Covid-19: Metade dos portugueses sente impacto psicológico «moderado a severo»

Esta é uma das conclusões, «e talvez a mais preocupante» do estudo

Quase metade (49,2%) dos portugueses classifica o impacto psicológico da pandemia da Covid-19 como «moderado a severo», segundo um estudo desenvolvido pela Mind – Instituto de Psicologia Clínica e Forense, que foi hoje divulgado.

Esta é uma das conclusões, «e talvez a mais preocupante» do estudo, destacou, num comunicado, Mauro Paulino, coordenador da Mind e um dos responsáveis da investigação, que também contou com a colaboração do Centro de Investigação em Psicologia da Universidade Autónoma de Lisboa e do Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro.

Através de um questionário ‘online’, que esteve disponível durante três dias (entre 24 e 27 de Março), ou seja, três semanas após terem sido confirmados os dois primeiros casos em Portugal e oito dias após a primeira morte por causa do novo coronavírus, foram obtidas 10.529 participações, com uma média de idades de 31,3 anos, e na sua maioria mulheres (8.785, correspondentes a 83,4% do total).

Mauro Paulino sublinhou que este trabalho contou com «uma das mais expressivas amostras, inclusive internacionalmente, sobre os danos psicológicos imediatos da Covid-19 sobre a população em geral», tendo como objetivo avaliar o impacto psicológico imediato da pandemia na sua fase inicial, bem como a sintomatologia de ansiedade, depressão e ‘stress’ entre os portugueses.

«Agora, é possível pronunciarmo-nos com base em dados rigorosos e nacionais», assinalou o psicólogo Rodrigo Dumas-Diniz, também responsável da investigação.

Os resultados obtidos permitem identificar vários fatores de risco, «mostrando que é necessária uma atenção especial para as mulheres, os desempregados, os que têm menos escolaridade, os que vivem em zonas rurais e os que experienciaram sintomas de gripe ou doenças crónicas», lê-se no comunicado.

Já a comparação dos resultados obtidos em Portugal com investigações chinesas mostra «diferenças importantes», sublinharam os responsáveis, revelando que apenas 7,6% dos participantes chineses relataram um impacto psicológico moderado a severo.

A explicação para a discrepância neste capítulo pode estar relacionada com a maior quantidade de informação dos participantes portugueses, uma vez que o surto chegou a Portugal várias semanas depois de ter surgido na China, e após uma grande cobertura mediática sobre o tema.

«A quantidade e a qualidade da informação recebida influenciam as reações psicológicas dos consumidores, pelo que, é recomendável que a mesma esteja limitada a informações oficiais e credíveis», frisou Mauro Paulino.

O estudo português mostra, tal como as investigações na China, que as participantes do sexo feminino relataram um maior impacto psicológico da pandemia, bem como maiores níveis de depressão, ansiedade e stress.

«As mulheres parecem correr um risco elevado de sintomas psicológicos, o que nos orienta sobre a urgência da intervenção», comentou Rodrigo Dumas-Diniz.

No total, 11,7%, 16,9% e 5,6% dos participantes relataram sintomas moderados a graves de depressão, ansiedade e níveis de ‘stress’, respetivamente.

«Existe o risco de que a prevalência de números clinicamente relevantes de pessoas com ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental aumente», alertaram os investigadores, considerando que os dados também indicam que os indivíduos sem perturbações mentais anteriores mostraram um impacto psicológico negativo imediato devido à pandemia.

Por seu turno, Sofia Brissos, médica psiquiatra que também integra a equipa de investigação, considerou que «serão os estudos longitudinais que irão demonstrar se, após o impacto inicial da pandemia, existe uma tendência para a estabilização, uma diminuição ou um agravamento dos sintomas psicológicos, especialmente, quando se sabe que os efeitos psicológicos podem persistir mesmo após o fim da pandemia».

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