A amêijoa-boa é mesmo boa e Apolinário quer valorizá-la

Secretário de Estado das Pescas quer evitar que a produção de amêijoa-boa seja totalmente substuída pela produção de ostra

Aproximar os viveiristas das cadeias de distribuição e, com isso, valorizar a amêijoa-boa, um produto único da Ria Formosa. É esse o objetivo de José Apolinário, secretário de Estado das Pescas, que, esta sexta-feira, reuniu, em Olhão, representantes das principais cadeias de supermercados nacionais e produtores de amêijoa-boa, para um almoço de degustação e de aproximação comercial.

O governante explicou aos jornalistas que esta iniciativa, levada a cabo em conjunto com a Formosa – Cooperativa de Viveiristas da Ria Formosa, surge numa altura em que «é preciso valorizar o que é nosso, seja os produtos nacionais da aquicultura, da pesca, ou da agricultura».

Para José Apolinário, «existe a necessidade de facilitar contactos dos produtores com as grandes estruturas de distribuição, para que possam vender um produto muito importante na Ria Formosa. Em 2018, houve 3200 toneladas de amêijoa-boa produzida na Ria Formosa».

 

 

Apesar de este produto ser português e de elevada qualidade, nem sempre é fácil encontrá-lo nos supermercados e, muitas vezes, há amêijoa japonesa, ou vietnamita, no seu lugar, a preços muito mais baixos.

Para o secretário de Estado, esse «é um desafio que deve ser colocado à distribuição. Se a distribuição der maior informação ao consumidor e disser que a amêijoa-boa é produto nacional e qual a sua origem, é uma forma de ajudar os produtores. É nisso que estamos a trabalhar. Temos menos turismo, menos consumo e, por isso, temos de reforçar as ações de escoamento dos produtos nacionais».

Até porque, apesar de a amêijoa japonesa, por exemplo, ter «um preço mais favorável, em termos de qualidade e sabor, a amêijoa-boa é superior».

Além de esta iniciativa de valorização da amêijoa-boa ter uma vertente económica, há também uma vertente social envolvida, uma vez que «na Ria Formosa, pelo menos 2000 pessoas trabalham nesta produção. Entre Olhão, Tavira e Faro, esta é uma realidade muito importante».

Apesar de todo este incentivo, a produção de amêijoa-boa, na Ria Formosa, podia ser mais lucrativa, se houvesse menos mortalidade, uma vez que «há aqui um problema recorrente que tem a ver com as dragagens. É necessário um novo plano de dragagens para a água circular. O assoreamento é prejudicial à qualidade e aumenta a mortalidade», admite José Apolinário.

 

 

Por isso, o secretário de Estado admite a necessidade «de candidatarmos dragagens no próximo quadro comunitário». O ideal, para o governante, seria manter «um plano de dragagens permanente, com uma draga mais pequena, porque isso é necessário para a manutenção da qualidade da água».

Durante o almoço, alguns produtores queixaram-se que havia pouca amêijoa-boa e que aquela que há tem tido escoamento. No entanto, José Apolinário, apesar de admitir que «pode não haver tanta como em outros anos», garante que «há amêijoa suficiente para vender». Até porque, realça, «a ideia aqui é também a de remunerar melhor os produtores», ou seja, aumentar o preço de venda às cadeias de distribução.

Todo este trabalho está também a ser feito, realça José Apolinário, porque «se não conseguirmos manter a atividade, a tendência é transformar os viveiros de amêijoa-boa em viveiros de ostra. Dá mais trabalho manter amêijoa do que ostra. Sem prejuízo da ostra ser muito importante para o equilíbrio económico e social da ria, não podemos perder o espaço para a amêijoa-boa, que é a espécie autóctone da Ria Formosa».

 

José Florêncio

Do lado dos produtores, esta iniciativa do secretário de Estado é bem vista. Para José Florêncio, presidente da Formosa, «quando promovemos um produto bom, perante grandes cadeias alimentares aqui representadas, é sempre bom».

Dos contactos feitos durante o almoço, José Florêncio acredita que «alguma coisa vai sair e vai ficar melhor do que está. Por exemplo, já tenho aqui um cartão e a garantia que me vão ligar do grupo Sonae. Também o secretário de Estado já disse que vai ajudar a agilizar estes contactos entre empresas e produtores».

Ainda assim, o presidente da Formosa deixa um aviso: «nós temos um grande problema com a amêijoa-boa. Nós dependemos das marés, podemos ficar sem amêijoa durante cinco ou seis dias. Depois há descargas daquilo que eu chamo esgoto. Há coisas que não conseguimos controlar e que nos podem levar a não conseguirmos fornecer o produto. Nos contratos com estas empresas temos sempre de nos salvaguardar, porque dependemos da Natureza».

 

Sílvia Cruz

Já do lado das cadeias de distribuição, o interesse na comercialização da amêija-boa foi generalizado, mas Sílvia Cruz, representante da Makro, deixou um alerta: «podíamos evoluir na legislação, na forma como este produto é tratado, desde o ponto onde é criado até ao ponto de venda. O produto é embalado em sacas de rede, anda aos “trambolhões” e depois, na venda, é colocado em condições que podem ser melhoradas, para que possamos ter o produto vivo por mais tempo».

Se isso acontecer, «poderá dar mais valor ao produto. Há países onde os bivalves podem ser vendidos dentro de água e o transporte dentro de água pode ser uma das soluções. Há formas de fazer diferente e não as conseguimos implementar porque há uma barreira legislativa. O facto de um bivalve estar à venda numa placa com circulação de ar, que mata o animal, onde há contacto com água doce, com gelo, que pode matar o animal, com o normal manuseamento que vai partindo as conchas… Tudo isso vai “denegrindo” o produto e depois, no final, acaba por não sair mais valorizado», conclui.

 

Fotos: Nuno Costa|Sul Informação

 

 

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