«Já chega de não sermos tidos em conta»: profissionais das artes em vigília em Faro

«O Ministério da Cultura tem urgentemente de injetar mais dinheiro para que tenhamos sustentabilidade até começarmos a trabalhar»

É «um alerta de toda a gente, desde o músico mais conhecido até à companhia de dança da aldeia». Profissionais da arte e da cultura estão em vigília, esta quinta-feira, 21 de Maio, até às 19h00, em frente ao Teatro das Figuras, em Faro. O momento «é de emergência» e pedem-se mais apoios numa altura em que a Covid-19 arrasou o setor: «já chega de não sermos levados em conta».

E se tivéssemos ficado sem cultura? A pergunta, escrita em cartazes, é uma das frases fortes deste protesto que está a acontecer em 17 cidades (Lagos é uma delas, além de Faro).

Em todos os locais, há, apenas, 10 pessoas, de cada vez, na vigília, que se vão revezando, para cumprir as regras de distanciamento social.

João de Brito é um dos presentes, em Faro. Ator e diretor artístico de uma companhia (o LAMA – Laboratório de Artes e Media do Algarve), contou ao nosso jornal como há colegas a passar por «grandes dificuldades».

 

 

«Há pessoas sem nada para comer e estamos a chegar mesmo a um ponto de estrangulamento de todo um setor. Esta é a nossa maneira de nos manifestarmos, seguindo todas as regras em vigor, e de reivindicar mais direitos para a nossa classe que alberga tantas pessoas», disse ao Sul Informação. 

É que, explicou, «nós, da cultura e das artes, fomos os primeiros a parar e vamos ser os últimos a voltar». Os apoios, já divulgados pelo Ministério da Cultura, são vistos como escassos.

«São muito reduzidos para conseguir colmatar as nossas necessidades. Foi criado um Plano de Emergência, ao qual se candidataram 1000 e tal projetos e só 300 tiveram apoio. Ora, isso não é um plano de emergência, porque tal pressupunha dar apoio a todos. O Ministério da Cultura tem urgentemente de injetar mais dinheiro para que tenhamos sustentabilidade até começarmos a trabalhar», considerou.

Nesta manifestação estão presentes atores, como João de Brito, mas também outros profissionais. Flávio Martins é técnico de som freelancer, e está «há mais de dois meses parado».

«Eu faço trabalho tanto em festivais de grande dimensão, como peças de teatro ou espetáculos de dança. Agora, costumo dizer aos meus colegas que este é um tempo que o coronavírus nos deu para nos organizarmos e lutarmos pelos nossos direitos», disse ao Sul Informação. 

O artista plástico Tó Quintas também sentiu necessidade de marcar presença, «apesar de ter a sorte» de ter o seu próprio ateliê.

«Este é um momento de emergência, até inesperado. De repente, apareceu-nos uma barreira à frente. De repente, houve pessoas sem fonte de rendimento», lamentou o artista plástica farense, ao nosso jornal.

 

 

Por estes estes dias, Tó Quintas tem-se entretido «com trabalhos que tinha em carteira». «Estou a fazê-los à velocidade de agora, pensando num eventual regresso», disse.

Apesar das graves consequências da Covid-19 para todo um setor, este momento de emergência não poderá ser também uma fonte de criatividade para os artistas?

«Nesta altura, perde-se aquela pressão do trabalho e a criatividade flui… De repente, vejo-me com dois meses para fazer um trabalho, a pensar justamente na sustentabilidade daquilo que faço e a não estar preso só a uma área. Tem sido a parte interessante de tudo isto», respondeu Tó Quintas.

Mas a criatividade não resolve todos os problemas e, relembra, João de Brito «as pessoas têm famílias que precisam de alimentar».

«Se não houver ajudas, haverá casos de pessoas a ficar pelo caminho… Muitas vezes não se tem essa consciência, mas um concerto ou um festival mexe com muita gente, como artistas, técnicos, diretores de cena. Acho que tem de haver um olhar atento e este é o momento», concluiu.

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

 

 

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