Empresas juntaram-se para ser mais fortes e fazer do Algarve um «destino tecnológico»

Algarve Evolution quer atrair “massa cinzenta” para a região

Fazer do Algarve «uma região competitiva face às exigências mundiais», na área das tecnologias, é o principal objetivo da Algarve Evolution, uma associação que reúne perto de 40 empresas da região e que foi oficialmente apresentada, esta quinta-feira, 12 de Setembro, em Faro.

Como o Sul Informação já adiantou, para este conjunto de empresários, o Algarve pode vir a transformar-se numa espécie de “Silicon Valley”, mas, para isso, apesar de existirem «todas as condições físicas, falta encontrar as condições humanas», segundo explicou Cláudio Martins, da empresa Visualforma, uma das 29 companhias fundadoras da Algarve Evolution.

«Toda a gente sabe que estamos num território de micro-micro empresas, face à realidade das principais empresas destas áreas. Um dos nossos objetivos passa por reunir condições humanas para enfrentar os desafios globais. Sem dimensão, vamos ficar fora das principais ofertas de formação e não conseguiremos atrair altos quadros. Para isso, queremos ter dimensão, queremos que o Algarve tenha uma posição no mapa enquanto destino tecnológico», acrescentou Cláudio Martins.


Se as empresas tecnológicas algarvias, isoladas, são pequenas, juntas tornam-se mais fortes. «Não é uma empresa com 100 funcionários que consegue dar resposta, mas, neste caso, estamos já a falar de um grupo com 40 organizações que, todas somadas, já se tornam uma “empresa” de dimensão relevante», acrescentou.

A Algarve Evolution representa a vontade dos privados em colocar o Algarve no mapa mundial da tecnologia, mas há igualmente vontade pública, também consubstanciada numa associação, a Algarve STP, que reúne a Universidade do Algarve e alguns municípios da região, nomeadamente Faro e Loulé.

Estas vontades, privada e pública, juntas, estão a desenvolver o Algarve Tech Hub, «uma marca que começou há mais tempo, há cinco ou seis anos, quando começámos a reunir uma série de pessoas, stakeholders públicos e privados. Nessa altura, começou a gerar-se esta vontade de dinamizar a região na área das tecnologias», explicou Miguel Fernandes, CEO da Dengun e presidente da Algarve Evolution.

Para fazer do Algarve esse “Silicon Valley” «à nossa maneira», Miguel Fernandes defende que «temos que decidir quais os caminhos para lá chegar. Temos que decidir onde nos vamos especializar e investir para podermos comunicar lá para fora, para, então, atrairmos massa crítica, para fazer isso acontecer».

Essa captação de massa crítica exterior é essencial, segundo o presidente da Algarve Evolution, porque «somos muito poucos a viver aqui, e também a nascer, somos cada vez menos. Por isso, devemos trazer pessoas dos países de língua portuguesa ou dos Estados Unidos, que venham acrescentar valor».

Miguel Fernandes diz que «gostaria que, daqui a dez anos, fôssemos extremamente competitivos em uma ou duas áreas da tecnologia a nível internacional e que pudéssemos estar “taco a taco” com qualquer país do mundo em áreas específicas. Com isso, conseguiríamos ter “massa cinzenta” para desenvolver aqui produtos e serviços da nossa região e do nosso país, para o mundo».

Atrair essa “massa cinzenta” pode não ser assim tão difícil, até porque Miguel Fernandes acredita que «temos a região perfeita para atrair quem trabalha nas tecnologias. O trabalho pode ser feito remotamente e temos o melhor sítio para que eles trabalhem aqui e construam vida. Estamos a falar de miúdos de 20 anos, que querem conhecer o mundo, que estão uma semana aqui, outra ali. São os chamados digital nomads [nómadas digitais]».

 

Edifício no campus da Penha que vai receber o Algarve Tech Hub

 

«Podemos atraí-los e dar-lhes a conhecer a região criando, na época baixa, eventos ou workshops. A hotelaria pode preparar pacotes e podemos mostrar-lhes como é possível construir vida aqui. Esses virão e outros virão. É essa a “massa cinzenta” que precisamos, para criarmos coisas disruptivas, start-ups, empresas. Só com a diáspora, os remote workers [trabalhadores remotos] e os digital nomads teríamos condições para criar conhecimento para um setor tecnológico sólido», acrescentou.

Apesar dos esforços da Algarve Evolution e da Algarve STP, Miguel Fernandes defende que tem de haver apoios também a nível central. «O Turismo tem que participar nisto. O Governo tem que divulgar o Algarve nesta área e é para isso que o Algarve Tech Hub existe. É uma estratégia regional, mas tem que ser divulgada, tem que fazer parte de uma estratégia nacional. Quando alguém chega ao Aeroporto de Lisboa ou de Faro não há nenhum “farol” que indique que há tecnologia no Algarve e que podem vir falar connosco. Quantas pessoas passam no Algarve, com empresas que valem biliões, e não sabem que existe aqui alguma coisa?».

No campus da Penha da Universidade do Algarve, irá nascer um edifício pensado para acolher empresas tecnológicas, mas Miguel Fernandes reforça que o Algarve Tech Hub é muito mais do que isso.

«Esse edifício serve para representar que “há vida inteligente em Marte”. É uma peça do puzzle, que representa uma vontade. É um espaço que pode acolher os digital nomads e essas empresas e trabalhadores que podem trabalhar remotamente. Pode ser um local que faça com que os empreendedores e os freelancers se encontrem, troquem ideias e criem. O edifício deve ser visto dessa forma e não como tijolo. Teremos esse espaço, mas existem outros, extremamente válidos, como em Portimão ou Tavira. O Tech Hub tem de ser o Algarve e quem vier para cá trabalhar, escolhe Faro, Tavira ou Portimão, de acordo com o seu lifestyle e de acordo com o que estiver à procura», concluiu.

 

Fotos: Nuno Costa | Sul Informação

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