Aves das ilhas-barreira e centro RIAS ganham LIFE

Projeto vai aumentar a capacidade de recuperação de aves marinhas do RIAS

Mitigar os riscos que pendem sobre espécies de aves marinhas já de si ameaçadas, preservar os habitats que estas usam para nidificar, considerados prioritários, e dar melhores condições ao Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens (RIAS) para as ajudar são três dos grandes objetivos do projeto LIFE Ilhas-Barreira, que foi ontem apresentado em Olhão.

Coordenada pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), esta iniciativa junta um conjunto alargado de parceiros locais, mas também de fora da região algarvia, que se juntaram para, «de um modo geral, promover a conservação das ilhas-barreira através da proteção das espécies de aves marinhas e dos habitats prioritários».

Mais do que uma intervenção que durará quatro anos, este projeto pretende deixar sementes para o futuro. Para isso, a SPEA conta, entre outros, com o RIAS, que vai aproveitar o LIFE Ilhas-Barreira para dar um salto qualitativo.

«A nossa ideia é capacitar a resposta do RIAS, sobretudo ao nível da recuperação de aves marinhas. O centro tem algumas limitações em termos de áreas de tanques que permitam a recuperação destas aves, que precisam de água. Vamos, com este projeto, melhorar essa capacidade», revelou ao Sul Informação Joana Andrade, da SPEA, a coordenadora do projeto.

Por outro lado, o RIAS vai investigar «para perceber o que está a causar a mortalidade de gaivotas e outras espécies marinhas que se tem verificado nos últimos tempos, para, com essa informação, podermos agir e prevenir esses problemas».

 

Joana Andrade

 

Fábia Azevedo, diretora do RIAS, diz, por seu lado, que o objetivo do centro é «aumentar as taxas de sucesso de recuperação de aves marinhas em 20%» nos próximos quatro anos.

O RIAS também terá um papel fundamental na educação ambiental. «São eles que vão dinamizar as ações junto do público escolar e, sendo um local que recebe visitantes, também os vão poder sensibilizar a eles para estas questões», disse Joana Andrade.

No que toca ao público escolar, o objetivo é bem ambicioso, uma vez que os promotores deste LIFE querem passar a mensagem a cerca de 20 mil alunos de todas as escolas dos cinco municípios tocados pela Ria Formosa – Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António.

Tudo isto para garantir a conservação e mitigação de riscos para as aves marinhas que ocorrem na Ria Formosa.

«Nós temos, aqui nas ilhas-barreira, aves marinhas que nidificam, sobretudo na ilha Deserta [Barreta], que é a única que não é habitada. Muitas das ações vão decorrer nessa ilha», disse Joana Andrade.

Neste caso, o enfoque será em duas espécies que têm, em ambos os casos, estatuto de conservação vulnerável e que nidificam nas ilhas-barreira, a gaivota-de-Andouini e a chilreta.

«Com as gaivotas-de-Andouini queremos perceber, por um lado, quais são as áreas no mar que elas usam para se alimentar, para promover a designação e classificação legal dessa área marinha, com o objetivo que possa ser gerida de modo a preservar essas populações», conta Joana Andrade.

«Por outro lado, queremos perceber como é que a colónia existente na ilha Deserta está a evoluir: se está a aumentar ou a diminuir, se há mortalidade e o que a causa, se há predação por espécies não nativas, como é o caso dos gatos e dos ratos, e tentar minimizar os problemas», revelou.

«No caso da chilreta, ela nidifica um pouco por todo o lado, nas ilhas-barreira, em zonas de dunas, e nidifica no Verão, que é a altura em que também há mais visitação e mais turistas. Muitas vezes, as pessoas que estão nas praias não se apercebem da existência dos ninhos, pois eles estão muito bem camuflados. Por isso, queremos informar as pessoas, colocar algum tipo de sinalização, para que os humanos as possam evitar», acrescentou a coordenadora do projeto.

Este trabalho contará com a colaboração de diferentes parceiros, entre os quais o centro de investigação MARE da Universidade de Coimbra, que há anos se dedica ao estudo da chilreta e do seu habitat.

Existe outra ave marinha que é alvo do projeto, mas que não nidifica nas ilhas, a pardela-balear. «Aqui, o enfoque será mais em evitar capturas acidentais com artes de pesca, trabalhando em conjunto com os pescadores para encontrar formas para evitar a captura destas e de outras espécies de aves marinhas».

O principal parceiro, neste caso, será o Centro de Ciências do Mar (CCMar), centro de investigação associado à Universidade do Algarve (UAlg), que irá trabalhar de perto com os pescadores para reduzir conflitos entre as pescarias e as espécies marinhas protegidas.

 

Ilha Deserta – Foto: Gonçalo Vargas

 

Por outro lado, os promotores do LIFE Ilhas-Barreira querem «ter uma ideia sobre qual é o cenário atual em termos de vegetação dunar de todas as ilhas e tentar resolver algumas das ameaças que sabemos que causam a perda de biodiversidade e a erosão das dunas».

«No fundo, trata-se de tentar que estas ilhas sejam mais resilientes, para poderem estar aptas a enfrentar os desafios que aí vêm, num cenário de alterações climáticas», resumiu Joana Andrade.

«Vamos mapear as espécies de plantas invasoras e, no caso da Deserta, vamos removê-las, sempre que possível, para que a vegetação típica possa crescer nessas áreas. Há algo que é muito importante neste controlo de plantas invasoras, que é, após termos conseguido retirá-las, evitar que elas voltem. Há monitorização que terá de ser feita a longo prazo, para que os resultados que forem alcançados pelo projeto não se percam», disse.

Aqui entra o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), que, segundo Castelão Rodrigues, diretor regional desta entidade, está disposto a tudo fazer para o sucesso do projeto, mas também para dar continuidade aos trabalho que foi feito.

O LIFE Ilhas-Barreira também contempla «medidas de conservação para melhorar as condições para essas espécies e dos habitats. Estamos a falar, por exemplo, da visitação: melhorar os trilhos, colocar sinalética, desincentivar os visitantes de pisar as dunas ou de perturbar as colónias de aves marinhas. Isso faz-se com fiscalização, informação e sensibilização. Portanto, queremos trabalhar com os operadores que promovem estas atividades, para que eles possam transmiti-lo aos seus clientes».

Um dos parceiros é, de resto, uma empresa de turismo de natureza, a Animaris, que explora o único restaurante existente na Ilha Deserta – e um dos dois edifícios que há na ilha – e há décadas promove atividades de observação de aves e passeios.

Outro parceiro que terá um papel fundamental, no que à conservação deste habitat prioritário, reconhecido pela Diretiva Habitats da União Europeia, é o Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) da Universidade do Algarve.

O orçamento deste projeto LIFE, que começou no final de 2019 – «estamos a dar os primeiros passos» – e durará até 2023, é de 2,5 milhões de euros, que serão comparticipados a 75% pelo Programa LIFE.

A restante verba será assegurada pelos parceiros, que são, além da SPEA, o ICNF, o RIAS, a Universidade do Algarve, através do CIMA e do CCMar, a Universidade de Coimbra, através do MARE, e a Animaris.

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