São Teotónio dedica Oficina de Viola Campaniça ao Mestre Daniel Luz

Espaço vai dar nova vida ao antigo mercado da aldeia

A Oficina de Viola Campaniça Mestre Daniel Luz vai ser inaugurada no próximo sábado, dia 27 de Julho, em São Teotónio (Odemira), numa iniciativa da Junta de Freguesia local.

«O Mestre Daniel Luz tem feito um trabalho muito importante de construção destes instrumentos, muito tendo contribuído para que a viola campaniça não tenha desaparecido. Por isso, seria quase um desrespeito perder esta oportunidade para dar o seu nome à Oficina», explicou Dário Guerreiro, presidente da Junta de Freguesia.

No novo espaço, que resulta da adaptação do antigo mercado de São Teotónio, o Mestre Daniel Luz irá dar aulas de construção daqueles cordofones tradicionais do Baixo Alentejo. «Ele será livre de fazer o que quiser com aquele espaço», garantiu o autarca.

A Oficina, acrescentou, poderá também vir a acolher aulas de viola campaniça, a cargo de Pedro Mestre e dos outros formadores da sua equipa.

Também poderá acolher «pequenos espetáculos e apontamentos culturais».

 

Dário Guerreiro

 

Dário Guerreiro falava na conferência de imprensa final da FACECO, onde as tradições e o artesanato são uma das almas da feira.

O autarca salientou que no sábado, numa cerimónia que começa às 16h00 no vizinho auditório da Caixa Agrícola de São Teotónio, serão ainda entregues três medalhas de mérito da freguesia, uma delas precisamente ao Mestre Daniel Luz. As restantes duas serão entregues ao anterior presidente da Junta de Freguesia, José Manuel Guerreiro, e ainda a José Colares Fernandes, «que dedica grande parte do seu tempo à história de São Teotónio».

 

Mestre Daniel Luz conta a sua história:

«Eu sou Daniel Colaço da Luz, mais conhecido como Daniel Luz, de S. Teotónio, construtor de cordofones.
Comecei com o bichinho de construir instrumentos quando tinha 20 anos, sendo que estava a aprender a ser carpinteiro desde os 15.
Nessa altura, convivia com vários amigos de S. Teotónio que tinham instrumentos e que tocavam. Uma vez, pedi um bandolim a um dos amigos e copiei o melhor que pude e soube e fiz um bandolim, quer dizer… mais ou menos.
Mas isto é complicado: mal se mexe, e se faz uma coisa, nunca mais se é capaz de parar e queremos sempre fazer mais. Pensamos “agora tenho de fazer outro melhor”.
E se faço um bandolim por que não uma guitarra clássica? E assim foi. Não saiu muito bem a primeira, mas depois fui aperfeiçoando.
Fui aprendendo, de bandolim em bandolim, de guitarra em guitarra. Depois de ter começado, as pessoas vinham ter com o Daniel Luz, com instrumentos velhos que havia pela aldeia, para reconstruí-los.
Então, fui tirando medidas, fui aprendendo as várias formas de construção, aperfeiçoei o meu método, e comecei a criar instrumentos todos desenhados por mim. Passaram-se 57 anos».

«Conhecíamos aqui em S. Teotónio esse instrumento como a viola do canto de despique. Havia um “homenzito” das abas da serra de Monchique, que era o Adelino “Cego”, que era cego de uma vista, e ele tocava isso.
Era um homem que vivia miseravelmente e, nas feiras e mercados, vinha a S. Teotónio e tocava para arranjar uma “buchazita” e um copo de vinho. Mas isto foi há uma “carrada” de anos. Depois, desapareceu completamente da nossa terra.
Até que ouvi dizer que na zona da Aldeia Nova, onde há uma barragem, havia uns seis ou sete tocadores. Eles foram-se espalhando e um desses resistentes veio morar para Garvão.
Nessa altura, já só esse “tocador” e um tal Amílcar Silva, que construía também toscamente a viola, em São Martinho das Amoreiras, é que tocavam na região.
Um dia, vi no programa das festas de Maio de Amoreiras-Gare que ia haver canto de baldão e violas campaniças. Pensei: “vamos ver se é agora que tenho a ocasião de ver, ou rever, uma viola campaniça”.
E então, fui tirar as medidas ao instrumento. Tirei umas fotografias, o homem foi execionalmente simpático e, a partir daí, comecei a fazer e nunca mais parei, já perdi a conta a quantas violas fiz».

 

O que é a viola campaniça?

A viola campaniça, também chamada viola alentejana, era o instrumento usado para acompanhar os “cantes a despique”, nas feiras e festas do Alentejo.

É a maior das violas portuguesas e possui 5 ordens de cordas, tocada de dedilhado apenas com o polegar, sendo que as cordas mais graves são geralmente tocadas soltas.

Apesar de ser um instrumento de dez cordas, pode possuir doze afinadores, o que pode indiciar que o instrumento, que se crê que tenha evoluído a partir da “Vihuela de Mano” medieval , foi outrora dotado de uma sexta ordem de cordas duplas, mas que estas terão caído em desuso.

 

 

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