Castro Marim contra decisão da delegada regional de manter migrantes «em quartos minúsculos»

Município responsabiliza «a autoridade sanitária regional pelo que venha a acontecer com aqueles trabalhadores e com a população local»

A Câmara de Castro Marim está contra a decisão da delegada regional de Saúde de manter 38 trabalhadores agrícolas tailandeses em «9 quartos minúsculos», devido à possível propagação da Covid-19, mas Ana Cristina Guerreiro garante que aceitou as condições de alojamento porque a moradia, que foi vistoriada, tem uma «grande dimensão, áreas amplas» e cumpre a «legislação que se aplica».

A polémica surgiu este sábado, 25 de Abril, quando a autarquia castromarinense emitiu uma nota de imprensa, onde se revelava contra esta decisão da delegada regional de Saúde.

Apesar de nenhum destes trabalhadores, que chegaram recentemente a Portugal para trabalhar, ter sido detetado com a Covid-19, Francisco Amaral queria que fossem dadas «condições dignas de salubridade» a estas pessoas.

Ao Sul Informação, o autarca, que é médico de formação, considerou que esta medida de prevenção, para evitar uma possível propagação da doença, seria a «mais adequada, num momento de pandemia».

A opinião é partilhada por Mariano Ayala, delegado de saúde local, que tomou, num primeiro momento, a decisão de não permitir que estes trabalhadores fossem alojados no local indicado pela empresa empregadora, na zona da Azeda (Castro Marim).

Trata-se de um técnico que Francisco Amaral considera ser «muito competente, responsável e que respeita à risca as indicações da Direção-Geral de Saúde de confinamento e distanciamento social».

Contactada pelo Sul Informação, Ana Cristina Guerreiro, delegada regional de Saúde, confirmou que tomou esta decisão «contrária àquela anteriormente tomada, de forma isolada, pelo delegado de saúde local». Numa resposta escrita enviada ao nosso jornal, a responsável apresenta os seus argumentos.

«Esta deliberação, que autoriza a utilização da referida moradia como alojamento temporário de trabalhadores, foi tomada em articulação com uma equipa local, nomeadamente com o delegado de saúde coordenador e duas técnicas de Saúde Ambiental do Agrupamento de Centros de Saúde (ACeS) Sotavento, e teve por base diversos pedidos de reconsideração da decisão inicial, fundamentos técnicos e legais», diz.

Houve, segundo Ana Cristina Guerreiro, uma «vistoria à referida moradia» que tem uma «grande dimensão e áreas amplas».

 

 

Para a decisão da delegada regional também contribuiu a «argumentação apresentada pela empresa, numa exposição que apresentou às entidades competentes, tendo em consideração as características da habitação» e «respeitando o disposto na legislação que se aplica».

Ainda assim, a delegada regional de Saúde diz que aceitou a «utilização para o alojamento dos trabalhadores, conforme solicitado pela empresa, desde que adotem regras na utilização dos espaços comuns, evitando acumulação de hóspedes simultaneamente em cada divisão, proporcionando o distanciamento social recomendado e tomando as refeições por turnos, desfasados».

Só que, relembra a Câmara de Castro Marim na nota de imprensa que enviou este sábado, aconteceu um episódio idêntico a este, «há algumas semanas, em Monte Francisco».

Nesse caso, «o delegado de Saúde Local e o comandante da GNR de Castro Marim» decidiram que 16 trabalhadores asiáticos não tinham «as condições mínimas» de alojamento.

A empresa responsável acabou por alojá-los em Pedras del Rei (Tavira) e, mais tarde, «acabou por se revelar que os trabalhadores desencadearam um foco de Covid-19 entre eles».

Na nota de imprensa, o Município não é brando nas críticas e responsabiliza mesmo «a autoridade sanitária regional pelo que venha a acontecer com aqueles trabalhadores e com a população local».

A Câmara de Castro Marim apela, ainda, a José Apolinário, coordenador regional de combate ao Covid-19, «uma posição inequívoca e defensora da saúde dos munícipes de Castro Marim e dos algarvios».

O Sul Informação contactou José Apolinário, que se limitou a responder que «o assunto está a ser tratado pela Autoridade de Saúde e Direção Regional de Agricultura e Pescas».

Quanto à delegada regional de Saúde, conclui dizendo que «o processo de validação de habitações para alojamento provisório de trabalhadores agrícolas, em plena epidemia Covid-19, tem sido frequente nos últimos dois meses, acompanhado de perto, em articulação com os delegados saúde locais, sendo necessária alguma harmonização regional, de modo a não gerar ou acentuar desigualdades de tratamento nos processos».

Isto porque, sublinha, «a principal prioridade de todas as decisões tomadas é sempre garantir e salvaguardar a saúde das populações».

 

 

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