Mudar regras dos vistos gold e taxar reformados estrangeiros será «um erro enorme»

Ricardo Arroja esteve em Olhão a convite da Delegação Regional do Algarve da Ordem dos Economistas

As alterações do regime de residentes não habituais e das regras dos Vistos Gold que o Governo quer operar são «um erro enorme», que «pode ser muito prejudicial ao Algarve», defendeu o economista Ricardo Arroja, durante mais uma sessão das “Conversas com a Ordem”, que decorreu no Real Marina Hotel de Olhão esta sexta-feira.

A Delegação Regional do Algarve da Ordem dos Economistas convidou o também professor universitário, administrador de empresas e consultor de políticas públicas para falar sobre a problemática da fiscalidade e do imobiliário e seus impactos sobre a economia do Algarve.

De caminho, distinguiu os economistas algarvios Beatriz Gonçalves, agraciada com o Prémio Melhor Dissertação da nossa Delegação Regional em 2019, e Hugo Gonçalves, cujo trabalho recebeu uma menção honrosa por parte do júri do mesmo prémio.

 

Beatriz Gonçalves com Efigénio Rebelo, professor da Faculdade de Economia da UAlg e membro do júri do prémio

 

Na conversa propriamente dita, Ricardo Arroja puxou dos seus galões de economista, mas também de docente do ensino superior, e deu uma autêntica lição aos que marcaram presença no debate.

O economista deixou, desde logo, uma análise à evolução da economia portuguesa nas últimas duas décadas, mas também ao seu estado atual. E, entre as várias conclusões, salta à vista a elevada carga fiscal e o baixo nível de investimento público. O nosso país tem, de resto, «um défice de 8 mil milhões de euros de investimento por ano», face a outros países «comparáveis connosco», ou seja, cujo Produto Interno Bruto (PIB) é semelhante.

Ainda assim, o PIB subiu, muito por “culpa” do investimento privado e do aumento das exportações, alavancadas pelos serviços, nomeadamente o turismo.

Quanto ao imobiliário, a procura tem vindo a crescer, nos últimos anos, nomeadamente no Algarve e os preços sobem com ela. No caso do Algarve, o valor das casas está num nível que já pode ser considerado «especulativo», disse Ricardo Arroja, tendo em conta a disparidade entre os rendimento médio per capita e o preço médio dos imóveis.

No final, o economista, que escreveu livros e centenas de artigos de opinião na imprensa portuguesa na última década e meia, considerou que alterar o regime de residentes não habituais, nomeadamente a ideia de acabar com a isenção fiscal a reformados estrangeiros que se mudem para o nosso país, poderá acabar com um fenómeno que tem dado uma forte ajuda à economia nacional.

Estes reformados, nomeadamente os vindos de países nórdicos, têm vindo a aproveitar as vantagens concedidas pelo Governo Português, que isenta de impostos as suas reformas – cujo valor é bem elevado, para os padrões nacionais -, ganhando, com isso, novos residentes com um elevado poder de compra. Nos seus países de origem, os impostos cobrados são muito elevados.

A mesma lógica se aplica aos Vistos Gold. Embora admita que há ajustes a fazer, nomeadamente ao nível do controlo de branqueamento de capitais, o economista considera que limitar o acesso a esta medida pode ser «um tiro no pé».

No que toca à ideia de só permitir o acesso a estes vistos a quem invista fora dos grandes centros urbanos, nomeadamente de Lisboa e Porto, não faz sentido, na visão de Ricardo Arroja. «Alegam que há demasiada procura. A procura pode alguma vez ser demasiada? Teremos é de, eventualmente, criar mais oferta», considerou.

Em ambos os casos, uma mudança de política poderá ter efeitos negativos no mercado imobiliário.

 

Hugo Gonçalves com Hélder Carrasqueira, professor da ESGHT da UAlg e membro do júri do prémio

 

Além da intervenção de Ricardo Arroja, a sessão serviu, ainda, para galardoar dois economistas formados pela Universidade do Algarve e membros da Ordem dos Economistas

No caso de Beatriz de Gonçalve, o prémio Melhor Dissertação foi atribuído ao trabalho “Determinantes da liquidez: o caso da Grécia”. A jovem olhanense é licenciada em Economia e mestre em Finanças Empresariais pela UAlg.

Também Hugo Gonçalves se formou e fez o seu mestrado na UAlg. Neste caso, a menção honrosa foi dada ao trabalho “Regional Effects of Tourism In Portugal: a Multivariate Analysis”, onde procurou dar entender a realidade económica do Algarve.

No final, Hugo Gonçalves, em declarações ao Sul Informação, salientou a importância deste prémio para os graduados pela universidade algarvia.

«Julgo que é desta forma que conseguimos passar a mensagem de que a UAlg, nomeadamente a Faculdade de Economia, forma muito bons profissionais, que conseguem produzir trabalhos e investigação muito relevante, que ombreia com as melhores faculdades do país», ilustrou.

O “Conversas com a Ordem” é um evento organizado pela Delegação Regional do Algarve da Ordem dos Economistas.

 

Fotos: Hugo Rodrigues|Sul Informação

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