relevantes do século XX, de seu nome John Maynard Keynes.

Mas a questão que se impõe é: será a poupança um comportamento suficiente para se manterem “vivas” as prioridades e aspirações dos Millennials? No curto-prazo, a resposta é não.

A poupança é algo que tem de ser feito de forma gradual e consistente, para assim não comprometer o longo-prazo. A poupança está equitativamente relacionada com o nível de rendimento e por isso, se existem atualmente jovens que, no geral, têm baixos rendimentos, é normal que a sua taxa de poupança seja baixa.

Não querendo apenas focar todo este assunto nos problemas, e apesar de navegarmos todos num nevoeiro cerrado e com muitas incertezas, existem algumas soluções que podem incentivar as prioridades e aspirações dos Millennials:

>Primeiro, para corrigir o desequilíbrio entre oferta e procura, é necessário que haja uma descida do custo do crédito e uma manutenção das taxas de juro implícitas em níveis relativamente baixos ou iguais às atuais;

>Em segundo lugar, é igualmente necessária uma legislação que permita aos jovens obter financiamento para uma maior percentagem do valor total para a aquisição de primeira habitação própria. Esta ideia é amplamente partilhada por muitos, basta consultar o estado de arte sobre o assunto;

>Também é necessária uma aposta musculada no empreendedorismo digital, que, para além de ter um investimento inicial e um custo das operações mais reduzidos quando comparando com negócios físicos, permitirá aproveitar as novas gerações que lidam e trabalham num ambiente digital muito mais facilmente, originando assim novas oportunidades de emprego na economia;

>No que toca às empresas e organizações, estas têm de continuar a cumprir o seu papel social, solidário e de catalisadoras da economia, algo que é valorizado pelos jovens que querem gerar um impacto positivo na sua comunidade e na sociedade;

>Por fim, e em género de resposta aos 39% de jovens que, no questionário acima, mencionaram que tinham como prioridade constituir família e ter filhos, este ponto, em especial, é um dos pilares fundamentais das economias a médio-longo prazo.
O crescimento populacional por via de mais nascimentos é essencial para assim se mitigar o enorme défice existente na economia portuguesa, entre população ativa e população reformada.
Só se consegue combater esta problemática através de soluções integradas, tais como a efetivação de uma política de natalidade holística, que contenha leis flexíveis e articuladas com especial enfoque no work-life balance.

Existe, portanto, uma oportunidade genuína para os líderes, sejam de governos, de empresas ou de outras organizações, de capturar os corações e as mentes das novas gerações, pois são elas que podem alavancar o futuro.

 

 

Autor: Ricardo Proença Gonçalves é licenciado em Gestão de Empresas e Pós Graduado em Gestão de Unidades de Saúde pela Faculdade de Economia da Universidade do Algarve.
É Assistente Financeiro no Projeto de Candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura 2027, e membro estagiário da Ordem dos Economistas – Delegação Regional do Algarve.

 

 

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