O Ensino Superior e os desafios da Covid-19

Existe, no ensino superior nacional, uma ampla capacidade de organização, de resiliência, de adaptação, de inovação, que permitirá superar os desafios que se avizinham

É difícil qualificar o período que estamos a atravessar, não só no Algarve e em Portugal, mas um pouco por todo o mundo, por efeitos da disseminação célere, imparável e global de um novo coronavírus.

Paradoxo maior da globalização, que, por essência, implica a facilidade de circulação de pessoas, de ideias, de técnicas, de mercadorias; mas também, como agora redescobrimos, de vírus!

Vivemos um período espantoso? Sem dúvida, pois causa espanto vermos as nossas sociedades abertas, de repente, retraírem-se e desacelerarem.

Surpreendente? Evidentemente, pois quem não ficou surpreendido com os acontecimentos singulares que se têm sucedido nos meses mais recentes?

Preocupante? Claro que sim, pois quem não ficará preocupado com o incerto horizonte que, nos tempos mais próximos, se estende perante nós?

Mas estamos também a atravessar um período eminentemente desafiante.

A conjuntura regional, nacional, internacional coloca-nos desafios verdadeiramente inéditos. E esses desafios têm de receber respostas inovadoras.

Vejamos um exemplo prático a nível do ensino superior. Na segunda semana de Março deste ano, a generalidade das instituições universitárias portuguesas foi repentinamente forçada a encerrar as suas portas, interrompendo todas as interacções presenciais, e assim colocando em risco o normal desenrolar do ano escolar.

Pois bem: as novas tecnologias e a capacidade organizativa, aliadas à disponibilidade e empenho das comunidades académicas, no quadro de uma atempada flexibilização normativa e legislativa, permitiram, no espaço de poucas semanas, que todos os estabelecimentos de ensino superior retomassem o funcionamento em sistema de ensino à distância.

Por todo o país, estudantes, docentes, dirigentes e funcionários, muitos deles sem grande familiaridade com o mundo da informática, readaptaram as suas formas de trabalhar, de investigar, de ensinar e/ou de estudar a novas plataformas de comunicação e interacção.

Ensino presencial e ensino à distância não são exactamente a mesma coisa, e um bom professor em contexto de aula ao vivo não mantém necessariamente as suas qualidades quando é transportado, de súbito, para um mundo de interacções mediadas por equipamentos e redes informáticas.

Mas existem práticas pedagógicas adequadas ao ensino à distância, que, no novo contexto do ensino superior, foram sendo rapidamente divulgadas e implementadas.

Foi um desafio claramente ultrapassado, que permitiu levar a bom termo o ano escolar na generalidade do sistema politécnico e universitário nacional, e que muito certamente irá provocar modificações de mais longo prazo no ensino superior.

O próximo ano escolar está já em preparação, à sombra dos constrangimentos provocados pela pandemia da Covid-19, que continuam a limitar as interacções pessoais e sociais que ainda há poucos meses considerávamos normais e imutáveis.

O futuro parece mais incerto do que nunca. Mas os meses mais recentes demonstraram claramente, talvez ao contrário do que mentes mais pessimistas poderiam adivinhar, que existe, no ensino superior nacional, uma ampla capacidade de organização, de resiliência, de adaptação, de inovação, que permitirá superar os desafios que se avizinham.

 

 

Autor: Rui Manuel Loureiro é doutorado em História e diretor do Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes, em Portimão (e escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico).

 

 



Comentários

pub