Migrantes recebem kits de combate à Covid-19 porque «queremos que sejam bem tratados»

Há conversações a decorrer, com as outras autarquias da região, para expandir esta iniciativa

Panfletos na língua dos seus países de origem, máscaras e gel desinfetante. Estes são os produtos que compõem os 50 kits entregues, na manhã desta quinta-feira, 16 de Abril, em Quarteira, a um grupo da população que pode sofrer muito com a Covid-19: os imigrantes. Cláudia Pereira, secretária de Estado das Migrações, participou nesta iniciativa e deixou uma garantia: «contem connosco para aquilo que for preciso». 

O Centro Comunitário António Aleixo foi o local escolhido para a entrega dos kits, em que participaram pessoas (os chamados líderes de grupo) de cinco nacionalidades: Argélia, Índia, Bangladesh, Paquistão e Nepal. Agora, cada um será encarregue de distribuir 10 kits pela sua comunidade.

É que, entre a população imigrante do Algarve e do Baixo Alentejo, há uma grande franja de trabalhadores agrícolas, muitos a viver em locais sem condições de higiene, o que propicia a propagação do vírus. Neste momento, há três focos de Covid-19 em migrantes, em Tavira, Albufeira e Armação de Pêra (Silves).

 

 

A mesma iniciativa também aconteceu esta tarde, em Armação de Pêra, com a Câmara de Silves a entregar kits idênticos aos seus trabalhadores migrantes. Segundo José Apolinário, secretário de Estado que é agora o coordenador regional do Estado de Emergência no Algarve, decorrem conversações, com as outras autarquias da região, para expandir a iniciativa.

O grande objetivo, com a entrega dos kits, é sensibilizar, transmitindo informação na língua de origem destas pessoas, uma vez que muitos ainda não falam português.

«Esse é o nosso principal foco: prevenir ao máximo a propagação da Covid-19, fazendo com que a informação de que estas pessoas necessitam esteja na sua própria língua», resumiu Cláudia Pereira, aos jornalistas.

Cristina Gatões, diretora-geral do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), confessou que a questão da Covid-19 junto destas populações «é uma preocupação».

 

 

«Neste momento, o que nos preocupa mais não é a fiscalização. É evidente que estamos a atuar perante as empresas que possam estar a aproveitar-se da pandemia, mas o que queremos é dar apoio a estes colaboradores, para que, se precisarem de apoio, o tenham», disse Cristina Gatões ao Sul Informação. 

Por isso, «são importantes ações de sensibilização para que as pessoas estejam alerta», acrescentou.

Neste sentido, a secretária de Estado Cláudia Pereira garantiu que, no Algarve e em Odemira, «como têm mais imigrantes, estamos a fazer mais ações e mais reforçadas para chegar a populações com vulnerabilidade acrescida».

A nível local, explicou ainda, «o que está a ser feito é a articulação com os coordenadores regionais, para que possamos chegar às habitações destas pessoas, para que sejam separadas em espaços de quarentena, se necessário».

José Apolinário, coordenador regional do Estado de Emergência no Algarve, não avançou «números concretos do número de imigrantes no Algarve, uma vez que há uma mobilidade interna muito grande».

O governante falou, por exemplo, de 18 trabalhadores que «chegaram esta quarta-feira de Odemira para uma unidade agrícola em Tavira», deixando, porém, a certeza de que o Governo estará sempre ao lado destas pessoas.

 

 

«O que estamos a fazer, por um lado, é, cada vez que somos alertados para situações de carência social, agir de imediato. Por outro, estamos a tentar perceber a evolução da situação e as necessidades do ponto de vista social. Quanto mais depressa acabarmos com esta situação, mais rapidamente conseguimos mitigar esta pandemia», disse.

Até dia 30 de Junho, de resto, está em vigor um despacho do Governo que regulariza os imigrantes durante a atual pandemia. Ou seja: aqueles que ainda têm processos pendentes no SEF têm, agora, um género de autorização de residência temporária, que permite, por exemplo, aceder a apoios sociais ou ao Serviço Nacional de Saúde.

Como referiu a secretária de Estado, esta medida, «única na Europa, quer mitigar todos os efeitos desta pandemia a nível social e de saúde».

Na sessão, que também foi de esclarecimento, os representantes de cada nacionalidade aproveitaram para expressar preocupações com o futuro dos seus trabalhos, com a ajuda de dois tradutores.

Os responsáveis políticos ouviram e a secretária de Estado com a pasta das migrações concluiu com uma frase forte: «queremos que sejam tão bem tratados em Portugal, como os portugueses o são no estrangeiro».

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

 

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