Balsa pode ser prova de tsunami que destruiu cidades romanas no Algarve

Equipa de geólogos e sedimentólogos espanhola encontrou «dados muito promissores» em Balsa

Equipa de investigadores espanhóis em Balsa – Foto: João Pedro Bernardes

Provas da existência de um tsunami, que se pensa que poderá ter ocorrido no final do século II ou início do III e devastado a costa algarvia e as cidades romanas aí existentes, poderão ter sido encontradas no campo arqueológico de Balsa, em Tavira, por uma equipa de especialistas espanhóis. Para já, tudo o que há são indícios, ainda que «muito promissores», mas os cientistas acreditam que as análises e estudos que se seguirão poderão mesmo validar cientificamente esta descoberta.

Na passada semana, um grupo de dez especialistas, entre eles geólogos e sedimentólogos, das universidades de Huelva, Sevilha e Barcelona, passaram um dia em Balsa a ver as sondagens que foram realizadas recentemente e, segundo João Pedro Bernardes, arqueólogo, investigador e professor da Universidade do Algarve, «estão convencidos de que há ali, de facto, um registo de um tsunami».

Os investigadores «recolheram  um conjunto de amostras que vão analisar e datar por rádiocarbono. Lá mais para a frente, farão um relatório. À partida, no terreno, os dados são muito promissores. Mas é agora necessária a validação científica, através das análises», disse ao Sul Informação João Pedro Bernardes, o coordenador do projeto “Balsa – em busca das origens do Algarve” – promovido em conjunto pela universidade, pela Direção Regional de Cultura do Algarve, pela Câmara de Tavira e pelo Centro Ciência Viva de Tavira.

 

 

A equipa de investigação que esteve em Balsa, constituída por professores catedráticos, investigadores e alguns alunos, está envolvida num projeto europeu que junta cientistas italianos, espanhóis e portugueses, «que visa estudar a ligação entre os portos atlânticos, na era romana, e Roma».

Um professor catedrático de Huelva, um dos que esteve em Balsa por estes dias e que já antes tinha ido àquele sítio arqueológico, faz parte de «um conjunto de especialistas que estão a tentar perceber o que se passou aqui em finais do século II, inícios do III, que arrasa não só Balsa, mas toda a costa algarvia e da Andaluzia».

«Há um conjunto de situações, nomeadamente invasões Mauris, mas o que terá afetado mais estas cidades litorais terá sido, ao que tudo indica, um evento de alta energia, provavelmente um tsunami. Já conseguiram identificar marcas desse fenómeno na Andaluzia. Há uma cidade, Bolonia, perto de Tarifa, em que está bem caracterizado um grande tsunami, semelhante ou, eventualmente, maior que o de 1755. E vieram cá tentar perceber se também há marcas disso aqui», explicou ao Sul Informação João Pedro Bernardes, que acompanhou os trabalhos da equipa espanhola.

«Dá a ideia que, até ao século II, estava tudo a correr muito bem e, de repente, há um corte e é tudo arrasado. No século III, começou-se a construir sobre as ruínas», explicou. O que se descobriu na campanha arqueológica que decorreu na Quinta de Torre d’Aires, em Tavira, entre 19 de Agosto e 5 de Setembro, foi precisamente isso: edifícios da antiguidade tardia construídos por cima das ruínas do que teriam sido grandes edifícios do período do Alto Império, com reaproveitamento de materiais.

 

Equipa de investigadores espanhóis em Balsa – Foto: João Pedro Bernardes

 

O investigador algarvio disse, ainda, que «há referências da existência desse evento extremo no início do século III» nos relatos da altura,  mas avisa que estes registos «não são seguros».

«As descrições que nos chegam têm praticamente todas origem em Roma. E, muitas vezes, o que os que as escrevem conhecem das províncias, nomeadamente as mais periféricas, como a Lusitânia, chega-lhes por relatos de mercadores e as coisas são sempre muito vagas», disse.

Durante o dia que passaram em Balsa, os investigadores espanhóis «recolheram muitas amostras – conchas, ossos, etc. – para fazer um conjunto de análises. Eles dizem que aquela zona de Balsa tem condições excecionais para detetar este tipo de coisas. Apesar disto não ser muito diferente da Andaluzia, está mais bem preservado».

Agora, é aguardar pelos resultados da investigação que será feita para saber se este mistério que envolve a ocupação romana do Algarve é desvendado pelos segredos que a antiga Balsa esconde.

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