Pais algarvios querem igualdade no acesso à universidade e no ensino à distância

Pais não rejeitam a hipótese do ano letivo ser prolongado, para os alunos do 12º ano

Medidas que assegurem a equidade entre os alunos de todo o país no acesso ao Ensino Superior, com exames baseados na matéria dada em aulas presenciais, e adequação dos métodos e conteúdos do ensino à distância precisam-se, defende a Federação de Associações de Pais do Algarve (FRAPAL).

Os representantes dos encarregados de educação algarvios vieram a público mostrar a sua preocupação com o facto de o regresso às aulas presenciais ainda ser uma incerteza e com as consequências que isso pode trazer para a evolução dos alunos – e as desigualdades que pode fomentar.

Num comunicado, a federação diz compreender que, «dada a situação atual do país e os consequentes prolongamentos do estado de emergência, não existe outra hipótese que não seja passar pela aplicação de conteúdos online para finalizar o ano letivo».

No entanto, não esconde «duas grandes preocupações: a primeira – e mais sensível-, acesso ao ensino superior. A segunda, o método e conteúdos de ensino à distância».

O Sul Informação falou com Nuno Sousa, presidente da FRAPAL, que explicou que, no que ao ensino Superior diz respeito, o que os pais e encarregados de educação querem garantir que há oportunidades iguais para todos os que se vão candidatar ao ensino superior.

«As nossas preocupações em relação ao 12º ano devem-se ao facto deste ser um ano crítico e de acesso à faculdade. Não queremos que saiam prejudicados, devido à flexibilização curricular. Como as matérias, a nível nacional, são diferentes, nós temos de garantir que o que vai aparecer no exame será aquilo a que todos conseguiram ter acesso em aulas presenciais, caso não se consiga garantir a capacidade de ministrar essas aulas à distância», defendeu.

A sugestão da federação é que seja feito «um levantamento dos conteúdos lecionados por todas as escolas do ensino público e privado», para ajudar ao processo de elaboração dos exames. «Só assim entendemos estarem garantidos os mecanismos para uma avaliação e candidatura justas ao acesso ao ensino superior».

 

Escola Secundária de Olhão – Imagem de Arquivo

 

Como alternativa, a FRAPAL admite o adiamento dos exames, caso o Ministério da Educação consiga «garantir a possibilidade de voltarmos a ter as escolas abertas e terminar o ano letivo, mesmo que um pouco mais tarde, dotando as escolas de todas as medidas preventivas para evitar um novo surto da Covid-19».

«Dada a situação crítica que o país está a enfrentar e que estes jovens que vão aceder ao Ensino Superior vão começar uma nova etapa de pelo menos três anos, não vejo qualquer inconveniente de se adiar ligeiramente o acesso. Em vez de entrarem em Setembro, os alunos entrariam em Outubro ou Novembro. Não vejo que haja problemas por aí. Não são um ou dois meses que vão fazer a diferença no percurso universitário destes alunos», considerou Nuno Sousa.

Por outro lado, os pais e encarregados de educação algarvios estão preocupados com a forma como será garantido o ensino à distância, na região.

«Conhecendo a realidade do Algarve – e sabendo de antemão que não existem condições tecnológicas nos lares de alguns alunos para garantir os requisitos mínimos necessário para um ensino à distância -, propomos que o governo procure fazer um levantamento das condições dos lares dos portugueses e aja junto das empresas tecnológicas do nosso país criando uma parceria, e garanta o acesso gratuito a um banda larga, por tempo limitado, e um tablet para apresentação de conteúdos a todos aqueles que não reúnam as condições. Só desta forma conseguiremos ter a certeza de um dispositivo de uso exclusivo por aluno, reduzindo assim as diferenças económicas e garantindo uma equidade no acesso ao ensino», defende a FRAPAL.

A federação também pede que seja feito «um levantamento de que conteúdos devem ser lecionados, pois acreditamos que, com a flexibilização curricular, os currículos de cada escola, cada agrupamento estão muito fragmentados, mas o importante é cumprir o currículo por todos».

«O Ministério da Educação deverá, com alguma urgência, definir a sua estratégia, definir regras e propor o uso a nível nacional de plataformas uniformes, não esquecendo de formar os professores e alunos na sua utilização», acrescenta.




Entretanto, este sábado, foi anunciado que o Governo pretende avançar para a telescola, a ser transmitida em canal aberto na televisão pública RTP.

Na visão de Nuno Sousa, esta solução, só por si, não chega.

«Hoje em dia, com o acesso à informação que as crianças têm, se não for algo dirigido e interativo é difícil. Nos dias que correm, já há poucos alunos nas escolas com real vontade de lá estar. Como é que garantimos que as crianças que estão a assistir a essas teleaulas conseguem tirar dúvidas no momento e que há uma interatividade?», questiona.

«No fundo, é apenas um paliativo, que passa por acreditar que todos os alunos vão ver. O problema é que nem todas as crianças têm pais preocupados com o seu ensino. No Algarve, temos uma população muito infoexcluída e com mais baixa escolaridade. Se for num registo opcional, não acho que vá funcionar bem», acrescentou o presidente da FRAPAL.

A entidade que junta as associações de pais e encarregados de educação do Algarve, no comunicado que emitiu, mostrou-se preocupada com o facto de «2/3 da população do Algarve não ter conhecimentos e capacidade para se substituir aos professores, muito menos os avós, que muitas vezes são os cuidadores nesta fase, para que os pais consigam manter os empregos».

Desta forma, «os conteúdos terão que garantir a autonomia dos alunos, mas não descurando o facto que temos que criar conhecimento, uma tarefa muito complexa no tempo que nos espera».

No que ao ensino à distância baseado nas novas tecnologias diz respeito, a federação aponta algumas dificuldades, apesar de reconhecer «que os alunos – ou, pelo menos, uma parte deles – estão hoje em dia cada vez mais aptos a usar novas tecnologias».

No entanto, e uma vez que não existe no currículo do 1º ciclo uma disciplina não opcional com conteúdos de Tecnologias de Informação e Computadores, «não conseguimos garantir uma qualidade de ensino à distância».

«Sabendo que é possível, com alguma facilidade, recuperar conteúdos no 1º ciclo, pensamos que não será premente – ou uma prioridade – a conclusão do ano letivo para o ensino pré-escolar e 1º ciclo. Os alunos dos níveis de ensino menos críticos devem ser avaliados tomando em consideração apenas as avaliações até ao momento e deveremos iniciar o próximo ano letivo seguinte mais cedo e compensar os conteúdos eventualmente em falta neste ano», considerou a FRAPAL.

«Acreditamos que, a partir do 2º ciclo, os alunos já possuam alguma capacidade para lidar com computadores, tablets, mas estamos convictos de que não será o suficiente para dominar alguma das plataformas adotadas pelos agrupamentos. O 3º ciclo e o secundário, por outro lado, já terão condições para se adaptar com menos dificuldade e olhar para esta nova era, para este desafio, e fazer um esforço para conseguirmos ultrapassar os meses que se avizinham», acrescentou.

Também «os mecanismos de avaliação, ainda inexistentes, nomeadamente com os ciclos de ensino onde terá que existir uma escolha dos alunos, ou em momentos de transição de ciclos que sejam mais exigentes» preocupam os pais. «Talvez seja tempo de refletir se os exames do 9º ano sejam realmente importantes neste ano excecional».

«Deve ser encarado este resto de ano letivo como uma aprendizagem para uma educação mais tecnológica, dotando os alunos e os professores de mecanismos para usar num futuro próximo, amadurecendo ideias e aprendendo com este período-piloto», concluiu a FRAPAL.

 

 

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