A nova escola de 9 mil alunos algarvios tem máscaras, desinfetantes e distanciamento

Sul Informação falou com responsáveis de três escolas secundárias do Algarve

Francisco Soares, na Escola Secundária Pinheiro e Rosa

Máscaras, distância física e a lavagem e desinfeção constante das mãos. Cerca de 9 mil alunos algarvios do 11º e 12º anos regressam às aulas presenciais esta segunda-feira, 18 de Maio, mas a escola que vão encontrar será bem diferente daquela que deixaram em Março, devido à Covid-19.

Há novos horários, percursos definidos para evitar contactos e turmas desdobradas. Tudo foi feito em nome da segurança, contando-se com «o apoio e colaboração» dos estudantes para que tudo corra bem.

18 de Maio foi a data estipulada pelo Governo para este regresso – ainda que muito condicionado – às aulas presenciais.

Os estudantes do 11º e 12º anos apenas terão aulas, na escola, nas disciplinas que têm exame nacional. Em todas as outras, mantém-se o ensino à distância.

O Ministério da Educação já emitiu uma série de orientações para este regresso, como o uso obrigatório de máscara na escola, a desinfeção e lavagem das mãos, a utilização de salas amplas e arejadas e a necessidade de haver apenas um aluno por secretária.

A própria utilização dos refeitórios terá novas normas de funcionamento, como períodos de almoço desfasados entre turmas, sempre que possível, e a lavagem/desinfeção das mãos antes e após o consumo de qualquer refeição. Os tabuleiros serão preparados pelos funcionários, entregando-os aos alunos.

É com base nestas orientações que as 19 escolas secundárias do Algarve vão reabrir. Ao Sul Informação, Alexandre Lima, delegado regional de Educação, explica que, «depois de alguma dificuldade inicial, agora já está tudo mais esclarecido».

«Tivemos de mudar as cargas horárias, além das regras de espaçamento entre secretárias. Imaginemos uma turma de 30 alunos: houve a necessidade de criar um desdobramento. Também é possível que uma disciplina que tenha quatro horas por semana, passe a ter apenas duas», diz.

As aulas presenciais regressam para todos os alunos destes dois anos (11º e 12º), mas o próprio Ministério já garantiu que, quem não for à escola por opção dos encarregados de educação, terá as faltas justificadas. No entanto, o ensino à distância deixa de ser recurso para se preparem para os exames nacionais.

Apesar de ainda não ter números definidos, Alexandre Lima confessa que tem «consciência de que há pais que não vão deixar os filhos voltar».

«Não será um número significativo, mas para a semana saberemos. Os pais não querem que os filhos regressem e estão no seu direito. Há vantagens e riscos nessa atitude», considera.

O Sul Informação falou com três escolas do Algarve para saber como está a ser preparado este regresso – Secundária Pinheiro e Rosa (Faro), Secundária Manuel Teixeira Gomes (Portimão) e Secundária de Tavira.

 

Sala de aulas da Pinheiro e Rosa – apenas haverá um aluno por secretária

 

Na capital de distrito, Francisco Soares dá conta dos «desafios» que a Pinheiro e Rosa tem encontrado. O diretor desta escola explica como tudo foi feito «em nome da segurança».

«Tivemos de acautelar as condições a vários níveis. Além da utilização dos equipamentos de proteção individual, uns alunos vão entrar por um portão, outros por outro. Estão também definidos os percursos que têm de seguir para ir para as salas», começa por explicar.

Na Secundária Pinheiro e Rosa, são «mais de 300» os alunos que regressarão. À entrada da escola, haverá torneiras, com sabão, para que possam lavar as mãos. Depois, lá dentro, além dos dispensadores de gel desinfetante, há avisos espalhados sobre a necessidade de usar máscara e de manter as distâncias.

Os novos horários «foram feitos de raiz» e muito em «função dos transportes». «Não podemos ter alunos a chegar às 7h30 para ter aulas às 9h00, até porque queremos que estejam o menor tempo possível na escola», refere o diretor.

No que diz respeito às turmas, foram «partidas ao meio e o professor dará as aulas por turnos». No máximo, explicou Francisco Soares, cada turma terá apenas um dia «com aulas de manhã e tarde».

Os intervalos, apesar das recomendações do Ministério, não serão passados dentro da sala de aula. «Temos espaço suficiente, ao ar livre, e vamos aproveitar para arejar as salas», justifica.

E haverá alunos que vão ficar em casa? O diretor da Secundária Pinheiro e Rosa ainda não tem, «por enquanto, nenhum reporte nesse sentido», mas é algo «que é expectável».

«Temos de pensar no seguinte: nós temos um sistema organizado no pressuposto do ensino presencial e agora tivemos de pensar em tudo de novo. Isto tem trazido dificuldades, como é óbvio. E estamos agora a tentar encontrar a solução que responda com maior eficiência», confessa.

Quanto aos professores, o Ministério da Educação, nas orientações que emitiu, dá a possibilidade aos docentes, que integrem grupos de risco, de não voltar.

Na Pinheiro e Rosa, «não há nenhum caso conhecido», mas, a nível regional, Alexandre Lima confessou que «há problemas a acontecer pontualmente».

«Estão a ser contratados os professores possíveis para colmatar isto, mas nós temos aqui uma dificuldade, que já era conhecida, no que toca às colocações. Existe a possibilidade de os próprios diretores darem horas extraordinárias aos professores que já estão na escola. Nós estamos a trabalhar ao dia, mas ainda hoje soube de uma escola em que cinco professores não irão», disse o delegado regional de Educação ao nosso jornal.

A Escola Secundária Dr. Jorge Augusto Correia, de Tavira, é um desses casos. «Temos alguns professores que não vão voltar», disse, ao Sul Informação, o diretor José Baía.

 

 

José Baía

 

Para estes casos, foi arranjada uma solução inovadora. «Os professores da turma vão ficar em casa a dar aulas à distância com os alunos na sala e um outro professor, da mesma disciplina, a acompanhar, para poder tirar dúvidas aos alunos. Sei de casos em disciplinas como Matemática e Filosofia», explicou este responsável.

E isto não será como se continuasse o ensino à distância? «Têm lá um docente, para dúvidas, o que é sempre diferente», responde José Baía.

Também nesta escola, serão «cerca de 300» os alunos a regressar. Em termos logísticos, já está tudo preparado: «acabámos de reajustar o Plano de Contingência e temos material de proteção individual».

Os horários são novos, haverá um aluno por secretária e a permanência dos estudantes na sala, durante os tempos de pausa.

«Nós aqui, para cumprir as medidas de distanciamento social, não vamos pôr mais de 12, 13 alunos nas salas», exemplifica. Nenhuma turma, de resto, terá aulas nos dois períodos do dia.

Para o diretor da Secundária Jorge Augusto Correia, o distanciamento físico entre alunos poderá ser um problema. «Nós não teremos um polícia para cada aluno, mas esperemos que eles estejam sensíveis às regras e que as cumpram. Contamos com o civismo da parte deles», atira.

Na Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, em Portimão, esta também é uma preocupação. «Existem receios, claro, porque estamos a falar de jovens, adolescentes. Ainda assim, temos os funcionários devidamente alertados para avisar os alunos, caso seja necessário. Os professores também farão esse trabalho de sensibilização», garantiu, ao Sul Informação, Paulo Mateus, subdiretor desta escola.

 

 

Neste estabelecimento, também serão seguidos «todos os procedimentos da Direção-Geral da Saúde e da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares, no que toca à separação de alunos ou higienização».

«Tivemos formação por parte da Marinha, recebemos material de proteção individual, estamos a preparar-nos e vamos ver como será a recetividade dos alunos. Sem ser a falta de tempo, não houve nada que nos tenha faltado», diz este responsável.

As Forças Armadas, de resto, estiveram em todas as escolas secundárias do Algarve para ações de formação e sensibilização, tendo em vista a desinfeção dos espaços.

No total, em Portimão, vão regressar 17 turmas e há já um caso conhecido de um professor que «não voltará», sendo substituído por outro docente, dos quadros da escola.

Como se sabe, a Escola Manuel Teixeira Gomes teve um foco de contágio de Covid-19. O primeiro caso conhecido na região foi, aliás, de uma aluna desta escola. Será isto um fator de maior medo? Paulo Mateus, subdiretor, explica como a escola esteve fechada «por 15 dias e, agora, há uma limpeza diária de todos os espaços».

A opinião consensual, neste regresso às aulas presenciais, é que tudo «é pensado dia a dia». «As situações vão surgindo e o que nós planeámos até poderá ter de ser ajustado», exemplifica Paulo Mateus.

«Acredito que há regras definidas hoje e que, quando chegarmos a segunda-feira, vamos perceber que poderá ser necessário reajustes», ilustra, por sua vez, o delegado regional Alexandre Lima.

É que o regresso, reconhece José Baía, diretor da Escola Secundária Jorge Augusto Correia, «não deixa de ser um risco». Agora, «ficar em casa a vida toda também não me parece solução», conclui.

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

 

 

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