Município de Castro Verde disponível para continuar a trabalhar na conservação da Natureza

Seminário marcou o fim de cinco anos de trabalho do projeto LIFE Imperial “Conservação de Aves de Rapina”

Há uma «permanente disponibilidade do Município para continuar a trabalhar com a LPN» (Liga para a Proteção da Natureza), afirmou esta quinta-feira, dia 14, David Marques, vice-presidente da Câmara de Castro Verde, na abertura do seminário final do projeto LIFE Imperial “Conservação de Aves de Rapina”, que ontem terminou naquela vila do Baixo Alentejo.

O autarca salientou a importância de o seu Município ter uma importante fatia do seu território classificada como Reserva da Biosfera, salientando que isso resultou do «trabalho da LPN, que tem tem procurado envolver o território, as pessoas e os agricultores» num trabalho de «conservação de natureza que é uma verdadeira maratona».

O vice-presidente da Câmara de Castro Verde assinalou ainda a chuva que ontem de manhã caiu naquela zona do Alentejo:
«Bendita, abençoada chuva! Que seja um sinal muito positivo para estes trabalhos», disse David Marques na sessão de abertura.

Por seu lado, Rita Alcazar, técnica da LPN e responsável pelo Centro de Interpretação Ambiental de Vale Gonçalinho, em Castro Verde, disse que a «missão da Reserva da Biosfera é também contribuir para a conservação da natureza» naquela importante região.

Quanto ao seminário, que marca o fim do projeto LIFE Imperial “Conservação de Aves de Rapina”, que se prolongou por cinco anos, Rita Alcazar sublinhou que um dos objetivos dos trabalhos era «conversarmos sobre o que está a ser feito, mas também refletirmos sobre o futuro, sobre os novos passos a dar, os caminhos a seguir, para que a recuperação destas espécies emblemáticas da nossa fauna possa continuar».

Na sessão de abertura, Paulo Marques, da LPN, fez um ponto da situação sobre a águia-imperial-ibérica em Portugal, alvo do projeto LIFE, começando por dar uma boa notícia: que os números de efetivos daquela espécie de rapinas têm vindo a aumentar e já se cifram em 17 casais.

O projeto incidiu nas zonas do Tejo Internacional (mais os rios Erges e Pônsul), Mourão/Moura/Barrancos, Castro Verde e Vale do Guadiana.

Um dos seus principais objetivos foi «reduzir a mortalidade por fatores não naturais», nomeadamente a eletrocussão nas linhas de alta e média tensão ou o envenenamento.

O biólogo revelou que o desaparecimento das águias em idade reprodutora se deve em 50% à eletrocussão, 27% ao envenenamento, 8% a tiros de caçadores e 15% a causas desconhecidas. Ao longo dos cinco anos do projeto, foram detetadas 26 águias mortas.

Neste âmbito, em parceria com a EDP, «foram corrigidos 174 apoios em 27 quilómetros de linha elétrica selecionada, para diminuir a mortalidade».

Outra ameaça importante, acrescentou Paulo Marques, é a do envenenamento. Foram criadas «sete unidades caninas da GNR para deteção do veneno», que fizeram «mais de 1100 patrulhas, preventivas e reativas».

Foram também promovidos «workshops de treino com os agentes da GNR que lidam com este tema».

Os técnicos do LIFE Imperial fizeram ainda o «acompanhamento de todos os casos de envenenamento de que tiveram conhecimento, para conhecer de que modo a cadeia policial e judicial está a funcionar».

Durante o período do projeto, houve «o primeiro caso de envenenamento que seguiu para tribunal…mas os suspeitos foram absolvidos». No entanto, mesmo com esse desfecho dececionante, «esta foi a primeira vez que conseguimos que o processo não fosse arquivado pelo procurador, antes de ir a julgamento».

Outro dos fatores que pode interferir com o sucesso da reprodução da águia-imperial-ibérica é o distúrbio na zona dos seus ninhos, às vezes feito por pessoas com as melhores intenções, nomeadamente birdwatchers. «Muitas vezes as pessoas não conseguem resistir a ir lá ao pé ver o ninho, quando têm conhecimento da sua existência», explicou Paulo Marques.

Para tentar diminuir esse distúrbio, foram promovidas «sessões para operadores turísticos e fotógrafos», além de ter sido produzido um guia de boas práticas.

Os técnicos ligados ao LIFE Imperial fizeram ainda «41 vigilâncias em 26 tentativas de reprodução em 10 territórios diferentes, ações que resultaram na sobrevivência de 5 crias» de águia-imperial-ibérica.

Uma das vertentes do projeto passou também por promover a Educação Ambiental. As ações promovidas atingiram «17% da população estudantil na área de intervenção» do LIFE.

Agora que o projeto – e o financiamento – chegam ao fim, há que pensar no futuro. Como disse Rita Alcazar, é preciso que «possamos continuar a ter estes voos extraordinários nos nossos céus».

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