Francisco Amaral diz que Idanha-a-Nova tratou romenos «como se tivessem lepra»

Trabalhadores romenos já regressaram ao seu país

Idanha-a-Nova tratou o grupo de 15 romenos, que foram ajudados pela Câmara de Castro Marim, «como se tivessem lepra». A declaração é do edil algarvio Francisco Amaral, que não gostou de ver o município do distrito de Castelo Branco acusar a sua autarquia de «falta de respeito institucional» por ter colaborado, com a embaixada da Roménia, no transporte dos migrantes para a freguesia idanhense de São Miguel de Acha.

Tudo começou no sábado, dia 25 de Abril, quando 15 romenos chegaram ao Aeroporto de Lisboa, tendo Espanha como destino, onde iriam trabalhar.

Dirigiram-se à fronteira de Caia, no concelho de Elvas, mas as autoridades espanholas impediram a sua entrada.

Confrontados com esta situação, os trabalhadores, que tinham documentação válida, até porque fazem parte de um Estado-membro da União Europeia, rumaram ao Sul, e tentaram a sua sorte na fronteira de Castro Marim mas, também aqui, não conseguiram chegar ao país vizinho.

Depois de terem sido abandonados à beira da estrada pelos taxistas, que os transportaram até à fronteira, acabariam por chegar à vila de Castro Marim, a pé, onde foram acolhidos por esta autarquia, com a colaboração da Santa Casa da Misericórdia local.

«O município de Idanha-a-Nova queixa-se de que não foi avisado da chegada deste grupo de pessoas ao concelho, mas nós também não fomos e ajudámo-los», destaca Francisco Amaral ao Sul Informação.

A Câmara de Castro Marim tentou resolver a situação com Espanha, mas a rigidez do acordo de fronteira, que permite apenas a circulação de mercadorias e trabalhadores transfronteiriços, não foi ultrapassada pelas autoridades espanholas.

Francisco Amaral

Também foram feitos contactos com secretarias de Estado do Governo português, das quais, até hoje, «ainda estamos à espera de resposta», prossegue Francisco Amaral.

Depois de ter contactado a Embaixada da Roménia, «foi encontrada a solução de levar o grupo para Castelo Branco, através de uma associação», a Associação Romena de Aldeia de Santa Margarida, em Idanha-a-Nova, «com ligações à igreja ortodoxa».

O problema é que os 15 trabalhadores não foram para a sede do distrito de Castelo Branco e sim para o concelho vizinho de Idanha-a-Nova, onde chegaram, ao final da noite de quinta-feira, causando «grande alarme social».

A Câmara de Idanha-a-Nova, que diz que o processo foi conduzido pela Embaixada, pela Associação Romena da Aldeia de Santa Margarida e pela Câmara de Castro Marim, não gostou de não ter sido avisada e considera que esse facto revela «falta de respeito institucional e desconsideração pela saúde da comunidade idanhense».

Para a autarquia de Idanha-a-Nova, que veio a público demonstrar a sua «profunda indignação», «o facto de não terem comunicado previamente da chegada destes cidadãos, não estando em causa a sua nacionalidade, inviabilizou a resposta atempada e articulada entre as entidades locais, como deveria ter acontecido, nomeadamente o cumprimento das regras de isolamento social, destinadas a todos os que chegam ao nosso concelho, vindos de outras partes do país ou do mundo».

Por isso, a Câmara Municipal de Idanha-a-Nova diz compreender «a indignação e a inquietação da nossa população, que tem feito um grande esforço cívico para cumprir as normas de segurança e respeitado com sacrifício a distância dos seus entes queridos».

A autarquia do distrito de Castelo Branco garante que «tomou de imediato», em articulação com a GNR e a Junta de Freguesia de São Miguel de Acha, «diligências no sentido de salvaguardar a saúde da nossa população e dar uma resposta humanitária adequada aos 15 cidadãos romenos».

Os trabalhadores, que já tinham feito testes de despiste de Covid-19, em Caia, voltaram a ser testados no sábado, deram negativo e foram transportados para o Aeroporto de Lisboa, «por indicação e em articulação com a Embaixada da Roménia em Portugal, num autocarro do Município de Idanha-a-Nova», e já regressaram ao seu país.

A Câmara de Idanha-a-Nova considera «que a solução encontrada, em tempo recorde, deu a melhor resposta possível a esta situação que poderia ter sido pacífica se devidamente articulada entre todas as partes».

A situação não foi pacífica e ainda não há tréguas, porque a Câmara de Castro Marim também não gostou da tomada de posição da sua congénere do Centro do país.

Francisco Amaral, em declarações ao Sul Informação, diz que a Câmara de Idanha-a-Nova teve uma atitude para com os trabalhadores «que parecia que estes tinham lepra, a atingir contornos de xenofobia».

Esta afirmação do autarca algarvio reforça o teor de um comunicado da Câmara de Castro Marim, divulgado esta segunda-feira, que «lamenta a a tomada de posição da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, que transformou uma situação de carácter humanitário num jogo de culpas entre municípios».

A autarquia algarvia explica que, depois de ter sido contactada pela Câmara de Castro Marim, a Embaixada da Roménia «encetou todos os esforços para acolher, com o mínimo de dignidade humana, os 15 cidadãos, garantindo um alojamento que seria, à partida, no município de Castelo Branco, situação que se alterou já durante o translado efetuado pelo Município de Castro Marim».

Trabalhadores romenos à saída de Castro Marim

O município presidido por Francisco Amaral sublinha «que só nesta condição saíram de Castro Marim».

«A bem da verdade», prossegue a Câmara, «importa esclarecer que a autarquia castromarinense só teve em mente uma resposta humanitária, quer no acolhimento, quer na resolução desta situação, e rejeita as acusações de falta de respeito institucional e desconsideração pela saúde da comunidade idanhense».

Considera a autarquia algarvia que, «numa situação deste cariz, haverá valores maiores que se levantam e compete às autarquias esclarecer e acalmar as suas populações».

A Câmara de Castro Marim garante também que «as autoridades competentes foram informadas do translado, com nota da Embaixada da Roménia em Portugal» e que «as regras de isolamento social não ficaram comprometidas em momento nenhum, tendo os cidadãos já sido testados à Covid-19, todos negativos, em Elvas, na sua primeira tentativa de passar a fronteira».

A autarquia algarvia realça que «os cidadãos romenos são seres humanos, são cidadãos europeus e não estavam ilegais em Portugal» e diz acreditar que «quer o Município de Elvas, quer o Município de Castro Marim, quer o Município de Idanha-a-Nova, fizeram o melhor que puderam, quer em prol das suas populações, quer em prol do grupo de cidadãos romenos, mas rejeitamos tomadas de posição acusatórias e inadequadas ao contexto, que raiaram a xenofobia».

No comunicado, a Câmara de Castro Marim reitera ainda «o agradecimento e reconhecimento do esforço e empenho de todos os envolvidos na resolução da situação – a GNR de Castro Marim, a Aanta Casa da Misericórdia de Castro Marim, o delegado de saúde local e os colaboradores do Município, que fora do âmbito das suas funções, garantiram o bem-estar dos 15 trabalhadores e a melhor resolução do problema».

Por fim, a edilidade presidida por Francisco Amaral considera que este caso «lamentável» deve servir para uma reflexão sobre a diplomacia entre Portugal e Espanha, «uma vez que já há notícia de que enquanto o espaço aéreo em Portugal está aberto, as fronteiras em Espanha poderão estar fechadas até Outubro».

 

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