Defensores do Centro de Experimentação de Tavira vão manter-se «vigilantes»

Movimento de cidadãos defende a elaboração de uma estratégia para a reabilitação do CEA de Tavira

O Movimento de Cidadãos pela Defesa do Centro de Experimentação Agrária (CEA) de Tavira vai manter-se «vigilante», apesar da anunciada Declaração de Impacto Ambiental (DIA) negativa ao projeto de uma estrada que atravessaria esta propriedade, onde existe uma coleção de fruteiras tradicionais algarvias única.

O ministro das Infraestruturas e da Habitação, numa resposta ao Grupo Parlamentar do PSD, revelou que «a Declaração do Impacte Ambiental do projeto refere agora que não existem condições favoráveis para emitir decisão favorável à solução técnica apresentada pela Infraestruturas de Portugal».

Apesar da garantia dada pelo governante, na Assembleia da República, ainda não há qualquer documento oficial que ateste isso, nem nos sites da Agência Portuguesa do Ambiente(APA) ou do portal Participa.

«Se a situação noticiada relativa à DIA se confirmar, temos que nos manter vigilantes e continuar a lutar pela salvaguarda do CEA. Temos que assegurar que nenhuma outra estrada, em alternativa, venha a passar por aquele espaço», considerou o movimento, numa nota de imprensa.

Para o grupo de cidadãos, «é fundamental constituir uma dinâmica participativa para tecer uma estratégia de reabilitação multidisciplinar daquele espaço, de máxima importância para a região e para a cidade, com foco nas práticas de agricultura regenerativa, agricultura biológica e agro ecológica, fomentando hortas comunitárias e o livre acesso a mudas de variedades regionais, com a garantia de que não serão patenteadas, visto serem um património e herança de toda a Humanidade»

Ao mesmo tempo, é preciso «fazer a gestão ecológica da água, de modo a que o espaço seja um garante de soberania hídrica e alimentar».

 




 

«Ao defendermos o CEA, estamos a lutar para salvar a biodiversidade. Um sistema com uma taxa elevada de biodiversidade pode responder corretamente às mudanças climáticas e ter ele mesmo uma importantíssima função reguladora do clima, mantendo constantes as condições, aliviando o aquecimento global e protegendo a nossa região do risco elevado de perturbação hidrogeológica, que, neste momento, já se faz sentir», acrescentou o movimento.

Quanto à coleção de fruteiras tradicionais, património natural que inspirou, em grande medida, a luta destes cidadãos em defesa do CEA de Tavira, assumem um papel central neste desígnio, uma vez que «as variedades definidas como autóctones ou locais caracterizam-se por uma boa adaptação às condições ambientais da própria região e têm menor necessidade de recursos externos, como água e fertilizantes. São mais rústicas do que a maioria das variedades “padrão” e mais resistentes ao stress ambiental. A sua capacidade de obter melhores resultados na nossa região, à qual se adaptou há tantos anos, representa um importante recurso agrícola e uma ferramenta fundamental para a autossuficiência alimentar».

«Realçamos que, a confirmar-se, esta não aprovação do projeto pela APA é uma rejeição da posição oscilante do Diretor Regional de Agricultura, que numa semana dizia uma coisa e noutra semana apresentava um discurso totalmente diferente. É também uma reprovação da atitude da Câmara Municipal de Tavira que decidiu à porta fechada e não conseguiu compreender que o atravessamento fragmentaria e destruiria o potencial ecológico, científico, pedagógico, cultural e agrícola daquele espaço comum», concluiu o movimento, que aproveitou para realçar «a importância da cidadania ativa, que neste, como em outros casos, foi o motor da divulgação pública da situação e da consciencialização dos prejuízos que esta acarreta».

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