Um Algarve (com falta) de oportunidades

Ricardo Proença olha para o presente e o futuro do mercado de trabalho no Algarve

Na perspetiva daqueles que escolhem o Algarve para viver, trabalhar e investir, está presente a convicção de que esta é uma região de oportunidades. Uma terra que oferece muito mais do que um clima ameno e paisagens costeiras atrativas. O Algarve é referenciado por muitos como uma região com excelentes condições para o desenvolvimento do setor primário e terciário.

Aliás, no que toca ao setor terciário, o turismo é a “jóia da coroa” no desenvolvimento económico da região, a qual tem vindo a arrecadar imensos êxitos e méritos.

Contudo, o Algarve é uma espécie de mar revolto no que toca ao mercado de trabalho, sobretudo para os mais jovens. Para quem navega nele, sabe que não é tarefa fácil. Há quem embarque na aventura da procura de emprego sem um mapa ou uma bússola que oriente o caminho e ande literalmente à deriva.

Nos dias de hoje, sair dos corredores da Universidade sem qualquer tipo de experiência profissional pode ser um enorme entrave na procura do primeiro emprego, num mercado laboral que cada vez mais se encontra, e bem, globalizado e competitivo.

Segundo o relatório do Instituto Nacional de Estatística do primeiro trimestre de 2019, a taxa de desemprego foi mais elevada na população jovem onde 17,6% daqueles com idades entre os 16 e os 24 anos não trabalham, e apesar de esta taxa ter tido a maior queda no último ano, continua a estar acima da média da União Europeia.

Também recentemente, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), no relatório Employment Outlook 2019, refere que Portugal “foi o país da OCDE onde mais encolheram as hipóteses de os jovens altamente qualificados encontrarem salários altos”.

Ora, estes números são inquietantes para qualquer jovem que pretenda pela primeira vez ingressar no mercado de trabalho e construir o seu futuro. Trilhar o seu próprio caminho. Ganhar a sua autonomia e alcançar os seus sonhos.

Julgo que todos nos questionamos: o que esperar de um futuro assim?

Apesar de sermos intitulados como a geração mais instruída de sempre, quando confrontados com a realidade do mundo laboral, longe das salas de aula, sentimo-nos em parte perdidos e ansiosos em relação ao futuro da nossa vida profissional.

Nunca, como agora, foi tão importante olhar para o futuro do mercado de trabalho no Algarve. Continuamos a ser uma região que só presta serviços e que se foca apenas no turismo. Não somos uma região que aposta em indústrias com elevado valor acrescentado, salvo raras exceções como é o caso da Congelagos que, com investimento do Grupo Battaglia Capital SA, possui uma das mais avançadas fábricas de transformação e congelamento de peixe a nível mundial.

Recentemente, também foi dado o “pontapé de saída” para o desenvolvimento do Polo Tecnológico na Universidade do Algarve. Um projeto denominado de Algarve Tech Hub, que irá abranger áreas-chave como as tecnologias de informação e a saúde. Porém, creio que este projeto poderá almejar muito mais do que a investigação e o desenvolvimento de novos projetos para a região.

O Algarve Tech Hub pode ser um ponto essencial para a captação e manutenção de mão-de-obra qualificada, um dos grandes problemas de que, infelizmente, o
Algarve padece (não por falta dessa mesma mão-de-obra, mas sim porque o mercado não consegue absorver eficazmente os jovens recém-licenciados que todos os anos saem da Universidade do Algarve).

No atual ciclo económico seria importante que o Algarve conseguisse reter jovens e quadros qualificados de maneira a que se possa tornar numa região empresarialmente mais desenvolvida e economicamente sustentável todos os dias, todo o ano.

Contudo, se queremos que realmente ocorram mudanças estruturais nesta área terão de haver consensos e esforços entre os diversos players da região. Só assim será possível alcançar o objetivo de tornar o Algarve numa região capaz de criar pontes de ligação essenciais para que os jovens qualificados possam atravessar a lacuna existente entre eles e o mercado de trabalho, escolhendo esta região para trabalhar e, nela, fixar-se.

Este é o grande desafio para os próximos anos: tornar o Algarve efetivamente numa terra de oportunidades.

 

Quem é Ricardo Proença?

Ricardo José Proença Gonçalves. É mais um de muitos que são apaixonados pelo Algarve e por tudo o que este proporciona. Acredita na mudança onde esta é mais necessária. Licenciado em Gestão de Empresas pela Faculdade de Economia da Universidade do Algarve. Frequentou também o Mestrado de Gestão de Unidades de Saúde, tendo a tese ficado “na gaveta” temporariamente. Foi vice-presidente da Associação Académica da Universidade do Algarve e membro do
Conselho Geral da Universidade do Algarve. É presentemente membro estagiário da Ordem dos Economistas.

 

Nota: artigo publicado ao abrigo do protocolo entre o Sul Informação e a Delegação do Algarve da Ordem dos Economistas

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