Algarve tem de começar adaptação às alterações climáticas – «e rápido!»

Investigadoras do CIMA ajudaram a elaborar o Plano de Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas do Algarve e alertam para a urgência da decisão política

O diagnóstico está feito e há um mapa traçado para a adaptação e mitigação dos efeitos das alterações climáticas, no Algarve. Agora, é urgente «decidir o que queremos para o nosso futuro», de modo a fazer face à «emergência climática» com que nos debatemos.

O Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) da Universidade do Algarve foi uma das entidades que contribuiu para a elaboração do Plano de Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas do Algarve e logo numa das áreas mais sensíveis, a da erosão costeira e da subida do nível médio das águas do mar.

Foram as investigadoras do CIMA Susana Costas, Rita Carrasco e Isabel Mendes, coordenadas por Cristina Veiga-Pires, que apontaram os caminhos de adaptação neste setor, a parte operacional do plano encomendado pela AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, que pode ser descarregado aqui.

Para isso, tiveram de fazer estudos e antecipar diversos cenários, alguns mais otimistas, outros menos e, até, um bem pessimista. Infelizmente, tudo indica que seja mesmo esse o que se irá verificar, o que levará, por exemplo, a que em 2100, o que é hoje a Praia de Faro possa ficar debaixo de água e o mar chegue à segunda linha de prédios, em Quarteira.

«Estamos, de facto, perante uma emergência climática. Os dados mostram que há alterações climáticas já de alguma importância e relevo. O CIMA entrou neste Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas do Algarve porque tem especialistas na erosão costeira e na variação do litoral, bem como estudos da evolução do Algarve a médio/longo prazo nessa área», enquadrou Cristina Veiga-Pires, durante uma entrevista que o Sul Informação fez à equipa do centro de investigação algarvio que contribuiu para a elaboração do documento.

«Com a natural limitação dos modelos que utilizámos – este não foi um trabalho de investigação, foi um trabalho aplicado – as zonas onde percebemos que poderão existir problemas dramáticos são locais que já hoje em dia têm problemas, com especial relevo para Quarteira e Praia de Faro», disse, por seu lado, Susana Costas.

Ou seja, «o mal já aí está. A grande questão, agora, é perceber como conseguiremos viver com esses problemas, tendo em conta que as coisas ainda vão piorar».

Parte daquilo que foi pedido às investigadoras do CIMA foi que apresentassem soluções.

Desta forma, são identificados no plano os caminhos de adaptação e há valores monetários, ambientais e sociais associados às diferentes opções.

 

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Os decisores políticos ficam, assim, com a possibilidade de fazer uma escolha. «Há uma série de medidas de gestão costeira e, de acordo com os custos, o tempo de duração e a eficácia, podem decidir qual o caminho a seguir», resumiu Rita Carrasco.

Agora, o mais importante «é que este compromisso que está a ser assumido pelos decisores políticos vá para a frente e rápido!», acredita Rita Carrasco.

«Este é o momento de decidir. Temos de fazer escolhas e perceber quais é que serão as medidas sustentáveis e até que ponto o ambiente, o social e a economia poderão andar de mãos dadas. Queremos continuar a viver nestes locais e temos dinheiro para isso ou não?», reforçou, ao Sul Informação, Susana Costas.

Atingir um equilíbrio entre estes três setores «é muito importante», mas, em alguns casos, poderá não ser possível.

«Infelizmente, não sei se podemos continuar a tentar salvar o ambiente, o social e a economia ao mesmo tempo. A emergência climática, a subida do nível do mar, a erosão costeira fazem com que, provavelmente, um tenha de ser deixado de lado», considerou Cristina Veiga-Pires.

«Nós somos investigadores e não na área da economia. Para mim, faz sentido pensar que a economia não pode estar sempre a crescer e que vamos ter de cortar nesta área», acrescentou a coordenadora da equipa.

Certo é que há sinais da parte da classe política de que há interesse me fazer algo – começando pela encomenda deste plano que «não é apenas um diagnóstico, é também um documento de ação».

 

 

«Uma das mais valias deste plano é que não se fica pelo papel. Há um compromisso político de, pelo menos, se tentar fazer alguma coisa que dê resposta aos problemas que foram identificados. A AMAL tem tido um papel fundamental, porque conseguiu que os técnicos das Câmaras tivessem formação e que os presidentes das autarquias tivessem disponibilidade para participar, discutir e pôr em ação este plano», afirmou Rita Carrasco.

A investigadora do CIMA diz ter saído das reuniões mantidas com os stakeholders «um pouco mais animada, porque a economia não foi a coisa mais valorizada. Houve grande enfoque no ambiente».

Nestes encontros, em que participaram desde decisores políticos a representantes de associações, passando por técnicos das autarquias e cidadãos, as investigadoras do CIMA sentiram «que todos estavam a tentar chegar a consensos, que todos estavam empenhados em encontrar soluções. Toda a gente dizia: algo tem de ser feito».

Por outro lado, «o facto de estar perante os caminhos de adaptação, com a explicação do que cada um implica», levou a que as pessoas «percebessem as decisões que têm de ser tomadas».

Certo é que «não estamos a falar de algo hipotético», mas sim de algo que «está a acontecer.  Isto não é uma questão de fé, não se trata de acreditar ou não nas alterações climáticas. Temos de decidir o que queremos para o nosso futuro».

E isso é uma responsabilidade de todos.

«É importante lembrar as pessoas que não é pelo facto de a cimeira dedicada ao clima acontecer nos Estados Unidos, que o assunto deixe de nos tocar. Aqui também há problemas e também temos de agir», concluiu Cristina Veiga-Pires.

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