Há uma nova associação a lutar pela conservação da “Vita Nativa” do Algarve

Nova associação de defesa do ambiente algarvia foi criada em 2018 e já tem vários projetos em curso

Foto: Bárbara Caetano|Sul Informação

É uma associação bem jovem, mas com dirigentes e sócios muito experientes no que à conservação da natureza e educação ambiental diz respeito. A Vita Nativa nasceu em 2018  para reforçar a ação nestas duas áreas e na defesa do ambiente, em particular na região do Algarve, e está, entre outras iniciativas, a tornar os campos de golfe da Quinta do Lago mais algarvios.

«A Vita Nativa é uma associação fundada em 2018 por entusiastas da conservação da natureza e do ambiente. Temos sócios daqui do Algarve e de outros pontos do país. O nosso objetivo é fazer um pouco mais pela natureza, principalmente na vertente da conservação. Queremos ser ativos neste tipo de matérias», resumiu Thijs Valkenburg, presidente da associação, em declarações ao Sul Informação.

«Também fazemos educação ambiental, para que haja uma maior consciencialização da parte da população. Já temos alguns protocolos, nomeadamente um com a Câmara de Olhão, para fazer educação ambiental a todas as turmas do 4º ano do município, tanto em sala, como no campo», acrescentou o mesmo responsável que, à semelhança da maioria dos membros da associação, tem uma ligação forte ao RIAS – Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens, situado na Quinta de Marim, sede do Parque Natural da Ria Formosa – no seu caso, é o local onde trabalha.

Tanto a conservação da natureza como a educação ambiental estão presentes naquele que é, neste momento, um dos grandes desafios da Vita Nativa: o projeto que está a desenvolver em parceria com a  Quinta do Lago, nos campos de golfe existentes neste empreendimento turístico do concelho de Loulé.

«Temos um projeto a decorrer quase há um ano, com o golfe da Quinta do Lago, no sentido de tornar o campo mais ecológico. Estamos a promover, por exemplo, o uso de plantas autóctones, em vez de exóticas», enquadrou o presidente da associação.

«Por outro lado, estamos a dar-lhe indicações sobre como fazer a manutenção das áreas envolventes ao campo de golfe, estamos a colocar caixas ninho, a fazer hotéis para insetos. Outra vertente é a conservação de habitats. Eles têm muitas lagoas e estamos neste momento num processo de erradicação de espécies exóticas tanto de peixe como de plantas, no sentido de as tentar renaturalizar. Em princípio, a ideia é continuar durante mais um ano», acrescentou Thijs Valkenburg.

 

Thijs Valkenburg

 

Entretanto, o trabalho no terreno está a ser levado a cabo por António Cotão, biólogo e colaborador da associação.

«Estamos a trabalhar nos três campos do Quinta do Lago Golf Course. Estamos a fazer o levantamento de toda a fauna. Neste primeiro ano, demos um bocado mais de atenção às espécies de aves, que são as com maior diversidade, mas também queremos dar-lhes a conhecer tudo o resto que têm lá, nomeadamente anfíbios, répteis, mamíferos e até as plantas», disse ao Sul Informação António Cotão.

«A ideia é fazer a sensibilização não só das equipas técnicas, mas também com os clientes. Estamos a entrar em sintonia com os gestores do golfe Quinta do Lago para desenvolver painéis informativos, bem como algumas técnicas de gestão ambiental mais amiga da avifauna e da flora», reforçou.

No que toca à parceria com a Câmara de Olhão, outro grande projeto que a associação tem em mãos, a Vita Nativa já realizou «a larga maioria das atividades em sala, a falar da fauna e flora daqui da zona».

Agora, falta a parte das saídas de campo no circuito de manutenção de Marim,que tiveram de ser adiadas devido à Covid-19. «Em condições normais já teríamos feito. Vamos ver quando teremos oportunidade de o fazer».

Entretanto, a Vita Nativa juntou-se a um projeto nacional, promovido pela Fundação Oceano Azul, que visa a «elaboração de um guia de boas práticas para a limpeza de praias e ecossistema costeiros». A associação algarvia é uma das 23 entidades e Organizações Não Governamentais (ONG) parceiras da fundação nesta iniciativa.

«Temos feito reuniões através das plataformas online para, no fundo, partilhar não só metodologias, como guias que já possam existir, para depois elaborarmos um documento que sirva de guia para qualquer entidade ou particular que queira promover uma limpeza de praia», revelou o colaborador da Vita Nativa.

«Neste caso concreto, sendo nós e o Centro Ciência Viva de Faro as únicas entidades algarvias envolvidas, acrescentamos ao projeto a parte ligada à Ria Formosa, dos habitats mais estuarinos», considerou António Cotão.

 

António Cotão

 

Mas a ação da Vita Nativa não fica por aqui, sendo outro objetivo a realização de palestras, nomeadamente de relatos de viagens, e de workshops de conservação da natureza e associativismo.

Uma dessas iniciativas é o projeto de comunicação de ciência “Brama”, «que já está a ser dinamizado a partir de Lisboa – por que é onde vive o sócio que o dinamiza. Ele começou agora a dinamizar tertúlias com diferentes convidados, de forma a tornar desconstruir alguns assuntos complexos e torná-los mais simples para a população em geral», explicou Fábia Azevedo, vice-presidente da associação.

Por estas conversas já passaram, por exemplo, investigadores e ilustradores, «que falaram do seu trabalho de forma acessível ao público em geral. As primeiras tertúlias decorreram em Lisboa. Estamos a tentar que haja uma aqui no Algarve, este Verão, mas ainda não sabemos se será possível».

No início do ano, a Vita Nativa dinamizou várias iniciativas, «nomeadamente uma apanha de lixo na Quinta de Marim, em Olhão, bem como algumas saídas de observação de anfíbios, também na sede do Parque Natural da Ria Formosa».

«Tínhamos previstas atividades de observação da fauna da Ria Formosa e pequenos passeios pedestres por trilhos em diferentes zonas do Algarve. Tínhamos planeada uma saída na Rocha da Pena, que tivemos de suspender, devido à Covid-19. Já as tínhamos agendadas para Abril e início de Maio», explicou António Cotão, que é o operacional da associação.

«Assim que nos for possível, penso que muito em breve, poderemos reatar esse tipo de ações e regressar a normalidade. Temos uma área riquíssima para fazer esse tipo de atividades ao ar livre e julgo que as pessoas, depois do confinamento, vão estar mais abertas a participar», acredita.

 

Thijs Valkenburg e António Cotão

 

Mas porquê criar uma nova associação ambientalista?

«Criámos a Vita Nativa para colmatar as falhas que achamos que ainda há em Portugal ao nível de associações que promovem a conservação da natureza e a educação ambiental», resumiu Thijs Valkenburg.

«Muitos de nós trabalhamos no RIAS, pelo que haverá sempre um grande enfoque na conservação dos animais, mas também das plantas. Mas temos, igualmente, membros dos corpos sociais da associação que estão ligados ao ecoturismo, pelo que também podemos dar algum contributo nessa área», explicou o presidente da associação.

Para já, os responsáveis pela Vita Nativa pretendem «ter uma ação mais regional, focada aqui no Algarve, porque não há muita coisa a acontecer. Claro que existe a Almargem, aqui o RIAS e a associação A Rocha, mas precisamos de mais pessoas envolvidas nesta luta».

Neste momento, a jovem associação conta com 115 sócios e está aberta a ter muitos mais. «Agora com a Covid-19 tivemos de cancelar 5 ou 6 atividades que já tínhamos planeadas para a Primavera, que visavam, precisamente, envolver os atuais sócios e angariar mais associados».

«Estamos a inscrever-nos como ONGA, pelo que precisávamos mesmo de ter mais de cem sócios. Estamos nesse processo e a nossa ideia é candidatar-nos a projetos e trabalhar aqui na região», reforçou Thijs Valkenburg.

Para ser sócio, basta ir à página da associação. «Há um separador “Torne-se sócio”, com um formulário muito simples e fácil de preencher. A quota anual é de dez euros, que é um valor simbólico, mas que nos ajuda a concretizar os nossos projetos».

Os sócios, como é natural, beneficiam de vantagens nas atividades da associação.

«Esperemos que depois do Verão entremos em força com atividades, para podermos envolver os sócios», deseja o presidente da Vita Nativa.

 

Fotos: Bárbara Caetano|Sul Informação

 

 

 

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