Calçada de Dona Ana perdeu «a harmonia», mas não foi por causa do anexo “em cima” da muralha

Obra polémica em Tavira

As fotos da construção de um anexo no topo de uma suposta torre medieval da muralha do castelo de Tavira causaram indignação nas redes sociais, mas, neste caso, nada foi feito de ilegal, garante a Direção Regional de Cultura do Algarve. No entanto, a mesma obra tem verdadeiros problemas, que vão inclusive obrigar à demolição de uma parte da fachada do nº 14 da Calçada de Dona Ana.

«Um dos “torreões” da muralha, situado na área da “Bela Fria”, está a ser “barbaramente” vandalizado, com uma pseudo-reconstrução, em tijolos de cimento e outros de barro vermelho. Na sequência destes “trabalhos” já está a ser rebocado e, possivelmente, depois pintado de branco, passando a constituir propriedade privada de alguém», lia-se num post de Ofir Renato Chagas no Facebook, que causou indignação em muitos tavirenses.

 

No entanto, não é bem assim.

Adriana Freire Nogueira, diretora regional de Cultura, contactada pelo nosso jornal, explicou que o projeto de alteração deste imóvel, que tem a sua fachada na Calçada de Dona Ana – mas já lá vamos – foi submetido à DRCAlg em 2017 e «foi aprovado com condicionantes arqueológicas de realização de sondagens e acompanhamento integral das demolições».

Nesse projeto, a arquiteta, sua autora, previa, «na zona posterior do terreno, onde existia um pequeno anexo, a sua reconstrução com a finalidade de dar apoio à piscina proposta no logradouro».

É este o anexo da discórdia.

De acordo com as sondagens arqueológicas realizadas em 2018, «constatou-se que o alicerce da parede norte desse “pequeno anexo” arruinado se apoiava diretamente no topo restante de um tramo da muralha da cerca urbana medieval de Tavira».

Por isso, acrescenta o esclarecimento, «foi decidido, em reunião de obra, manter a parte inferior do anexo, procedendo-se apenas à reconstrução da sua parte superior, não havendo por isso qualquer interferência direta no monumento classificado».

Segundo explica a diretora regional de Cultura do Algarve, a «muralha (identificada pelas sondagens arqueológicas) subsiste apenas até à cota 11,41 metros, enquanto a cota de soleira do casinhoto (reconstruído) se localiza à cota 11,90 metros acima de um pavimento de calçada, no interior da construção arruinada ali existente».

Resumindo, o local onde está a ser construído o anexo «não tem qualquer interferência estrutural com o pano da muralha medieval», isto apesar de ser «muito discutível a qualidade dos materiais e técnicas empregues na reconstrução e a qualidade da obra executada».

Mas nem tudo está bem no nº14 da Calçada de Dona Ana. Fonte da Direção Regional de Cultura do Algarve adiantou ao nosso jornal que foram feitas alterações em obra, que vão obrigar a demolir uma parte da fachada.

«Quando foram feitas as escavações arqueológicas, foram descobertos vestígios de uma calçada que será dos séculos XVII-XVIII. Para não comprometer os vestígios, foi decidido subir a construção em cerca de 30 centímetros».

O problema é que o construtor foi além do projeto que tinha sido aprovado e subiu muito mais, acima do edifício anterior, o que comprometeu «a composição harmónica desta calçada, em que as casas vão descendo em “escadinha”» (ver foto abaixo).

 

 

Quando o projeto de alterações em obra foi apresentado à Direção Regional de Cultura, este foi recusado, e o organismo, apurou o Sul Informação, mostrou-se intransigente: a ordem é para demolir o “acrescento”, para que a harmonia da Calçada de Dona Ana não se perca.

Ao lado desta construção, é visível uma segunda casa que também não cumpre o padrão de altura da fachada. Segundo aquela fonte da Direção Regional de Cultura, «a mesma questão vai colocar-se, mas, nesse caso, as alterações em obra ainda não foram apresentadas» ao organismo.

Neste momento, apurou o Sul Informação, o construtor abandonou a obra e os trabalhos no nº 14 da Calçada de Dona Ana estão parados.

Enquanto o inacabado anexo, que não é torre, vai continuar a fazer parte da vista do centro histórico de Tavira, na Calçada de Dona Ana, há a garantia de que a harmonia perdida será recuperada. Resta saber quando.

Fotos: Bárbara Caetano|Sul Informação

 

 

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