Deputados querem que pacote de 300 milhões chegue depressa às empresas algarvias

Deputados da oposição também consideram que a verba deverá ser insuficiente, tendo em conta as necessidades

O pacote financeiro excecional de 300 milhões de euros para o Algarve anunciado pelo primeiro-ministro António Costa tem de começar a chegar depressa às empresas, de modo a garantir a sua sobrevivência e evitar um ainda maior aumento do desemprego.

Esta é a visão dos deputados à Assembleia da República (AR) Cristóvão Norte e de João Vasconcelos, que encabeçaram, respetivamente, as listas de PSD e do Bloco de Esquerda no Algarve nas últimas legislativas.

Os dois parlamentares da oposição transmitiram ao Sul Informação a urgência em criar mais medidas de apoio às empresas e  temem que esta verba não seja suficiente para resolver os muitos problemas causados pela pandemia, na região algarvia.

Já da parte do igualmente deputado Luís Graça, que é também o presidente do PS/Algarve, chegam elogios ao «empenho vitorioso do Primeiro-ministro António Costa no acordo histórico alcançado esta madrugada em Bruxelas pelo Conselho Europeu» e à criação de um pacote financeiro de emergência para a principal região turística do país.

«A criação de um plano específico para o Algarve de 300 milhões de euros é uma boa notícia para região, atingida de forma abrupta pelos efeitos da pandemia da Covid-19 e que permite, em conjunto com os fundos do próximo Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027, duplicar praticamente os fundos comunitários disponíveis para a qualificação e a competitividade da região», considerou o socialista, numa nota pública.

Antes, António Costa já havia dito que este dinheiro servirá para «apoiar a diversificação da economia, melhorar infraestruturas e fazer investimentos necessários no setor da saúde».

 

Luís Graça

 

Contactado pelo Sul Informação, Cristóvão Norte salientou que «não se conhece em detalhe o pacote», mas aponta a urgência que há em passar das palavras à ação.

«É preciso avançar com medidas concretas, porque por muito bons que os programas sejam, se não forem rapidamente colocados no terreno, para resposta de emergência e redinamização económica da região, o que vamos ter de reerguer é um monte de escombros», defendeu.

«O que nós entendemos é que não devemos ter um monte de escombros, devemos, isso sim, com a base que temos agora, segurar o tecido empresarial e económico ao máximo. Isso implica medidas como o lay-off e ações específicas para o Algarve para atrair investimento, antes que o desemprego se avolume ainda mais e haja uma brutal destruição de empresas», acrescentou Cristóvão Norte.

«O que nós desejamos é que o Algarve, que foi a região que sofreu mais a nível nacional, tenha um tratamento específico e que este seja suficientemente robusto para atenuar as perdas. É imperioso encontrar medidas para preservar as empresas e o emprego pelo menos até Abril de 2021, que é a altura em que é expectável que esta possam começar a recuperar», resumiu.

O deputado social-democrata, que se tem batido pela construção do novo Hospital Central do Algarve, também adivinhou nas declarações do primeiro ministro a possibilidade deste projeto ganhar um novo fôlego.

«O que a declaração parece indiciar é que o Hospital Central voltará às prioridades do Governo, o que antes não acontecia. O problema é que eu creio que o investimento num novo hospital, que é fundamental para fixar médicos e desenvolver a investigação na região, não se fará com apenas 300 milhões de euros», acredita o parlamentar social-democrata.

Apesar de confessar não ter o valor do investimento do projeto original «de cabeça», o deputado do PSD acredita que, com a capacidade de resposta que esta infraestrutura terá de dar e as exigências de uma unidade de saúde moderna, o custo da obra e do apetrechamento do novo hospital será acima deste valor.

«Penso que este é um valor exíguo para fazer face a tarefa gigantesca de diversificar a economia e, por outro lado, acorrer à necessária transformação na saúde, designadamente com a construção do Hospital Central», reforçou.

 

Cristóvão Norte

 

No que diz respeito ao pacote propriamente dito, o PSD dá «como positivo aquilo que já vimos defendendo há meses: é imperioso haver um programa específico para a região algarvia. É um bom sinal que haja concordância dos partidos políticos quanto a isto».

«Nós somos favoráveis a que haja uma maior diversificação da economia, porque o Algarve precisa de não estar tão dependente de factores exógenos, de ter uma economia mais resiliente, ancorada em recursos próprios e que seja mais plural», afirmou.

O turismo, salientou, «faz sentido que continue a ser a principal força motriz da economia da região», mas que esta «deve comportar outros setores pujantes e inovadores, designadamente o mar, as indústrias agro-florestais e outros setores económicos que têm cada vez menor expressão no Algarve e que tem de ser recuperados».

Apesar desta diversificação da economia defendida pelo primeiro-ministro «fazer sentido», na visão de Cristóvão Norte, há que ver «quais as medidas para atingir este objetivo e que incentivos serão dados».

 

João Vasconcelos

 

Já João Vasconcelos, com quem o Sul Informação também falou, considera que 300 milhões de euros «são muito pouco, tendo em conta a dimensão da crise» que a Covid-19 criou, na região.

Para o Bloco de esquerda, «este valor é muito baixo, tendo em conta o que é necessário fazer. Estamos a falar de um aumento de 230% do desemprego em Junho e do turismo praticamente paralisado».

Salientando que, «para já, não se sabe como nem quando este dinheiro será aplicado», o deputado bloquista avisa que a economia da região «não se compadece com muito tempo de espera».

«Se, neste momento, temos 30 mil desempregados, como será em Outubro e Novembro? Vai ser uma catástrofe. Precisamos de medidas imediatas e que o apoio chegue às empresas antes do Verão terminar», defendeu.

«Precisamos de medidas urgentes e de exceção. Estamos neste momento mais ou menos a meio do Verão e as empresas e os trabalhadores estão a passar dificuldades. Há um desemprego dramático e a falência de pequenas e microempresas aqui no Algarve», avisou.

Primeiro que tudo, «é preciso saber qual é o plano, quais as medidas e onde é que este dinheiro será aplicado».

Da parte do Bloco, esse planeamento foi feito.

«Nós fomos o único partido que apresentou um plano na Assembleia da República específico para o Algarve, que foi aprovado. Tem lá um conjunto de medidas. Além de apoios imediatos e urgentes, também é preciso repensar e dar um passo mais à frente, para que haja aqui uma estratégia de curto e médio prazo», lembrou o deputado bloquista.

«É necessária a reconversão económica, a aposta na saúde, o investimento na mobilidade – acabar com as desgraçadas portagens e concluir a requalificação da EN125 -, apoiar a agricultura e a pesca», concluiu João Vasconcelos.

O socialista Luís Graça, por seu lado, defendeu que este pacote de emergência de 300 milhões de euros «é uma oportunidade para em conjunto câmaras municipais, universidade do Algarve e associações empresariais convergirem com o Governo na elaboração de um plano que permita uma alteração do perfil produtivo da região, hoje completamente dependente do turismo, e o desenvolvimento de um conjunto de infraestruturas e de reforço de competências e qualificações que reforcem a resiliência da economia regional e a sustentabilidade ambiental do Algarve».

 

 

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