Demolição de uma das últimas casas antigas da Praia da Rocha causa forte contestação

Obras estão a causar grande contestação

Era um dos últimos vestígios dos tempos áureos da Praia da Rocha. Era, mas já não é, porque desde esta segunda-feira, 4 de Novembro, que está a ser parcialmente demolida aquela que era conhecida como a casa do Conde da Covilhã, um testemunho histórico das primeiras décadas do século XX.

O Sul Informação comprovou no local como avança a passos largos a destruição do edifício, chamado “Vivenda Compostela” e que fica ao lado do Hotel Algarve. Metade já foi demolida, com uma máquina.

Apesar de a obra ter sido licenciada pela Câmara de Portimão a 3 de Dezembro de 2015, face ao alarme causado pelo início da demolição – há já dezenas de fotografias e inúmeros vídeos a ser divulgados nas redes sociais -, os serviços competentes do Município mandaram parar a demolição ao fim da manhã de hoje, segundo revelou uma fonte camarária ao nosso jornal.

Junto ao portão de entrada da propriedade, está afixada a placa com o alvará de licenciamento, passado pela Câmara Municipal de Portimão. A licença da obra data de 2015, para uma área de construção de 1196,90 metros quadrados.

 

 

A casa tinha sido construída, como retiro de férias, em inícios do século passado por Francisco Bivar Weinholz, empresário conserveiro e último presidente da Câmara de Portimão da Monarquia e que, curiosamente, viria a oferecer um dos seus palacetes (o do seu tio Visconde de Bivar) para aí serem instalados os Paços do Concelho, que ainda hoje se mantêm no mesmo local.

Pertenceu depois, já em plena República, ao Conde da Covilhã. Viria depois a ser comprada pelo empresário têxtil nortenho Manuel Gonçalves, dono do Grupo TMG. Foi finalmente vendida pelos herdeiros ao seu atual proprietário, Armando Faria, dono das perfumarias Barreiros Faria e das lojas Perfumes & Companhia. É este nome – Armando Faria – que consta do alvará afixado (ver fotos).

 

A casa antiga (meio demolida) e a nova construção

A casa, que era considerada como um dos ex-libris da Praia da Rocha, ergue-se à beira da falésia, mas não tem qualquer estatuto de proteção. O edifício, que há quem garanta que tem risco do arquiteto Raul Lino, era também rodeado por frondosos jardins, que se mantiveram por muitos anos, mesmo nos períodos em que a vivenda esteve menos cuidada. Hoje, esses jardins estão, em grande parte, ocupados por uma nova construção, como se pode ver nas fotos.

Segundo o alvará afixado no exterior, a obra visa a construção de uma moradia unifamiliar. O Sul Informação não conseguiu ainda apurar se o projeto licenciado passa pela demolição total da casa antiga ou apenas parcial. Certo é que, ao lado, já está em fase adiantada de construção um novo edifício.

Uma fonte ligada à família, contactada no local, disse ao nosso jornal que o atual proprietário «tem cinco filhos e 18 netos» e por isso quer «construir uma casa para toda a família». A mesma fonte desmentiu o rumor de que ali nasceria (mais) um hotel.

 

A casa, em foto dos anos 50

O Sul Informação tem estado, desde manhã, a tentar contactar, sem êxito, quer com Isilda Gomes, presidente da Câmara de Portimão, que estará a viajar, quer com João Gamboa, vereador que atualmente tem a pasta do Urbanismo. Ao que conseguimos apurar, o início da demolição causou grande mal estar na autarquia, já que se trata de um processo que remonta a 2013, embora a licença atualmente em vigor seja de 2015.

Fonte da autarquia disse ao nosso jornal que o vereador tem estado, desde manhã, reunido com técnicos, para tentar deslindar como se chegou a esta demolição. Aliás, a Câmara Municipal de Portimão deverá emitir, em breve, um comunicado sobre o assunto, do qual o Sul Informação dará depois conta aos leitores.

A demolição da casa está a suscitar vivo repúdio por todas as pessoas, dentro e fora do concelho, que se preocupam com o património. José Gameiro, diretor científico do Museu de Portimão, lamentou a «destruição de uma das mais antigas casas da Praia da Rocha que ainda resistiam, entre prédios». Este edifício, explicou, «atravessa toda a história de Portimão, desde os tempos da Monarquia e do início da afirmação da indústria conserveira, passando pela República e pelos tempos áureos em que a Praia da Rocha era a estância balnear das elites e chegando aos nossos dias».

Curiosamente, em 2013, quando foi eleita pela primeira vez como presidente da Câmara, a atual edil Isilda Gomes tinha garantido que «o tempo do betão acabou, estamos bem servidos a esse nível, agora é consolidar a cidade, olhar para as pessoas desta cidade, tentar fazer isso».

 

Fotos: Nuno Costa | Sul Informação e Marc Gorzelniak

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