O Algarve está cheio e os depósitos podem ficar vazios

Presidente da Região de Turismo do Algarve está «confortável» com as medidas tomadas pelo Governo, mas hotelaria e empresas de aluguer de automóveis estão apreensivas

O Algarve vai enfrentar a greve dos motoristas de matérias perigosas, em pleno mês de Agosto, numa altura do ano em que o número de pessoas na região triplica devido ao turismo.

Os 22 postos de combustível, disponíveis para o público em geral, incluídos na REPA (que afinal são 21, mas já lá vamos), mereceram críticas de empresários e de partidos políticos, por terem sido considerados insuficientes.

No entanto, João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve, apesar de estar «preocupado e atento» em relação à greve, em declarações ao Sul Informação, diz estar «confortável com a definição publicitada [pelo Governo], porque, a meu ver, com o que é dado a conhecer, garante que as pessoas, turistas ou residentes, vão fazer uma vida sem grandes constrangimentos durante a greve».

A principal preocupação de João Fernandes prende-se com o cumprimento dos serviços mínimos. O Governo estabeleceu que a rede REPA será abastecida a 100% e os restantes postos de abastecimento a 50%. Além disso, portos e aeroportos, têm abastecimento também garantido a 100%.

 

João Fernandes

O presidente da RTA destaca que esta foi a única entidade regional de turismo envolvida na definição dos serviços mínimos, o que «nos deu a oportunidade de expor todas as questões que tínhamos diagnosticado junto dos parceiros locais«, ou seja, das associações que representam a hotelaria e a restauração, as agências de viagens, os transferes, as rent-a-car e as empresas de animação turística.

Segundo João Fernandes, as propostas foram «bem aceites» pelo Governo, mas, agora, «há a necessidade de que os serviços mínimos sejam cumpridos. Uma coisa é estabelecer os serviços mínimos, outra é o cumprimento desses serviços mínimos».

Caso não sejam cumpridos, «foi-nos garantido que há um conjunto de medidas alternativas para situações anómalas que venham a acontecer».

Em relação à REPA, o responsável não quis comprometer-se com uma opinião sobre a eventual necessidade de haver mais postos de abastecimento do Algarve, integrados nesta rede.

«Falámos com o presidente da ANAREC [Associação Nacional De Revendedores De Combustíveis] que nos garantiu que o Algarve terá condições para ultrapassar uma eventual greve sem constrangimentos de maior», diz.

João Fernandes lembra que, «apesar de a REPA ser uma rede prioritária de abastecimento, não quer dizer que os restantes postos de abastecimento não estejam à disposição do cidadão ou das empresas. Todos os postos de abastecimento, como aconteceu na última greve, estarão abertos e disponíveis, e, aliás, prepararam-se atempadamente, para fornecer combustível à população e às empresas». Ainda assim, esta sexta-feira já houve postos de abastecimento que ficaram sem combustível.

No Algarve, de acordo com a última lista divulgada de postos integrados na REPA, existem 21 bombas de gasolina que vão estar à disposição do público. Menos uma do que na lista que havia sido divulgada no final de Julho e que foi a base para um mapa interativo publicado no Sul Informação.

Além destes 21 postos de abastecimento, há mais quatro destinados a veículos prioritários [ver mapa atualizado abaixo].

João Soares, delegado da Associação da Hotelaria de Portugal no Algarve, tomou medidas no seu hotel para se precaver em relação à greve, mas mostra-se bastante preocupado.

«Temos tido a oportunidade de partilhar a nossa preocupação com colegas e dirigentes associativos e com algumas pessoas na RTA. Estamos a fazer reuniões internas no hotel D. José [em Quarteira] para tentar minimizar o impacto junto do clientes e da operação».

Para João Soares, é importante «comunicar bem. Não é dizer que vai haver greve, mas sim explicar como os clientes podem chegar aos hotéis, quais os postos de abastecimento abertos, aquilo que devem evitar, onde se devem concentrar e qual o apoio que pode ser prestado».

Até porque «as pessoas estão a pensar se vão manter as férias, se vão reservar ou cancelar. As pessoas precisam de ter segurança, e isso transmite-se com informações objetivas. Há muita informação, mas muito dispersa».

 

João Soares

Apesar de o presidente da RTA ter dito que ouviu os vários parceiros do setor do turismo, João Soares considera que teria sido necessário maior sinergia para enfrentar a greve. «Sabemos o que se passa na nossa unidade, mas não sabemos o que está a fazer o hotel do lado. Era importante isso ter sido provocado pela RTA, que é o aglutinador de todas associações», considera.

João Soares diz que teria sido necessário fazer uma «reunião com todas as unidades hoteleiras, empresas de transferes e empresas de rent-a-car, para ouvir as pessoas e para resolver os problemas em conjunto».

«Atrever-me-ia a dizer que era importante haver um “gabinete de crise”, que reunisse as várias entidades do setor e que fizesse chegar uma circular aos hotéis a dizer como funcionam os transferes, as rent-a-car, para que todos os prestadores de serviços estivessem articulados», acrescenta.

No caso do Hotel D. José, em Quarteira, do qual João Soares é diretor e proprietário, «já garantimos que vamos ter gasóleo de abastecimento e gás durante uma semana. Também contactámos com a lavandaria, que nos disse que não terá qualquer problema. Preocupa-nos, ainda assim, a alimentação e os fornecedores. Vamos fazer stock de vários produtos, que estão na base da operação, e tentaremos manter a operação próxima dos 100%. Informámos também os nossos colaboradores para abastecerem as viaturas e, se possível, para quem vive perto, sugerimos que se desloquem para o trabalho usando outros meios de transporte alternativos, como a ciclovia».

Quem não está a pensar em utilizar transportes alternativos são os turistas que chegam à região com uma reserva para alugar carro. As empresas de rent-a-car enfrentam a greve com incerteza, como explica Armando Santana, presidente da ARA – Associação de Empresas de Rent a Car do Algarve, ao Sul Informação.

«Não nos conseguimos preparar, até porque temos os carros praticamente todos alugados. Tudo vai depender de como os clientes nos vão devolver os carros. Se nos devolverem os carros com depósito cheio, entregaremos cheio. Se não, não podemos entregar. Até porque só três ou quatro companhias multinacionais é que têm reservatórios próprios de combustível. Acredito que toda a situação vá causar algum stress», realça.

 

Armando Santana

Tudo vai depender, segundo Armando Santana, de como funcionarem os postos da REPA, mas o representante das rent-a-car não está muito esperançado. «Acho que 21 ou 22 postos seriam suficientes para a população normal do Algarve. Mas, partindo daquela matemática simples de mercearia, dado que a população do Algarve triplica em Agosto, no mínimo tinham que ser 66 postos».

A ARA tentou «sensibilizar para que isto fosse tomado em consideração. Mas não estamos a falar só de combustível para as viaturas. As unidades hoteleiras estão dependentes do gás e também os hospitais. E isso vai fazer toda a diferença».

De acordo com Armando Santana, na próxima semana, «devem estar entre 100 a 115 mil viaturas alugadas a circular no Algarve» e todas elas precisam de gasolina ou gasóleo.

«Se as coisas não funcionarem como nos disseram que iam funcionar, vai ser um problema. Porque ninguém vai dizer a um cliente: “Olhe está aqui o seu carro, mas está praticamente na reserva”. Nesse caso, não podemos entregar a viatura», conclui Armando Santana.

Se não houver um volte-face de última hora, a greve começa na segunda-feira, dia 12 de Agosto, às 00h01. Não se sabe quando acaba.

 

Veja os postos da REPA:

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