Turismo pôs “travão” no recrutamento e desemprego disparou 12,8% no Algarve

Delegada regional do IEFP diz que Covid-19 criou uma situação «totalmente inesperada»

O Verão aproxima-se, mas o setor do Turismo tem a porta fechada ao recrutamento de trabalhadores, devido à incerteza causada pela pandemia de Covid-19. Resultado? Em Março, de acordo com os dados divulgados hoje pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional, no Algarve o número de desempregados inscritos subiu 41,4% em relação ao mesmo mês do ano passado.

A subida do desemprego no Algarve foi 14 vezes maior do que aquela registada a nível nacional, que se fixou nos 3%, e isso deve-se ao panorama regional de recrutamento: ligado ao Turismo e à sua atividade sazonal.

Para se perceber como é grave a situação do desemprego na região algarvia, o Alentejo foi a segunda região a sofrer um maior aumento homólogo, mas aí só cresceu 9,8%.

Os primeiros meses do ano costumam ser pródigos em feiras de recrutamento e contratação massiva de trabalhadores. Nos últimos anos, as empresas turísticas queixaram-se de falta de mão de obra. Este ano não vai ser assim.

De acordo com o boletim estatístico do IEFP, no final de Março, havia 21636 inscritos nos centros de emprego do Algarve, mais 6331 do que no mesmo mês de 2019.

Se nos primeiros meses do ano costuma haver uma tendência de descida progressiva dos desempregados inscritos, em 2020 isso não aconteceu: em relação ao mês de Fevereiro, o número de inscritos subiu de 19188 para 21636 (+12,8%).

No que diz respeito ao número total de inscrições nos serviços de emprego do Algarve, a subida percentual em relação a Março de 2019 ainda é maior: 151,3%.

Ao todo, houve 4426 inscrições no IEFP, mais 2665 do que em Março de 2019 e mais 2298 do que em Fevereiro deste ano. No entanto, um trabalhador pode fazer mais do que uma inscrição ao longo do mês, por exemplo, caso deixe o emprego durante o período experimental, por sua iniciativa, ou por iniciativa do empregador.

Madalena Feu, delegada regional do IEFP, explicou ao Sul Informação que «isto aconteceu numa altura em que o desemprego estava a descer no Algarve. Os hotéis, a restauração começam a recrutar com o Carnaval, com a Páscoa e prosseguem até ao Verão. Fevereiro é a época alta do golfe e houve inscritos a sair nessa altura. No entanto quem saiu em Fevereiro, com a paragem do golfe, voltou em Março».

 

Madalena Feu

A responsável realça que «devido ao fecho de fronteiras provocado pela pandemia e às medidas de contenção para evitar a propagação do vírus houve naturais quebras da atividade num setor que é preponderante. O Algarve vive 90% do setor do turismo e, por isso, é uma região que sofre mais do que as outras. Como costuma dizer o Dr. Vítor Neto, presidente do NERA, o Algarve não tem Turismo a mais, tem é os outros setores a menos».

A situação, sendo expectável, tendo em conta o que se passou no último mês, «era totalmente inesperada há 30 dias. Tudo mudou. Parece que isto dura há um ano, mas há apenas um mês que estamos a viver esta situação».

Apesar do cenário que não se afigura brilhante, para os próximos meses no Algarve, Madalena Feu acredita que a situação vai «recompor-se» e lembra que «na crise, entre 2009 e 2015, o Algarve foi a primeira região que viu disparar o desemprego, mas foi também a primeira a recuperar. Aqui vai acontecer o mesmo».

No entanto, há indícios de que essa recuperação poderá não acontecer em 2020, uma vez que há hotéis a ponderar não reabrir portas este ano, tendo em conta que, mesmo no Verão, as taxas de ocupação esperadas rondam os 15% a 25%.

De acordo com os dados do IEFP, há outra má notícia, apesar de ser previsível: as ofertas de emprego caíram também a pique no terceiro mês do ano. Há menos 817 ofertas de emprego no Algarve, em Março de 2020, do que em 2019 (-59,2%).

Comparativamente a Fevereiro deste ano, a descida do número de ofertas foi de 30,1% (-243). Estão ativas, no Algarve, 563 ofertas de emprego.

Madalena Feu realça que estes dados «acabam por estar sempre alinhados. Menos postos de trabalho disponíveis, levam a mais desemprego. Toda a oferta do setor turístico, que é a que, nesta altura, costuma existir, sofreu uma quebra».

A quebra na procura de trabalhadores, principalmente por parte da hotelaria, também chegou às empresas de trabalho temporário. Ricardo Mariano, CEO da Timing, adiantou ao nosso jornal que a sua faturação «em Abril será entre 20 a 25% das nossas previsões». Ou seja, a quebra pode atingir os 80%.

«Em Março, não tivemos quebra homóloga, mas foi porque estávamos em fase de crescimento», acrescentou o empresário.

A nível nacional, no final do mês de Março havia 343.761 desempregados registados em Portugal, mais 9.985 do que no mesmo mês do ano passado. Já em relação a Fevereiro, houve mais 28.199 inscritos.

«Para o aumento do desemprego registado, face ao mês homólogo de 2019, contribuíram todos os grupos do ficheiro de desempregados, com destaque para os homens, os adultos com idades iguais ou superiores a 25 anos, os inscritos há menos de um ano, os que procuravam novo emprego e os que possuem como habilitação escolar o secundário», enquadra o IEFP.

 

Ajude-nos a fazer o Sul Informação!
Contribua com o seu donativo, para que possamos continuar a fazer o seu jornal!

Clique aqui para apoiar-nos (Paypal)
Ou use o nosso IBAN PT50 0018 0003 38929600020 44




Comentários

pub