Fevereiro (quase) sem chuva deixa barragens do Algarve e Alentejo ainda mais vazias

Mais de metade do Algarve está em seca severa

Barragem do Beliche quase vazia – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

Um mês de Fevereiro (quase) sem chuva não permitiu aliviar a situação de seca no Sul do país, que já é extrema em quase todo o Algarve e em cerca de um terço do território dos distritos de Faro e Beja. A falta de chuva fez diminuir as disponibilidades hídricas, principalmente na Bacia do Guadiana, muito por culpa das barragens do Sotavento Algarvio.

Analisando os dados do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), não restam dúvidas que a situação no Sul de Portugal, principalmente no Algarve Central e no Sotavento, bem como no Sudeste alentejano, nomeadamente no concelho de Mértola, mas também de Almodôvar, continua crítica.

E, se o Algarve e Baixo Alentejo já estavam em seca moderada a severa em Janeiro, o facto de não ter caído chuva em Fevereiro levou a que a seca se tenha agravado de forma considerável em Fevereiro, como foi hoje divulgado pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), no seu Resumo Climatológico de Fevereiro (ver mapas abaixo).

A falta de pluviosidade levou, igualmente, a que, nas albufeiras das várias barragens do Algarve, o volume de água tenha diminuído para valores abaixo dos que tinham sido registados em Dezembro. A exceção foi a barragem de Odelouca, que viu o nível da água subir, em relação aos dois meses anteriores, em que os valores de precipitação foram bem mais elevados.

 

 

No Algarve, segundo o boletim de precipitação de Fevereiro do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos, a estação meteorológica da Albufeira da Bravura, em Lagos, registou 4,5 milímetros de chuva, ao longo de todo o mês passado, quando a média é de 89 mm.

Na estação de São Brás de Alportel, a discrepância é ainda maior. Em Fevereiro, foram registados 2,8 mm de precipitação, quando em média chovem 114 mm. No Nordeste Algarvio, mais precisamente em Martim Longo, a estação meteorológica local apurou que apenas caíram 0,5 milímetros de chuva, quando a média se fixa nos 58.

No Baixo Alentejo, a situação não foi muito diferente. As estações de Relíquias (2,9 mm em Fevereiro/ 90 média), de Castro Verde (3,3/66) e de Serpa (2,5/56) também registaram pouca chuva.

 

 

Sem chuva, o nível das albufeiras de praticamente todas as principais barragens das diferentes bacias hidrográficas do Sul de Portugal diminuiu.

No Sotavento Algarvio, as barragens de Odeleite e Beliche, que já estavam anteriormente com uma situação preocupante, viram a sua carga total descer cerca de um ponto percentual.

No primeiro caso, a albufeira de Odeleite estava, no final de Fevereiro, com 39,2 por cento da sua capacidade total, quando tinha acabado Janeiro com 40,2% e Dezembro com 39,4%.

Ou seja, já se perdeu parte da água que se foi acumulando nos meses anteriores, nomeadamente em Dezembro, em que a subida do nível de água armazenada, em relação a Novembro, foi significativa, graças à muita chuva que caiu no último mês de 2019.

Na Barragem de Beliche, a situação foi idêntica. Neste caso, a carga total fixava-se nos 32,4% em Fevereiro, quando foi de 33,3% e 32,6%, em Janeiro e Dezembro, respetivamente.

Comparando com a situação há um ano, a diferença, neste caso, é muito grande. Em Fevereiro de 2019, a barragem de Odeleite estava a 69,4% da sua capacidade máxima e a do Beliche a 61,4.

Estas duas barragens pertencem à Bacia Hidrográfica do Guadiana, que se estende desde o Alto Alentejo, ao longo do rio que lhe dá nome. Aqui, destaque ainda para as barragens do Alqueva (68,3%) e do Enxoé (50,5%).

 

Barragem do Beliche quase vazia – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Na Bacia Hidrográfica do Arade, as três principais barragens tem situações distintas. Enquanto a de Odelouca, usada exclusivamente para abastecimento humano, registou uma subida de nível, o mesmo não aconteceu com as do Arade e do Funcho, destinadas sobretudo à irrigação.

No final do mês passado, a Barragem de Odelouca estava com um volume de água armazenada de 52,9 por cento, acima dos 52,2% e 46,4% de Janeiro e Dezembro. Mesmo comparando com Fevereiro de  2019, houve um aumento em relação aos então 47,4% de carga.

A albufeira do Arade tinha armazenada, em final de Fevereiro, 50,9% da água que consegue comportar, quando em Janeiro tinha 51,1% e em Dezembro 51,3%. Já a barragem do Funcho estava a 78,9%, abaixo dos 80,1% e 79% dos meses anteriores.

No Alentejo, na Bacia Hidrográfica do Mira, a barragem de Santa Clara tinha um volume de água armazenada de 49,4%, no final do mês passado, não muito distantes dos 49,7% e 49,5% de Janeiro e Dezembro.

Na barragem de Corte Brique, a carga fixou-se nos 44,4%, no final de Fevereiro, acima dos 43,6% de Janeiro e dos 42% de Dezembro.

 

Aquíferos do Algarve

 

Estes números são mais preocupantes se se tiver em conta que os aquíferos (lençóis de água subterrânea) do Algarve estão, também, muito depauperados, segundo foi revelado por Paulo Cruz, da Agência Portuguesa do Ambiente/Região Hidrográfica do Algarve (APA/ARH), na Conferência Laranja XXI, que aconteceu durante a Mostra Silves Capital da Laranja.

Segundo este especialista, os maiores reservatórios de água do Algarve, «aqueles feitos pela natureza, os aquíferos subterrâneos», estão, neste momento, «abaixo do percentil 20. Esta é uma situação muito desfavorável».

Mesmo em Dezembro e Janeiro, em que houve alguma precipitação, esta não foi suficiente para mudar esta situação, devido às dificuldades de infiltração da água no solo, de modo a recarregar os aquíferos.

«As despedregas intensivas em zona de infiltração, nomeadamente nas serras algarvias, podem pôr em causa a reposição dos aquíferos», avisou Paulo Cruz.

Já no que toca às barragens, «no total, temos água para mais ou menos um ano civil. O problema é que a distribuição não é homogénea. O Barlavento Algarvio é mais chuvoso e o Sotavento é mais seco. Nas Barragens de Odeleite e do Belhiche, em Castro Marim, a água que ainda há não chega para um ano», disse.

«Temos de nos preparar para uma nova realidade. Há que fazer mais com o mesmo e, eventualmente, arranjar um pouco mais de água. Mas o enfoque terá de ser sempre a eficiência», concluiu Paulo Cruz.

 

Nota: Actualizado às 17h35 com os dados do Resumo Climatológico de Fevereiro do IPMA

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