A nova Olhão é dos cavalos-marinhos e das operárias fabris, mas também dos estrangeiros

Olhão celebra o hoje o dia da Cidade e os 212 anos da revolta contra as tropas francesas

Foto: Hugo Rodrigues|Sul Informação

Há 212 anos, foi a luta contra a ocupação das tropas francesas que permitiu o nascimento da Vila de Olhão da Restauração. Em 2020, a agora cidade está de facto “ocupada” por estrangeiros, nomeadamente seniores da Europa Central e do Norte que a escolheram para passar a reforma, que têm vindo a impulsionar o surgimento de uma nova Olhão, onde o turismo e a regeneração urbana têm um papel central.

Sobretudo nos últimos dez anos, o boom do turismo no concelho despertou o mundo para uma realidade bem diferente do resto do Algarve, ainda muito ligada às tradições e com muito do seu passado à flor da pele. Também a arquitetura cubista da zona histórica e a forte ligação da comunidade à Ria Formosa e ao mar apaixonam muitos dos que vêm de fora.

Estas mudanças que Olhão tem sofrido notam-se bem no programa do Dia da Cidade, que hoje se celebra, e nos números divulgados pela Pordata sobre este concelho, de que o Sul Informação dá conta nesta infografia:

 

 

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Infografia: Nuno Costa|Sul Informação

 

No que toca ao dia da cidade, os pontos altos serão a inauguração de duas estátuas, ambas com forte ligação à alma olhanense, e a visita a uma zona regenerada no Centro Histórico. De caminho, serão visitadas as obras, quase concluídas, da Escola Básica nº 5.

Também a chamada rua das lojas acordou hoje diferente, coberta por redes de pesca, murejonas e peixes de muitas cores.

«Vamos inaugurar duas estátuas. Uma delas, é uma evocação à operária da indústria conserveira, que ficará situada à entrada da zona industrial. A outra, é a nossa nova mascote, o nosso bichinho de estimação, o cavalo-marinho», revelou ao Sul Informação António Pina, presidente da Câmara de Olhão.

No primeiro caso, trata-se de uma homenagem às mulheres que durante décadas trabalharam e foram a espinha dorsal da indústria conserveira, no concelho. A estátua é da autoria de José Carlos Almeida e António Faustino.

«A nossa sociedade tem mulheres e homens. E as atividades tradicionais de Olhão, nomeadamente aqui nesta freguesia, eram o homem no mar e a mulher na indústria conserveira. Já tínhamos o Jardim Pescador Olhanense, faltava evocar o papel da mulher na nossa comunidade que, no passado, era ligado à indústria conserveira», ilustrou o edil olhanense.

«De certa maneira, é uma homenagem à minha avó materna e às avós e às mães de muitos olhanenses», acrescentou.

 

 

Já a estátua do cavalo-marinho, uma obra idealizada, projetada e desenhada por Isa Fernandes, foi erguida na rotunda em frente ao Real Marina Hotel, a única unidade hoteleira de 5 estrelas do concelho. A construção da escultura em si esteve a cargo de Alexandru Groza, da empresa Versatile Profit.

«Temos apostado na divulgação e na promoção desta causa que é a defesa desta espécie. Assim, faremos uma estátua em sua honra», explicou.

Hoje, o programa oficial de comemoração do Dia da Cidade de Olhão também incluiu uma visita «ao arranjo urbanístico do largo do Grémio, bem como da rua que lhe dá acesso, que foram requalificados», e «uma visita à escola primária nº5, cujas obras de reabilitação estão praticamente concluídas».

Os números da Pordata, um projeto da Fundação Francisco Manuel dos Santos, ajudam a entender esta clara aposta do município no embelezamento e requalificação do espaço público. É que, entre 2010 e 2018, o número de estrangeiros residentes cresceu quase 10%.

Por outro lado, houve um forte incremento do turismo, que levou a que, em apenas oito anos, o número de alojamentos turísticos tivesse crescido de quatro para 19, no mesmo período, segundo a Pordata.

«A tendência, pelo menos até há seis meses, era de crescimento do número de estrangeiros da União Europeia a viver em Olhão e havia uma forte aposta na requalificação de casas no centro histórico», disse ao Sul Informação António Pina.

Mas, agora, «está tudo parado».

«A convicção que temos, até pela forma como Portugal, o Algarve e Olhão se apresentam nesta questão da Covid-19, é que a retoma, dentro de um ano, passará por um aumento desse fluxo de cidadãos europeus que se venham estabelecer na nossa cidade», afirmou o presidente da Câmara de Olhão.

 

 

Esta nova população «tem trazido uma grande procura pelo edificado», com os novos residentes estrangeiros a ser, «muito provavelmente, os principais responsáveis pela requalificação do Centro Histórico, no que ao espaço privado diz respeito».

«Percebemos que, quanto mais vamos investindo na requalificação do espaço público, mais isso ajuda a que haja investimento privado», explicou o edil olhanense.

Por outro lado, «são pessoas com um rendimento familiar bastante superior à média nacional, que acabam por distribuir essa riqueza nos seus consumos diários. Fomentam o comércio local, a restauração e algum emprego».

Também no que toca ao dinamismo económico, os números da Pordata parecem ir ao encontro da perceção de António Pina.

Nos últimos dez anos, aumentou consideravelmente o número de empresas e o rendimento médio da população subiu dos 881 para os 913 euros.

Ao nível demográfico, houve uma diminuição da população, em termos gerais, mas a população em idade ativa aumentou. O saldo natural, entre nascimentos e óbitos, foi negativo, mas, ainda assim, Olhão continua a ter mais jovens do que a média nacional.

 

 

Apesar de, no fim da linha, os investimentos que estão a ser feitos pela Câmara de Olhão na regeneração urbana concorrerem para tornar o concelho mais apelativo, em termos turísticos – seja o turismo de visita, seja o residencial -, a verdade é que as melhorias beneficiam toda a população.

Um bom exemplo é a regeneração do jardim da Horta do Pádua, que «está feito há muito tempo» e ainda «aguarda a inauguração e uma festa».

E, por falar em jardins, já começaram as obras no jardim Pescador Olhanense, situado a poente dos Mercados Municipais de Olhão, obra que, juntamente com a que começará em Setembro no vizinho jardim Patrão Joaquim Lopes (a nascente), irá revolucionar a zona ribeirinha de Olhão.

Esta obra foi adjudicada por 1,75 milhões de euros, um milhão dos quais será garantido pelo Fundo Ambiental.

A requalificação privilegiará a ligação à Ria Formosa, através, por exemplo, da retirada do murete hoje existente. Serão, inclusivamente, criadas estruturas no atual passeio ribeirinho que se projetam sobre a ria, duas no lado Poente (Pescador Olhanense) e outra no lado Nascente, como continuidade do monumento ao Patrão Joaquim Lopes, que dá nome ao jardim. Já o posto de combustível vai desaparecer.

«A nossa expetativa é que a obra esteja pronta no final de Maio de 2021», revelou António Pina.

«Também temos a requalificação e criação de um jardim/parque de lazer em Moncarapacho, em frente à escola António Eusébio, obra que já arrancou», acrescentou António Pina.

 

Fotos: Hugo Rodrigues|Sul Informação

 

 

 

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