Área atingida pelo fogo de Aljezur, Lagos e Vila do Bispo já está a ser alvo de trabalhos de estabilização de emergência

Ministro Matos Fernandes: «este tipo de intervenção vai passar a ser norma em todos os incêndios em que a área ardida seja superior a 500 hectares»

Ministro do Ambiente – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

«Fiquei muito contente quando, na quinta-feira passada, recebi um telefonema do engenheiro António Miranda a dizer que precisava da minha autorização para fazer esta intervenção. Fiquei feliz por ter os técnicos do ICNF a ajudar, é um bom indício de que as coisas vão melhorar». Com alguma emoção na voz, Jorge Monteiro olha para a mancha acastanhada que resta dos 64 hectares de terrenos na Vinha Velha de Baixo, perto de Barão de São João, comprados em Outubro para aí instalar um projeto «florestal, ambiental e social» e que, há uma semana, foram devorados pelo fogo.

É nessa zona, numa encosta onde pinheiros mansos, acácias, eucaliptos e mato foram queimados pelas chamas, que ontem começou a intervenção das equipas mecanizadas do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e da brigada de Sapadores Florestais da Comunidade Intermunicipal do Algarve, a AMAL.

Os trabalhos de estabilização de emergência foram esta manhã visitados pelo ministro do Ambiente, que explicou que «este tipo de intervenção vai passar a ser norma em todos os incêndios em que a área ardida seja superior a 500 hectares».

Enquanto mostrava ao ministro os trabalhos em curso, Nuno Banza, presidente do ICNF, explicou que, nos dias logo após a extinção do incêndio de Aljezur, técnicos do seu instituto, bem como da Agência Portuguesa do Ambiente e do Gabinete Técnico Florestal Intermunicipal «percorreram a área ardida, para identificar os locais mais urgentes para intervenção».

Isso permitiu também avançar com uma «cartografia da severidade do incêndio», um «trabalho profundo que continua a decorrer», como explicou António Miranda, diretor de departamento de Florestas do ICNF no Algarve.

 

Nuno Banza, presidente do ICNF, com o ministro Matos Fernandes – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Após o fogo, «há intervenções que têm de ser imediatas: é fundamental estabilizar estas encostas, que antes tinham coberto vegetal e agora estão muito sensíveis à erosão, e é preciso fazer esta intervenção para garantir que, em caso de chuva, esta terra não vai ser arrastada para as linhas de água. É preciso também limpar as linhas de água», começou por explicar, aos jornalistas, o ministro João Pedro Matos Fernandes.

Além disso, as árvores mortas pelas chamas estão a ser abatidas e serão depois estilhaçadas por uma máquina destroçadora do ICNF, reintegrando os seus restos no solo, como matéria orgânica.

«Nunca tinha acontecido no passado, uma semana depois de o incêndio ter sido dado com extinto, já estarmos no terreno», garantiu o governante.

O trabalho, acrescentou, «está a ser feito por máquinas do ICNF que não existiam, temos agora três equipas mecanizadas, com 13 máquinas ao todo, que já fizeram este aceiro», aberto durante o incêndio e que foi «fundamental para cortar a linha de fogo» de modo a não atingir a Mata Nacional de Barão de São João.

Numa visita ao local do chamado incêndio de Aljezur – que começou a 19 de Junho e afetou também (e sobretudo) os vizinhos municípios de Lagos e Vila do Bispo -, acompanhado pela secretária de Estado da Administração Interna (Patrícia Gaspar), pelo presidente da AMAL (António Miguel Pina), pelo presidente do ICNF (Nuno Banza) e pelo seu diretor regional (Castelão Rodrigues), bem como pelos presidentes de Câmara de Lagos e de Aljezur, o ministro do Ambiente fez questão de sublinhar que esta intervenção no terreno, pioneira pela sua rapidez, está a ser feita trabalhando «de muito perto com as autarquias». «Os sapadores que aqui estão são alguns do ICNF, mas estão também aqui sapadores da Comunidade Intermunicipal do Algarve».

 

Sapadores no terreno – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Matos Fernandes acrescentou que este novo tipo de abordagem passa por três fases: «esta é a intervenção de emergência, mas vamos agora reunir-nos com as autarquias, porque podemos financiar intervenções mais robustas do que estas, durante os próximos quatro meses. Depois, temos que esperar um ano, para perceber se as árvores que estão queimadas, estão ou não mortas. Vamos então esperar esse ano, para ter aqui uma ação de florestação».

O ministro do Ambiente falou igualmente dos Planos de Paisagem, que considerou com «uma das grandes apostas que o Governo está a fazer». «Dentro deles foram criadas unidade operativas para gerir o território – há duas já constituídas, a de Monchique e a de Silves – onde nós reservámos a possibilidade de intervir de maneira mais musculada, e em todas as áreas ardidas com mais de 500 hectares. Este é um caso».

Depois da publicação dos Planos de Paisagem, «o que ainda nos faltava já foi aprovado em Conselho de Ministros, e terá de ser aprovado ainda na Assembleia da República, que é o regime de arrendamento forçado. Nós podemos entrar num terreno para apagar um incêndio, mas não podemos para fazer estes trabalhos. Só com autorização do proprietário». Esta nova figura do arrendamento forçado vai permitir ultrapassar esse impasse.

Mas aqui, na zona de Barão de São João, não foi preciso. «Calhou bem aqui, estamos a falar de uma zona onde os proprietários estão articulados, trabalham em conjunto e até ficaram satisfeitos com esta nossa intervenção», sublinhou o ministro.

O responsável pela pasta do Ambiente sublinhou que, no ano passado, o ICNF não tinha nenhuma equipa mecanizada, que lhe permitisse intervir diretamente no terreno. «Hoje temos três equipas, vão ser certamente quatro ou cinco no próximo ano, vamos ter uma capacidade crescente para intervir com essas equipas na prevenção, durante o tempo em que o risco de incêndio é menor, e no combate ao próprio incêndio, já que foi da maior importância que estas nossas máquinas de rastos estivessem aqui». E a intervenção estende-se ainda, como era visível e audível na Vinha Velha de Baixo, à fase após incêndio, com a estabilização de emergência.

«Estes trabalhos vão servir também de demonstração para os outros proprietários», que em breve poderão candidatar-se a apoios e assim saberão o que devem fazer, explicou Joaquim Castelão Rodrigues, diretor regional do ICNF.

Depois da visita à área atingida pelo incêndio de 19 de Junho, seguiu-se uma reunião do ministro com os presidentes das Câmaras de Aljezur, Lagos e Vila do Bispo, nos Paços do Concelho deste último município.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

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