“Bazuca” de 300 milhões para o Algarve é «boa notícia, mas insuficiente»

Dinheiro será «muito importante» se for «usado com inteligência»

Foto: Bárbara Caetano | Sul Informação

O programa de 300 milhões de euros, anunciado pelo Governo para o Algarve, é uma «boa notícia»… que pode não chegar para a região combater a crise económica devido à Covid-19. Há quem realce o «reconhecimento» da situação execional que o Algarve vive, mas também quem fale «em migalhas».

O Sul Informação falou com associações e entidades ligadas ao turismo, empresários e um economista para obter reações sobre o programa específico de 300 milhões que foi hoje anunciado por António Costa, em Bruxelas.

Para Vítor Neto, presidente do NERA – Associação Empresarial da Região do Algarve, este dinheiro será «muito importante» se for «usado com inteligência e se houver sentido de oportunidade e capacidade de gestão».

Na opinião deste responsável, o Algarve tem um «desequilíbrio estrutural» com uma economia baseada no turismo, o que fragiliza a região. «Há anos abandonámos a terra e o mar», exemplificou.

Por isso, defende Vítor Neto, devemos usar esta verba para «reforçar a estrutura produtiva. Continuar a apostar no turismo, mas reforçar a aposta».

 

Vítor Neto

 

«300 milhões de euros é o que o Algarve recebeu no último quadro comunitário. Esta verba pode integrar-se com os outros fundos europeus que vão continuar a existir. Além disso, mais investimento público na região também traz investimento privado. Será muito importante perceber como vamos dividir as fatias do bolo. Se vamos dividir as fatias para os vários pretendentes ou se vamos usá-lo de forma integrada», disse ao Sul Informação.

«O Algarve tem 70 mil empresas, 20 mil sociedades. 3500 são sociedades no alojamento e restauração, o que significa que há muitas empresas de outros setores que são subestimadas. Temos as condições para superar esta crise, mas não é de um dia para o outro», acrescentou.

A crise da Covid-19 afetou, em especial, o setor do turismo. O próprio primeiro-ministro António Costa salientou esse facto como justificação do programa específico gizado para o Algarve, o que agradou a João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA).

 

João Fernandes

 

«Este é um sinal de reconhecimento de que o Algarve é a região mais afetada e do impacto da crise no motor da economia regional», considerou, em declarações ao Sul Informação. 

Para o líder da RTA, este programa é, «sem dúvida, uma boa notícia».

«É um pacote adicional aos 45 mil milhões, pois algum desse dinheiro também virá para o Algarve. O Governo está a trabalhar de forma suplementar – e não complementar. É de reconhecer e de saudar este esforço», considerou.

João Fernandes também revelou que a Região de Turismo está «a trabalhar com a Secretaria de Estado do Turismo e o Turismo de Portugal num programa específico para o Turismo no Algarve, que será ainda apresentado». «Este novo pacote é mais uma ajuda», disse.

Mas será suficiente?

Luís Coelho, presidente da Direção Regional da Ordem dos Economistas e professor na Universidade do Algarve, tem reticências.

 

Luís Coelho

 

«Na verdade, 300 milhões é melhor do que nada, mas a mim, enquanto economista, sabe-me a pouco», considerou ao Sul Informação.

Na opinião do economista, «é preciso ter em consideração que o Algarve tem tido, ao longo dos últimos anos, pouco investimento». «A região está a sofrer muito devido à queda do turismo e, mesmo pensando no pós-Verão, os 300 milhões são curtos», acrescentou.

Dando como exemplo dois investimentos estruturais como a construção do Hospital Central e a Barragem da Foupana, Luís Coelho disse que os 300 milhões, em princípio, «seriam logo esgotados» apenas em duas obras.

Para o professor da UAlg, a região deve pensar tanto no «curto prazo, tentando salvar a estrutura produtiva que temos ligada ao turismo», como iniciar depois «uma discussão sobre a diversificação da economia do Algarve», olhando para investimentos na «energia sustentável e no mar».

Voltando para a visão do turismo, Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), admitiu que este é «pouco dinheiro para a dimensão do problema».

 

Elidério Viegas

 

«A verba deve ser usada para garantir postos de trabalho e a recuperação da economia. Mas hoje temos uma perceção mais precisa e estes montantes parecem pouco para a dimensão do problema: representa 0,6% do total aprovado neste pacote no Conselho Europeu», explicou.

Para Elidérico Viegas, o «valor do plano específico devia ser ajustado ao PIB da região e ter em consideração os investimentos essenciais, como o Hospital, a ligação ferroviária ao Aeroporto, a eletrificação, o plano de gestão hídrica, e a construção da nova barragem».

João Soares, hoteleiro e representante no Algarve da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), também defende que o dinheiro deve ser «aplicado em apoios às empresas e na manutenção de postos de trabalho».

 

João Soares

 

«O facto de haver um pacote específico para o Algarve é uma boa notícia e é bom para começarmos a conversar. Se é bom? É melhor do que nada, é um bom princípio ter havido esta atenção com o Algarve, mas parece-me insuficiente», acrescentou.

É que, defendeu João Soares, ainda «não sabemos o que vai acontecer, se haverá recuperação a partir de Novembro, se os britânicos começarem a regressar…».

«Qualquer apoio ao Algarve é bom, mas vamos perceber para onde vai o dinheiro», disse.

 

Eliseu Correia

 

Por fim, Eliseu Correia, diretor da empresa turística algarvia EC Travel, considerou que este apoio não passa de «migalhas».

«É pouco para tudo o que precisamos. A dotação é pouca para atenuar os efeitos, no turismo, de toda esta crise. Os 300 milhões são melhor do que nada, é certo, mas parecem-me insuficientes», concluiu.

 

 

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