Oposição à construção de hotéis em João de Arens garante que «não vai baixar o tom»

Grupo de cidadãos “responderam” aos promotores do projeto com carta aberta

O Grupo de Cidadania Ambiental “A Última Janela para o Mar” «não vai baixar o tom» da contestação ao projeto que prevê a construção de três hotéis na Ponta de João de Arens, em Portimão, e que está em consulta pública.

Numa carta aberta, que surgiu no seguimento da entrevista de João Jacinto, um dos promotores do projeto, ao Sul Informação, o movimento realça que, ao invés do que diz o representante da empresa Areia Feliz, «qualquer projeto hoteleiro para o João de Arens é e será sempre, sem qualquer dúvida, um “projeto de confronto” para nós e para muitos portimonenses».

João Jacinto afirmou, na entrevista ao nosso jornal, que «não passa pela cabeça» dos promotores «que o projeto volte a ser chumbado. Num estado de direito, isso não faria sentido nenhum».

Além disso, acrescentou, «temos tido todo o cuidado e rigor no projeto, corrigimos escrupulosamente todas as questões que levaram ao indeferimento do primeiro EIA [em 2019] e estamos a fazer o processo de reabilitação e cuidado da paisagem existente. Haverá sempre sugestões, ou pequenos reparos ao projeto, mas não nos passa pela cabeça que haja um chumbo».

No entanto, para o movimento de cidadãos, «para quem põe o benefício de um projeto de betão acima do benefício maior coletivo, ambiental e identitário, nunca lhe vai passar pela cabeça “um chumbo”. Isso é um facto».

Já a opinião do grupo de cidadãos sobre a alegada correção dos problemas que levaram ao chumbo pela CCDR do primeiro Estudo de Impacte Ambiental da UP3, no ano passado, «é precisamente a oposta. Este projeto, de novo, pouco ou nada tem. As incongruências são tantas ou mais, do que no projeto anterior», garantem.

Uma das questões levantas pelo advogado Rui Amores, que faz parte deste grupo de cidadãos, é que «uma das sociedade proprietárias de uma parcela de terreno, com cerca de 50 hectares, está insolvente e no âmbito dessa insolvência o terreno está a ser vendido, como se nada fosse. Como se não houvesse plano de urbanização, como não houvesse um processo de AIA a decorrer».

Uma questão que os promotores do projeto esclareceram ao Sul Informação. «Não há uma carta escondida», garantem.

«O futuro hotel H3 será construído num lote que resulta da junção de 2 terrenos. Um da Areia Feliz Lda e outro de Massa Falida da EstorilInveste, cuja gestora judicial está a seguir as instruções do juiz do processo e a avançar para a venda por leilão. Que pode ou não acontecer. Esta informação consta dos processos».

Este terreno, da EstorilInveste, «tem uma hipoteca que hoje é detida pela Finangeste (antes foi Banif e depois Santander)» e «quem comprar esse terreno terá 50% do futuro lote que se irá constituir na sequência do processo de licenciamento de loteamento e da declaração de impacto ambiental».

O Grupo de Cidadania Ambiental “A Última Janela para o Mar” critica também o vídeo apresentado pelos promotores do projeto «cuja única finalidade é promover e justificar a implantação dos hotéis, é evidente a manipulação visual».

Ana Marta Costa, bióloga citada pelo movimento, diz que «o vídeo e as imagens realizadas pelos promotores fazem com que os edifícios que parecem de vidro em mato cerrado, fiquem escondidos entre os pinheiros que, por magia, ganham mais metros e multiplicam-se num matagal verde que engole os pequenos prédios de vidro».

Para Ana Marta Costa, «é incrível como na mata do João d’Arens, onde os pinheiros mansos ou de Alepo não excedem os 5-6 metros, não se vejam prédios de 12 metros. Seria uma alucinação matemática dizer que se observam e bem do mar, da estrada e de toda a parte. O trabalho em betão de anos e décadas aprovado pelo poder político da cidade continuaria assim na eterna perpetuação, contribuindo para a descaracterização sem interrupções da costa de Portimão, tapando com cimento a última janela verde para o mar».

O movimento lembra que «o projeto foi chumbado porque a CCDR ouviu a população na Consulta Pública, ouviu a Ciência, o Direito e o Urbanismo, os pareceres científicos, as 2.000 assinaturas, os pareceres ambientais, jurídicos e que atestaram a inconformidade do projeto».

Na carta aberta, o grupo diz que, na declaração de impacte ambiental, a CCDR escreveu que «dado o enquadramento natural em presença e a singularidade e fragilidade da frente costeira (…) a gestão da paisagem neste sector do território litoral implica a necessidade de proteção da sua matriz estruturante e da sua identidade».

Ora, para o movimento, «não há aqui qualquer mal-entendido, como o representante de um dos promotores alega, mas sim questões graves de fundo e não ultrapassáveis».

Também, segundo os cidadãos que estão contra o projeto, a diminuição da altura máxima dos edifícios diminuiu de 15 para 12 metros «porque os 15 metros violavam o plano de urbanização, logo a redução era uma imposição legal e não uma “benesse” dos promotores».

Para o grupo de cidadãos, «o impacto na paisagem dos três edifícios e de todas as infraestruturas anexas tais como vias de acesso, estacionamento, piscinas e outros é enorme» e «os parâmetros urbanísticos apresentados pelos promotores e a sua «”pseudo-redução” são falsos e continuam a violar o Plano de Urbanização».

Na carta aberta, os opositores ao projeto dizem que «o promotor quer também criar uma imagem distorcida e negativa da Mata de João D’Arens para justificar a sua presença pseudo-benemérita».

No entanto, defende o grupo de cidadãos, «não precisamos enquanto portimonenses de privados para criar um percurso cénico. Ele já existe. Foi a Natureza que nos deu. Para melhorar e tornar uma zona natural como o João de Arens, numa zona mais segura aos visitantes existe a Câmara Municipal Portimão».

O movimento cívico acredita «que o plano de urbanização já deveria ter sido suspenso por configurar um atentado ambiental» e que, por isso, «não faz qualquer sentido que a nossa contestação diminua».

«Não vamos baixar o tom. Quem pensar o contrário, está enganado. O nosso tom será sempre alto e bem sonoro para que sejamos ouvidos de Norte a Sul do País», garantem.

Desde a abertura da consulta pública para o renovado projeto, no dia 7 de Maio, já houve 26 contribuições no portal Participa, sendo que o prazo se prolonga até 19 de Junho.

 

Leia aqui a carta na íntegra

 

 

Ajude-nos a fazer o Sul Informação!
Contribua com o seu donativo, para que possamos continuar a fazer o seu jornal!

Clique aqui para apoiar-nos (Paypal)
Ou use o nosso IBAN PT50 0018 0003 38929600020 44

 



Comentários

pub