Sol amigo ou inimigo?

Os cancros de pele são um problema na Europa, mas também em Portugal

A luta contra os cancros de pele inicia-se na consciencialização de um problema e na forma de o preveni-lo.

Os cancros de pele, em geral, representam o cancro humano mais frequente. A incidência dos vários tipos de cancros da pele tem vindo a aumentar em todo o mundo.

Os cancros de pele são um problema na Europa, mas também em Portugal. Em Portugal, estima-se que em 2019, serão diagnosticados mais de 13.000 novos casos de cancros da pele e mais de 1.000 serão novos casos de melanoma.

Nos EUA, dados recentes estimam que a probabilidade de uma pessoa, de raça caucasiana, vir a desenvolver um cancro de pele, ao longo da vida, seja de 1 em cada 5 pessoas! A probabilidade de vir a desenvolver um melanoma, de 1 em cada 50 pessoas!

O melanoma da pele é o 19º cancro mais comum em homens e mulheres. Houve quase 300.000 novos casos em 2018.O melanoma atinge frequentemente o adulto jovem. A mortalidade global, por melanoma, aos 5 anos, na Europa Ocidental, ronda os 15%.
O cancro da pele não melanoma é o 5º cancro mais comum em homens e mulheres, com mais de 1 milhão de diagnósticos em todo o mundo em 2018, embora seja provável que seja um subestimado.

Os cancros de pele podem, na sua maioria, ter cura, se detetados e retirados atempadamente.

TIPOS DE CANCRO DE PELE

Existem diferentes tipos de cancro: 1) Melanoma ; 2) Não melanoma: Basoceclular e Espinocelular.

O MELANOMA é o tipo menos comum, mas também o mais perigoso. Pode afetar pessoas de qualquer idade, ao contrários dos outros tipos, que são mais comuns nos idosos. Apresenta-se como um “sinal” muito escuro que desenvolveu bordos irregulares ou cores diferentes ao longo do tempo; ou como uma protuberância de crescimento rápido, rosa ou avermelhada.

Pode surgir de um “sinal” atípico (nevo atípico) que se modificou, ou como uma lesão “de novo”, sobretudo em pele com muitos “sinais” (nevos) ou lêntigos (manchas solares parecidas com sardas) ou em pele com antecedentes de queimaduras solares.

Pode difundir-se rapidamente sob a forma de metástases, pelo que é necessário tratamento cirúrgico imediato.

 

O CARCINOMA BASOCELULAR é o tipo mais comum de cancro de pele, mas também o menos perigoso.

Apresenta-se tipicamente como um nódulo elevado, da cor da pele, com bordos brilhantes e aspeto perolado, uma mancha ou ferida que não cicatriza ou uma protuberância ligeiramente dura e rugosa que cresce lentamente ao longo do tempo. Se deixado sem tratamento, pode ulcerar e invadir os tecidos mais profundos.

 

O CARCINOMA ESPINOCELULAR é o segundo tipo de cancro de pele mais comum. Ocorre em áreas de pele que tenham tido uma acentuada exposição solar, tais como a face, couro cabeludo e dorso das mãos. Apresenta-se como um nódulo duro que pode crescer rapidamente e tornar-se ulcerado e exsudativo.

Pode difundir-se rapidamente para os gânglios e internamente (metástases), sobretudo em lesões mais avançadas, localizadas nos lábios, orelhas, mãos e pés ou em indivíduos imunodepremidos. O tratamento cirúrgico atempado para remover as lesões é essencial.

 

As QUERATOSES ACTÍNICAS são lesões pré-malignas (10-15% dos casos podem evoluir para Carcinoma espinocelular) e ocorrem mais frequentemente em pessoas de meia idade e idosos, em áreas mais expostas ao sol, como a face, pescoço, orelhas, dorso das mãos e couro cabeludo. Apresentam-se como manchas avermelho-acastanhadas escamosas e rugosas. Devem ser tratadas a fim de prevenir a progressão para cancro.

 

EXAME DA PELE

1) Examine a pele uma vez por mês;
2) Verificar se apresenta qualquer alteração ou mancha de aparência suspeita;
3) Inspecionar todo o corpo, em particular as áreas expostas ao sol (Examinar: rosto, couro cabeludo, mãos, pescoço, peito, tronco, braços e axilas, nádegas, genitais, pernas e pés. ).

Para fazer esse exame nas melhores condições, escolha um local bem iluminado, um espelho de corpo inteiro, e eventualmente registe fotograficamente. O que procurar?

1) “Sinais” que sofreram alguma alteração de tamanho, cor ou forma;
2) tenha aspeto diferente dos restantes;
3) assimétricos ou bordos irregulares;
4) ásperos ou escamosos;
5) várias cores;
6) dão vontade de coçar;
7) Sangram ou libertam líquido;
8) Têm aspeto rosado;
9) Parecem uma ferida, mas não cicatriza.

 

LESÃO SUSPEITA

Mais de 50% dos pacientes, apesar de reconhecerem uma lesão como muito suspeita, só tentam obter observação médica mais de seis meses depois. O que pode comprometer a resolução do problema, pois o cancro da pele é tratável se for diagnosticado
numa fase precoce.

Quando o tratamento é tardio, a situação piora, podendo levar, em alguns casos, a desfiguração, outras complicações e até mesmo à morte. Por isso, as regras de ouro são:

1) Não ignore o problema à espera que ele passe;
2) Não fique à espera para ver como o problema evolui ou tente resolvê-lo por si;
3) Não assuma que “não deve ser nada”;
4) Não pense que não é um assunto prioritário;
5) Não tenha medo de consultar o seu médico de família ou dermatologista.

 

MAIOR RISCO

O cancro da pele pode aparecer em qualquer pessoa, em qualquer idade. Mas há pessoas que têm um risco maior:

1) Pele clara ou que é propensa a queimaduras solares;
2) Sofreu queimaduras solares na infância;
3) Teve uma grande exposição ao sol ao longo da vida;
4) Faz exposições periódicas ao sol;
5) Usa solários;
6) Tem mais de 50 “sinais” no corpo;
7) Tem história familiar de cancro de pele;
8) Tem mais de 50 anos de idade;
9) Foi submetido a transplante de órgão.

 

SOL

O Sol emite grande parte da sua energia em forma de calor e luz. A radiação que atinge a Terra é filtrada pela camada de ozono atmosférico. A radiação ultravioleta (UVA e UVB) chega à superfície da pele.

 

FOTOTIPOS DE PELE

Há diferentes fototipos de pele, com diferentes riscos. Fototipos baixos, em especial as crianças ruivas, necessitam de muito maior cuidado com a exposição solar do que as crianças de tez escura.

 

CONDIÇÕES DE EXPOSIÇÃO SOLAR

As diferentes condições influenciam a quantidade e qualidade da radiação recebida. A diminuição da camada de ozono atmosférico, a altitude a latitude, as estações do ano e hora do dia influenciam a radiação UV, e por isso o risco da exposição solar.

As superfícies refletoras do ambiente (praias de extenso areal (areia reflete até 40% dos UV), neve (reflete até 85% dos UV), água (reflete 50% UV), 20% dos UV são refletidos na relva ou cimento) também têm o seu impacto.

Realçar que no verão, durante o banho, o humedecimento superficial provoca aumento de permeação transepidérmica da radiação. É necessária especial atenção aos dias enevoados e frescos, pois dão a ilusória sensação de segurança, com omissão dos cuidados pode originar queimadura solar (80% dos UV passam através das nuvens).

Assim, um parâmetro muito útil é o Índice de ultravioletas, pois é um indicador prático do maior ou menor risco nas exposições solares. O Instituto de Meteorologia Português divulga diariamente na época balnear, o índice de ultravioletas.
Habitualmente em Portugal: outubro a abril: 3 – 6 (recomenda-se chapéu, protetor solar e sombras) e maio a setembro: 9 – 10 (recomenda-se chapéu, protetor solar, sombras e óculos de sol).

 

MAIOR EXPOSIÇÃO SOLAR

Nos últimos anos, tem havido modificações comportamentais das sociedades desenvolvidas e instalação de hábitos de exposição cutânea desregrada à luz solar, devido à exaltação dos benefícios do livre contacto com a Natureza, liberalização do desnudamento, difusão do desporto ao ar livre, frequência regular das praias como fonte de saúde, valorização estética da pele “bronzeada”, melhoria das condições de vida das populações, férias e lazer.

 

SOLÁRIO

Os solários são camas ou cabines de bronzeamento com ação pela emissão de raios UV e pode danificar o ADN das células da pele, proporcionando uma probabilidade 74% maior de desenvolver melanoma.

Assim deve ser completamente evitado, pois não são mais seguros do que a exposição solar e não fornecem qualquer benefício de saúde. São vários países europeus baniram já a utilização destes equipamentos por menores de 18 anos

 

QUEIMADURA SOLAR

Após a exposição solar excessiva, a pele reage:

1) Vermelhidão de pele (4 horas);
2) Pele sensível, dolorosa, quente, inchada;
3) Após a queimadura pode ocorrer febre, bolhas na pele e dor intensa nas regiões afectadas;
4) Mais tarde (24 e 72 horas), verifica-se aumento da síntese de melanina, que origina o bronzeamento.

Em caso de queimadura solar, deve-se ter alguns cuidados:

1) Evitar nova exposição ao sol;
2) Aplicar compressas húmidas com água fria;
3) Aplicar creme pós-solar (efeito calmante e reparador);
4) Aplicar creme reparador hidratante (Vit A e E e zinco) 3 x dia;
5) Proteger a zona queimada com gaze, lenço ou pano fino;
6) Usar roupas leves de algodão (preferencialmente brancas);
7) Retirar objetos que possam acumular calor: anéis, colares, brincos, metais;
8) Banhos curtos e com água pouco quente;
9) Mesmo depois de passar a queimadura: manter hidratação – ajuda regeneração;
10) Não rebentar as bolhas;
11) Não aplicar álcool, manteiga ou óleos gordos;
12) Ponderar medicação para dores/comichão;
13) Contactar o médico, sempre que necessário.

 

GOLPE DE CALOR

O golpe de calor apresenta-se com febre, cor anormal da pele, sonolência ou agitação atípicas, sede intensa e/ou perda de peso, perturbações da consciência, recusa ou impossibilidade de beber.

Como prevenir ou atuar?

1) Evitar sair em horário de calor;
2) Manter-se em ambiente fresco/refrescante (pelo menos 3-2horas/dia);
3) Evitar ficar no carro estacionado em horário de calor;
4) Dar água/líquidos regularmente (água, sumos naturais);
5) Refeições leves e frescas;
6) Vestuário largo, leve e fresco;
7) Se tiver febre: dar banho com água 1º a 2ºC abaixo da temperatura corporal;
8) Contactar o médico, sempre que necessário.

A maioria das queimaduras solares ocorre na juventude e 75% da radiação solar é recebida até aos 20 anos, sabendo que a pele memoriza as agressões do sol ao longo da vida, a prevenção é o foco. A adoção de comportamentos responsáveis poderá evitar os 10 mil novos casos de cancro da pele que todos os anos aparecem e que são uma preocupação!
Sabe-se que 53% dos portugueses só aplicam protetor quando sentem a pele a queimar e 40% não renovam a aplicação.

 

CUIDADOS A TER NA EXPOSIÇÃO SOLAR:

1) Exposição solar lenta e progressiva;
2) Atenção às notícias do dia: mais riscos quando índice de radiação UV > 8;
3) Evitar as horas de maior solaridade: 12-16h, ou melhor 11-17h;
4) Regra da sombra: horas seguras a sombra é maior que nós;
5) Procurar sombras e locais frescos;
6) Fototipos baixos: ponderar medicamentos fotoprotetores orais (auxiliares);
7) Uso de vestuário: largo, leve e fresco; tecido opaco/não poroso, escuro; mangas compridas, com proteção UV;
8) Uso de chapéu com abas largas (proteção orelhas);
9) Uso de óculos de sol com proteção UVA/UVB;
10) Aumentar a ingestão de líquidos (água ou sumos de fruta naturais sem adição de açúcar, leite materno. Evitar as bebidas alcoólicas e bebidas com elevados teores de açúcar)

 

PROTETORES SOLARES:

Qual? Fator 30-50+, anti UVA e UVB, de preferência com filtros minerais e que sejam resistentes à água. Evitar muito fluidos, spray, transparentes ou em espuma (falsa sensação de segurança).

Quando aplicar? Aplicar em todo o corpo 30 minutos antes de sair de casa e antes de colocar a roupa; Uma camada grossa e garantir que passou em todo o corpo; Atenção: orelhas, dobras, parte de cima dos pés, pescoço; Reaplicar várias vezes durante o período de exposição ao sol (cada 2horas, mais se molhar ou transpirar).

A capacidade filtrante dos protetores solares, é indicada por um valor numérico, por exemplo: o Fator de proteção 30 significa que com a sua aplicação a resposta cutânea necessita de 30 vezes mais tempo de exposição para que se observe efeito idêntico ao produzido em pele não protegida. A indicação numérica máxima: 50+. Proteção UVA e UVB.

Existem Filtros Inorgânicos (filtros minerais, filtros físicos ou sun-blockers) e Filtros Orgânicos (filtros químicos). Os Filtros inorgânicos fazem a reflexão da radiação incidente; têm um espectro de ação amplo e abrangente; são muito bem tolerados; podem notar-se na superfície da pele, em função da sua opacidade; São os mais recomendados quando se pretende uma filtração segura e abrangente; São os recomendados nos fototipos mais baixos, crianças, fotossensibilidade. Os Filtros Orgânicos: Mecanismo de absorção de radiação UV.

 

CUIDADOS COM A PELE DA CRIANÇA

A pele da criança é estruturalmente semelhante à pele do adulto, mas é mais delgada e mais vulnerável a agressões (UV); a epiderme mais fina e menos melanizada: queimadura solar mais fácil; as alterações biopatológicas condicionantes dos efeitos tardios são mais pronunciadas.

Aconselha-se evitar a exposição solar direta em bebés menores de 6 meses; evitar exposição por longos períodos em crianças menores de 1 ano até aos 3 anos.

Nas crianças com menos de 6 meses de idade aconselha-se:

1) Não usar protetor solar (pele fina e sensível, risco de reação);
2) Evitar exposição solar;
3) Exposição apenas ao início da manhã e final da tarde, por curtos períodos;
4) Uso de roupas leves e frescas (tecidos naturais);
5) Locais com sombra e frescos;
6) Uso de óculos de sol. Nas crianças dos 6 meses aos 2 anos aconselha-se o uso de protetor barreira física (mineral). Nas crianças com mais de 2 anos, aconselha-se o uso de protetor infantil (mistura de filtros físicos e químicos) que seja resistente à água, livre de lágrimas e hipoalergénicos (evita reações). Antes de usar, testar sempre numa pequena área da pele, dias antes de usar.

 

ÓCULOS DE SOL

Recomenda-se uso de óculos de sol com proteção da radiação ultravioleta (UVA e UVB), o que não acontece, na maior parte dos casos, com os óculos que as crianças usam por brincadeira.

Os óculos, se desprovidos de capacidade filtrante de radiação ultravioleta podem ser altamente prejudiciais, uma vez que minoram o incómodo da intensidade da radiação, condicionando maior facilidade no encarar da luz e, em consequência, acréscimo de exposição nociva.

 

Autora: Carolina Venda, Médica Interna de Medicina Geral e Familiar da USF Farol, ARS Algarve.

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