Tomar ibuprofeno agrava a infeção pelo novo coronavírus? É falso!

Verificação de factos feita pelo Polígrafo

O QUE ESTÁ EM CAUSA?
Está a ser partilhada via WhatsApp uma mensagem que alerta contra o uso do anti-inflamatório ibuprofeno em caso de sintomas do Covid-19, sublinhando que a toma desde medicamento “acelera a multiplicação do vírus”.
Mas o Infarmed assegura que “não existem, atualmente, dados científicos que confirmem um possível agravamento da infeção por Covid-19 com a administração de ibuprofeno ou outros anti-inflamatórios não esteróides”.
“Informação preliminar, estão a estudar a razão do percurso da doença em Itália ser mais grave. Um dos fatores foi a maioria dos doentes ter tomado ibuprofeno em casa. Juntaram o vírus e ibuprofeno no laboratório e chegaram à conclusão que a administração de ibuprofeno acelera a multiplicação do vírus e que está relacionado com percurso mais grave da doença. Recomendam evitar ibuprofeno e administrar paracetamol, aspirina, diclofenac”, pode ler-se no texto em causa.

A mensagem vem acompanhada de um estudo de uma revista científica. Confirma-se que tomar ibuprofeno agrava a infeção pelo novo coronavírus?

No artigo, os investigadores afirmam que o ibuprofeno aumenta a quantidade no organismo da enzima ACE2 que são recetores utilizados pelo novo coronavírus para entrar nas células humanas. Quanto mais ACE2 no organismo, as probabilidades de contrair a doença aumentam também. Porém, sublinha-se que ainda são dados sujeitos a confirmação.

O Polígrafo questionou António Diniz, especialista em pneumologia e na área da infeção por VIH. “A revista é conceituada, é inegável. Mas estamos numa fase em que provavelmente não há tempo para se ter o mesmo critério de revisão dos artigos que se tem habitualmente”, começou por ressalvar.

“Do ponto de vista teórico, as coisas fazem algum sentido. Contudo, na dimensão do significado clínico, não me parece vir muito bem fundamentado“, sublinhou. “Atendendo a que foi publicado na revista que é, eu tenderia a dizer que sempre que for possível utilizar uma alternativa, é preferível. E esperamos por informações adicionais. O artigo não me parece suficientemente robusto mas, mesmo reticente, admito que possa acontecer“, conclui.

O pneumologista Filipe Froes, membro do Conselho Nacional de Saúde Pública, reforçou igualmente a importância e o prestígio da revista. Porém, sublinha que a o estudo “é totalmente omisso relativamente a aspetos essenciais”. E destaca: “É necessário justificar se tem a ver com o uso esporádico ou continuado e se falamos de toda a classe de medicamentos anti-inflamatórios não esteróides ou apenas do ibuprofeno“.

Dada a importância da revista para a classe médica, Froes admite: “Isto obriga-me a aconselhar os meus doentes a utilizar o paracetamol ou outro anti-inflamatório não esteróide enquanto as autoridades de saúde e do medicamento não esclarecerem este problema.”

Filipe Froes alertou-nos posteriormente para a publicação de um comunicado da Agência Espanhola de Medicamentos e Produtos Sanitários (AEMPS).

“A AEMPS relata que atualmente não há dados que confirmem um agravamento da infecção por Covid-19 com ibuprofeno ou outros anti-inflamatórios não esteróides, portanto, não há motivo para os pacientes estão em tratamento crónico com esses medicamentos os interrompam”, pode ler-se na missiva. Adianta-se ainda que a exaberbação de infeções com ibuprofeno ou cetoprofeno está a ser avaliada para toda a União Europeia no Comité de Avaliação de Risco de Farmacoviligância.

Em Portugal, o Infarmed também emitiu ontem uma nota informativa:

“O Infarmed, Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P. (INFARMED) informa que não existem, atualmente, dados científicos que confirmem um possível agravamento da infeção por Covid-19 com a administração de ibuprofeno ou outros anti-inflamatórios não esteróides. Neste sentido, não há motivo para os doentes que se encontrem em tratamento com os referidos medicamentos o interrompam”, assegura.

 

Avaliação do Polígrafo:

FALSO

 

Nota Editorial do Sul Informação: Este fact-check foi publicado originalmente no Polígrafo no dia 15 de Março, às 14:46 e pode ser lido aqui.

 

 

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