A New Light Pictures nasceu em 2013, para fazer ficção, e logo deu nas vistas com a curta-metragem “Comando”, premiada em vários festivais. No entanto, o cinema dificilmente paga contas e a produtora algarvia transformou-se numa das referências do Sul do país na produção de vídeos promocionais. Um desvio necessário num caminho que tem destino traçado: «ter uma palavra a dizer na ficção nacional».
«O projeto nasce para fazer ficção. Esse é o desígnio e o principal objetivo da produtora. Foram feitos alguns projetos no arranque, entre 2013 e 2015, como o “Comando”, que ganharam vários prémios nacionais internacionais de curtas-metragens», recorda João Viegas, um dos sócios da empresa, em conversa com o Sul Informação.
No entanto, o projeto acabou por tomar um rumo diferente quando «houve uma fusão entre New Light Pictures e Margem Filmes. Aí, começámos a dedicar-nos mais aos filmes promocionais, porque fazer filmes de ficção é muito giro, muito divertido, interessante e desafiador, mas é muito complicado ganhar a vida a fazê-lo, principalmente no Algarve», explica.
A aposta deu certo e o trabalho começou a chegar: «temos tido muito trabalho na área dos filmes promocionais, sejam institucionais, informativos ou documentais. E estes também são projetos interessantes, diferentes e desafiantes».
Destes projetos fazem parte, por exemplo, as mais recentes campanhas da Região de Turismo do Algarve ou do Turismo do Alentejo, que deixam qualquer um com vontade de conhecer melhor estas regiões.
«A nossa presença continua a ser mais regional do que nacional. Ainda assim, os projetos que fizemos para o Alentejo destruíram um pouco essa tendência. O nosso objetivo é trabalharmos a nível nacional, pelo menos. Também já começámos a ter alguns projetos internacionais. No ano passado, tivemos já um projeto interessante com a PGA Catalunha. Foi mais do que um filme, foi uma campanha com vários temas associados», conta João Viegas.
Este ano, prometia ser mais um bom ano para a New Light Pictures, mas… veio a pandemia. «Tínhamos já clientes muito interessantes, que nos iam dar essa dimensão nacional. Tínhamos um projeto transversal a todo o território, com um grupo hoteleiro. Só que, com esta situação toda, o projeto foi adiado».
Antes da Covid-19, «tínhamos quase tudo fechado para este ano. Até final do Verão, estava mais do que fechado. Tínhamos muito pouco espaço para mais alguma coisa. Não foi cancelado nem um nem dois, foram todos os projetos. Agora já começámos a recuperar e a minimizar prejuízos. Já temos alguns projetos, mas dificilmente serão suficientes para custear todo o ano».
Isto depois de um ano de 2019 que foi «muito interessante. Tivemos um filme premiado em seis ou sete festivais no Japão, Grécia, Croácia, Turquia, Portugal… Foi um filme feito para a Região de Turismo do Alentejo, sobre enoturismo».
Normalmente, neste tipo de vídeos promocionais, «começamos por estudar o cliente e o objetivo que ele tem com o filme. Com base nisso, criamos o conceito que entendemos que será eficaz para atingir esses objetivos. É com base nisso que chegamos a uma proposta e, se tudo correr bem, ao filme».
No entanto, no último filme produzido para a Região de Turismo do Algarve, o processo até foi ligeiramente diferente. «Houve uma intenção do cliente em trabalhar com estes influencers, os “explorerssaurus_“. Aí, não íamos mexer na imagem deles. Tínhamos que fazer algo que se enquadrasse naquele tema, com uma dimensão mais contemplativa e emocional».
Para João Viegas, «uma das razões do nosso sucesso é que nós não fazemos o típico filme promocional ou institucional. Tentamos sempre dar uma dimensão poética, um certo sabor, criar um ambiente sensorial, onde a experiência costuma ter o destaque principal».
Cada projeto «é um novo desafio e tentamos dar uma abordagem técnica que crie complexidade. Podemos desenhar um plano e ficarmos uma manhã inteira a fazer um plano de grua ou um plano chariot. Às vezes, para fazer um plano destes, num local que fica a um quilómetro da estrada, temos de levar tudo até lá. No final, são, se calhar, dois segundos que aparecem num filme. Para um espectador, isto é algo banal. Vemos isto cada vez que ligamos a TV ou vamos ao cinema e nós tentamos recriar isso com as nossas limitações. O nosso objetivo é ter o mesmo tipo de imagem, fotografia, correção de cor e pós produção de áudio, do que um filme de Hollywood».
Além dos vídeos promocionais, a New Light Pictures também já produziu documentários encomendados por clientes. «Fizemos alguns documentários sobre gastronomia, um sobre polvo e sobre episódios históricos, como o terramoto de 1755 e a Nossa Senhora de Faro», conta João Viegas.
Mas, vamos à ficção porque, prossegue, «o nosso grande objetivo continua a ser produção cinematográfica, não só de curtas, como de longas-metragens, e todo este trabalho acaba por ser um meio para esse fim. O facto de estarmos mais concentrados em filmes promocionais institucionais, permite-nos continuar o investimento necessário para, um dia mais tarde, começarmos essa nossa grande aventura e grande desejo de fazermos cinema que está sempre presente».
No entanto, para avançar com um projeto de ficção, «temos de assumi-lo como prejuízo. Primeiro, é difícil a nível de agenda conseguirmos combinar os trabalhos pedidos por clientes com um projeto nosso. Se estivermos um mês num projeto nosso, é um mês que não podemos faturar».
Ainda assim, revela João Viegas, «pode ser que, para o ano, consigamos fazer um projeto nosso. Temos alguns projetos já escritos, preparados para arrancar. Se não for este ano, será para o próximo».
Por seu lado, Patrício Faísca, também ele sócio da New Light Pictures e realizador dos projetos de ficção até agora lançados, esclarece que um trabalho de ficção «é um objetivo, mas não é uma prioridade. É um objetivo num futuro próximo, mas temos de reunir condições e criar uma estrutura sólida para avançar nesse sentido».
Depois de curtas-metragens como “Payload” que juntou Diogo Amaral e Vera Kolodzig, e de “Presa”, com Diogo Morgado – que serão lançadas online em breve, «com uma campanha, que nos pode dar um boost», o próximo projeto pode ser algo diferente.
«Ainda não há nada de concreto, há coisas que estão na gaveta. Mas temos que estar conscientes que as séries estão “na baila”. Por isso, o projeto de ficção tanto pode ser para o cinema, televisão ou para as novas plataformas», adianta Patrício Faísca.
«O nosso ADN é o cinema e a ficção. O nosso trabalho acabou por nos levar para a vertente da publicidade, mas não queremos perder essa chama».
A New Light Pictures não quer trabalhar «para pagar contas. Queremos um dia fazer filmes, é esse o nosso combustível», conclui Patrício Faísca.
Fotos: Nuno Costa | Sul Informação
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