Ministro do Mar: «É bom não cair no pessimismo global» sobre as alterações climáticas

«As políticas que nós precisamos não se fazem só de cientistas e depois de políticos»

«É bom não cair no pessimismo global e acreditar que vamos vencer este desafio» do combate às alterações climáticas, disse hoje, em Faro, o ministro do Mar, na sessão de abertura do encontro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), organismo da ONU que reúne 260 especialistas mundiais em alterações climáticas.

Questionado pelos jornalistas sobre o facto de os Estados Unidos quererem sair do Acordo de Paris, Ricardo Serrão Santos respondeu que «os Estados Unidos não estão agora a bordo, mas a ciência americana é forte e não é complacente com algumas atitudes. E há vários estados que têm outras políticas».

No entanto, sublinhou o ministro, o Acordo de Paris «tem compromissos muito importantes e é, de facto, a oportunidade final para fazer reverter, pelo menos, para não deixar subir a temperatura [global] acima de 1.5, 2 graus centígrados».

Apesar de alguns países estarem a «demitir-se», «Portugal e também a União Europeia estão em força neste processo», «estão na linha da frente para dar o exemplo», acrescentou.

Para o ministro, «as estratégias de governação nacionais, locais e regionais têm que se empenhar no contexto da mitigação das alterações climáticas para termos um planeta onde seja possível viver».

Tendo sido ele próprio investigador em temas do mar, Ricardo Serrão Santos salientou que, «neste momento, estamos particularmente preocupados com o que os oceanos sofrem. E não é só a questão dos plásticos, é que o mar está mais ácido, tem menos oxigénio e sofre de correntes quentes. E temos que ter cenários de previsão para a gestão desses ambientes».

No seu discurso na sessão oficial de abertura, o ministro tinha salientado que «não há muitos Governos que decidam tornar a ação climática central na sua política», como o português. Nas declarações aos jornalistas, acrescentou que «a grande política de ação climática tem que ser na reforma da nossa sociedade, nas políticas de economia circular, nas políticas de descarbonização, nas políticas de reforma energética».

Sobre o facto de, neste momento inicial, as reuniões do painel de especialistas do IPCC que estão na Universidade do Algarve durante cinco dias se fazerem à porta fechada, sem acesso aos jornalistas, Ricardo Serrão Lopes explicou que «é assim que trabalham estes grandes grupos. São trabalhos maçadores, mas muito, muito importantes».

No entanto, explicou, os relatórios que vão resultar de todo o trabalho dos grupos do IPCC «são amplamente divulgados», e, «como tal, não são segredo nenhum».

Aliás, de manhã, na conferência de imprensa inicial, os responsáveis do IPCC já tinham explicado que aquele organismo tem 195 países membros e «o relatório é aprovado linha a linha por cada um destes países membros, por isso os decisores políticos estão a par do processo e cada dos rascunhos do relatório é também comentado pelos governos, pelos cientistas, pelo público em geral. Qualquer pessoa neste planeta pode participar neste processo do IPCC».

«As políticas que nós precisamos não se fazem só de cientistas e depois de políticos. Exigem sociedade, exigem indústria, exigem intervenções não governamentais e todos eles vão ter acesso a esses relatórios», conclui o governante.

Esta reunião em Faro traz ao Campus de Gambelas da UAlg 260 especialistas vindos de mais de seis dezenas de países. A partir de hoje, 26 de Janeiro, e até 1 de Fevereiro, os especialistas vão avançar com a elaboração do Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC).

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

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