Em Janeiro, estamos mais próximos do Sol

Se estamos, por esta altura de Janeiro, mais próximos do Sol, porque é que é Inverno?

Vivemos em movimento! Não nos apercebemos, mas viajamos pelo espaço a uma velocidade estonteante para a nossa escala! Na realidade, é a Terra que se desloca, mas nós viajamos com ela. Como sabemos, a Terra percorre anualmente uma trajectória elíptica em torno do Sol. E faz isso a uma velocidade média de cerca de 107 280 quilómetros por hora, ou seja a cerca de 29,8 quilómetros por segundo!

Escrevi velocidade média, uma vez que a velocidade da Terra varia ao longo do ano. Ela é máxima quando a Terra se encontra mais próxima do Sol (periélio) e mínima quando se encontra mais afastada (afélio).

Ontem, dia 5 de Janeiro, por volta das 8 horas da manhã, ocorreu o periélio deste ano que começou há poucos dias. Nesse momento, a cerca de 147,1 milhões de quilómetros do Sol, a velocidade da Terra foi cerca de 30,8 quilómetros por segundo (110 880 quilómetros por hora).

Seguindo a sua órbita, a Terra afasta-se agora do Sol até atingir a sua distância máxima (afélio) no próximo dia 4 de Julho (segundo o Observatório Astronómico de Lisboa).

Nessa altura, a uma distância de cerca de 152,1 milhões de quilómetros do astro rei, a velocidade a que viajaremos pelo espaço será cerca de dois quilómetros por segundo menor (ou 7 164 quilómetros por hora menor) do que a verificada agora no periélio.

O astrónomo e matemático alemão Johannes Kepler (1571 – 1630) foi o primeiro a detetar estas diferenças na velocidade de translacção e a propor uma órbita elíptica para a Terra e restantes planetas.

Kepler baseou-se para isso nas tabelas astronómicas do seu mestre, o astrónomo dinamarquês Tycho Brahe (1546 – 1601). Brahe terá sido o observador mais rigoroso do céu antes do início do uso do telescópio para observações astronómicas, realizado por Galileu Galilei (1564 – 1642) em 1610.

A causa para as diferenças na velocidade da Terra só pôde ser compreendida após o trabalho do matemático e físico inglês Isaac Newton (1643 – 1727), principalmente após a formulação da sua lei da gravitação universal. Segundo esta lei, a força da gravidade entre dois corpos com massa diminui na razão inversa do quadrado da distância entre eles. No nosso caso, os dois corpos são a Terra e o Sol.

Quando estão mais próximos um do outro (periélio) a força da gravidade é maior, o que se traduz numa aceleração do movimento da Terra (segundo a 2ª lei do movimento, também de Newton) e logo no aumento da sua velocidade.

À medida que a Terra se afasta do Sol, a força da gravidade diminui, há uma desaceleração do movimento e a velocidade diminui, atingindo um mínimo no afélio.

Mas voltemos ao presente. Se estamos, por esta altura de Janeiro, mais próximos do Sol, porque é que é Inverno? A Terra deveria receber mais radiação solar em Janeiro, certo?

Mas não é assim que ocorre à nossa latitude, como podemos testemunhar agasalhados. E a explicação para isso reside no facto de o eixo de rotação da Terra, em torno de si própria, estar inclinado 23,5 graus em relação à perpendicular ao plano definido pela sua órbita ao redor do Sol.

É a inclinação do eixo de rotação que está na origem das estações ao longo do ano. Aquando do periélio, é o hemisfério Sul da Terra que está mais exposto à radiação solar e por isso ocorre a estação do Verão. O contrário ocorre no hemisfério Norte e, assim, apesar de a Terra estar mais próxima do Sol, vivemos, no hemisfério Norte, os dias mais frios de todo o ano!

Entretanto, viajemos pelo Espaço a cerca de 30 quilómetros por segundo!

 

Autor: António Piedade
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

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