Estará a Banca portuguesa preparada para a evolução digital?

A evolução aconteceu, e aconteceu muito rápido

Hoje em dia, os portugueses vivem um estilo de vida mais acelerado, o que lhes retira tempo para se deslocarem a quaisquer Instituições, a fim de resolverem os mais variados assuntos. Deste modo, torna-se desejável que a informação seja disponibilizada em tempo real e de forma acessível.

E é precisamente nesse sentido que a evolução digital tem vindo a contribuir para satisfazer essa necessidade de proximidade e rapidez, pelo que o setor bancário não foi exceção. Mas estará a sociedade portuguesa preparada para estas mudanças?

Portugal é um país com uma população tendencialmente envelhecida, onde, segundo dados de 2018 obtidos pela PORDATA, os idosos (indivíduos com mais de 65 anos) representam cerca de 22% da população, sendo que, por cada idoso existem cerca de três indivíduos em idade ativa (entre os 15 e 64 anos).

A Banca em Portugal assume características conservadoras e tradicionalistas acompanhando, de certo modo, a evolução demográfica que se tem verificado.

Após a crise do setor financeiro de 2008, a Banca viu-se obrigada a rever os seus métodos numa tentativa de se reerguer, pelo que foi necessário recorrer às mais variadas estratégias para combater os danos causados. Muitos bancos tiveram de encerrar balcões, outros enveredaram por fusões entre os pares, houve os que não resistiram e, por fim, os que optaram por se readaptar.

No decorrer de todo este processo de reestruturação, a cartada comum para todos os bancos foi a aposta na vertente digital, seguindo os passos de muitas instituições bancárias internacionais. Uma banca rejuvenescida, prática e disponível 24 horas por dia, de forma a proporcionar autonomia e tempo ao cliente.

Começaram a surgir as aplicações de homebanking adequadas a todo o tipo de smartphone. O leque de opções que este novo meio veio proporcionar ao cliente tornou-se mais abrangente. Além da consulta de movimentos, das transferências e dos pagamentos, há também outras opções que, num passado recente, eram totalmente impensáveis como efetuar levantamentos em ATM através da aplicação e sem necessidade de cartão bancário físico e pagamentos em TPA através de códigos gerados no smartphone. Tudo isto se deve à criação do «MBWay».

Há instituições bancárias que já possuem estas funcionalidades incorporadas nas suas aplicações de homebanking. O que é certo, é que a evolução aconteceu, e aconteceu muito rápido.

Todos estes métodos inovadores ganharam adeptos nas camadas mais jovens. No entanto, dada a estrutura demográfica portuguesa, terá esta evolução digital no setor bancário aceitação por parte da população sénior? Talvez, porque não?

Considero que é possível combater a resistência à mudança, recorrendo a estratégias de abertura para a desmistificação do tema, por exemplo:

– Apostar em parcerias entre as Instituições de Ensino Superior e organizações de apoio à população sénior por forma a fomentar a literacia financeira;

– Promover ações de esclarecimento por parte da banca aos seus clientes, elucidando-os para as vantagens e também os cuidados a ter aquando o uso dos serviços de homebanking;

– Promover a sustentabilidade, na medida em que através da utilização assídua das aplicações de homebanking é possível reduzir o consumo de papel (pelo facto de haver uma menor necessidade de recorrer a impressões e também pela possibilidade de existirem muitos procedimentos passiveis de serem concretizados através de assinatura digital) e de plástico (não havendo utilização de cartão físico, reduzem-se as retenções dos mesmos em ATM e consequentemente a emissão de cartões de substituição).

Começaram também a surgir as denominadas «Fintechs», que são instituições de moeda eletrónica, que pressupõem custos mais baixos na prestação do serviço do que os obtidos na Banca tradicional, na medida em que é tudo 100% virtualizado, não possuindo qualquer espaço físico de atendimento ao cliente, em que todos os procedimentos são realizados via websites e aplicações de smartphone.

Estas «Fintechs» têm ganho uma quota considerável no mercado, uma vez que são uma alternativa ao cartão de crédito e permitem a conversão instantânea e gratuita da moeda.

É importante que os indivíduos estejam cientes de que os bancos trabalham em prol da segurança dos seus dados, quer pessoais quer bancários, através de diretivas promovidas pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da União Europeia aplicáveis a todos os Estados-Membro que compõem a União Europeia (UE), sendo que também as alternativas à Banca tradicional estão sujeitas a esse tipo de regulamentação.

Em suma, a evolução tecnológica do setor bancário é um processo que está realmente a acontecer e que veio para ficar. É possível que, com tempo e abertura suficiente para falar do assunto, aos poucos a população portuguesa mais reticente à utilização destes meios venha a explorar e a utilizar este tipo de serviços, uma vez que, citando Luís Vaz de Camões «mudam-se os tempos, mudam-se as vontades».

 

Autora:
Rita Belém da Silva é membro estagiário da Ordem dos Economistas. Licenciada em Gestão de Empresas pela Faculdade de Economia da Universidade do Algarve.
Durante o seu percurso académico, cumpriu dois mandatos como presidente da Mesa da Assembleia Magna e um mandato como elemento do Conselho Fiscal da Associação Académica da Universidade do Algarve.
Defende que são as pessoas que fazem as empresas, sendo apologista de que estas devem apostar nos seus colaboradores, ao invés de os considerar apenas um número.
Desempenha atualmente funções na Banca.

 

Nota: artigo publicado ao abrigo do protocolo entre o Sul Informação e a Delegação do Algarve da Ordem dos Economistas

 

 

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