Nem o BE faltou ao protesto do PSD contra os problemas dos hospitais

Protesto contra os problemas vividos nos hospitais do Algarve juntou cerca de cinco dezenas de pessoas

Dois deputados, um do PSD e outro do Bloco de Esquerda (BE), um presidente de Câmara social-democrata e representantes do Sindicato Independente dos Médicos e da Ordem dos Enfermeiros estiveram entre as cerca de cinco dezenas de pessoas que se concentraram ontem, segunda-feira, junto à porta do Hospital de Faro, para exigirem uma solução para os problemas que têm vindo a afetar o Serviço Nacional de Saúde no Algarve.

Num protesto em que a larga maioria dos participantes eram militantes e simpatizantes do PSD, alguns dos quais bem conhecidos – não faltaram à chamada David Santos, presidente do partido a nível regional, nem outras caras conhecidas dos social-democratas – houve lugar a discursos, proferidos não só pelos da “cor” do organizador da iniciativa, Cristóvão Norte, deputado à Assembleia da República algarvio eleito pelo PSD, mas também pelos representantes dos profissionais de saúde e por João Vasconcelos, outro parlamentar algarvio, mas do Bloco de Esquerda, que foi convidado a falar.

Afinal, como garantiu Cristóvão Norte aos jornalistas, em causa estava uma questão de interesse público e não uma ação partidária. «Queremos dar nota de que há uma perda trágica no SNS no Algarve. Esse não é um problema novo, mas tem-se vindo a avolumar ao longo dos anos. E, até agora, não foram tomadas medidas decisivas para o ultrapassar», considerou .

O deputado do PSD recorda «o conjunto de episódios que se tem verificado» que, diz, se estão a tornar «no novo normal» dos hospitais do Algarve. Os problemas nas maternidades, o aumento do número de queixas, que «bateram todos os recordes» e a «redução brutal do investimento público, que também se nota na saúde», têm motivado «perdas muito significativas que põem em causa o acesso a cuidados de saúde e colocam em perigo as populações».

 

 

Cristóvão Norte aponta os problemas, mas também soluções. «O que o PSD propõe é a construção do novo Hospital Central do Algarve», cuja construção foi suspensa em 2009 «por força do memorando de entendimento» com a Troika.

Uma nova e moderna unidade de saúde para a região algarvia não está entre os cinco hospitais que o atual Governo PS diz que irá construir nos próximos anos, apesar de um nova unidade hospitalar no Algarve ter sido considerada,  por um «estudo de natureza técnica» feito em 2006, «como a 2ª prioridade a nível nacional».

O parlamentar algarvio, que tem sido uma das vozes mais críticas em relação à opção do Governo em adiar a construção desta nova unidade de saúde, defende que as dificuldade em fixar clínicos na região também passa por aqui, já que «um hospital novo, de vocação e cariz universitário, consegue dar mais inovação e abrir novas perspetivas de carreira que, obviamente, não há neste momento no Algarve».

Mas, admite, o problema da fixação de médicos «é mais profundo. Não bastam os incentivos que têm sido propostos. Julgo que temos de refletir se Portugal está ou não a cumprir o mandato constitucional de igualdade de oportunidades e da distribuição geográfica de médicos. Porque o país não tem médicos a menos, tem é um problema da sua distribuição geográfica».

Cristóvão Norte defende mesmo que o Estado deve «usar todos os mecanismos à sua disposição» e não enjeita a possibilidade de criar «algum caráter de obrigatoriedade, para garantir que a distribuição geográfica se verifica, tal como está prevista na constituição».

Quanto à notória preponderância de social-democratas entre os manifestantes, o deputado algarvio desvaloriza. «Quem aqui está é, em primeira instância, utente do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA). Mas obviamente que estão aqui militantes do PSD», disse Cristóvão Norte.

 

 

João Dias, secretário regional do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), e Sérgio Branco, delegado da Ordem dos Enfermeiros no Algarve, também desvalorizam o facto deste ser um protesto convocado por um social-democrata.

«Aderiram a esta manifestação as pessoas que, independentemente dos partidos, sentem que necessitam de chamar a atenção para a situação que se está a viver neste momento no Algarve. Se outras vozes não se estão a levantar, deviam. Precisamos de todos os algarvios, não se percebe porque não estamos todos juntos, quando este é um problema que afeta o Algarve e ultrapassa tudo quanto sejam partidos», considerou João Dias.

«A minha presença aqui tem a ver com o facto de estar disponível para estar ao lado de todos quantos se levantem para defender melhores cuidados no SNS», disse, por seu lado, Sérgio Branco.

O representante do enfermeiros deixou, ainda, claro que considera grave a situação que se vive nas unidades do CHUA, apesar de salientar que este é um problema «crónico».

Este ano, diz, «numa altura em que a população do Algarve triplica, não há propriamente um reforço em termos de pessoas, nem em termos de capacidade assistencial. Ou seja, quem vier ao Algarve, pode contar com um Algarve com capacidade condicionada em termos de assistência».

O representante dos médicos, por outro lado, defende que os problemas que o SNS do Algarve vive «exigem uma política que envolve uma estratégia diferente, modelos de gestão completamente diferentes, que possam cativar os profissionais a fixar-se nas regiões periféricas».

«Tem que existir uma estratégia e de ser implantadas medidas estruturais e de gestão que possam evitar as assimetrias e as discriminações que estão a acontecer no Algarve e noutras regiões onde há carências», disse João Dias.

O que não pode haver é situações de desigualdade, como o valor que é pago por hora aos profissionais de fora do SNS que são contratualizados para fazer algumas horas. «Acaba por ser um incentivo e uma forma de acabar com o SNS continuar a promover este tipo de política de contratualização externa a valores três vezes superiores ao que é pago aos profissionais do SNS. Só leva a que as pessoas abandonem, para que venham, também, a ser contratualizadas por esses valores».

O representante do SIM concorda com Cristóvão Norte quando este afirma que é preciso um Hospital Central. «O novo hospital está parado desde 2008. Neste momento, nota-se a carência, com a transferência das grávidas de Portimão para Faro, e que se exige uma instituição de maiores dimensões, que possa dar resposta à população crescente do Algarve», disse.

 

 

Quem também fez questão de marcar presença, embora tenha chegado depois da hora marcada para a concentração frente ao Hospital de Faro e numa altura em que já haviam sido proferidos vários discursos, foi o deputado do BE João Vasconcelos.

«Vi nas redes sociais que iria haver o protesto e não me preocupei com quem o organizava, isso pouco me interessa. Vi que era uma manifestação em defesa do Hospital de Faro e decidi que passaria por cá, coloquei logo na minha agenda», explicou o bloquista aos jornalistas, já depois de ter pegado no microfone e ter dito de sua justiça.

«O Governo não fez o trabalho de casa que devia ter feito. Há dois anos, foi anunciado um investimento de 19 milhões nos hospitais do Algarve. É caso para perguntar, dessa verba, o que foi realmente investido no SNS», disse.

Ainda assim, João Vasconcelos fez questão de frisar que os problemas já existiam antes do Governo PS e da geringonça. «A grande degradação começou com a fusão dos três hospitais, que agravou uma situação que já vinha de trás, nomeadamente no que toca à falta de médicos, de enfermeiros, de auxiliares técnicos, de medicamentos e adiamento de cirurgias».

«Vamos continuar a batalhar por um SNS digno e apresentaremos sempre propostas. Só é pena é que o BE e outras forças de esquerda apresentem propostas e, depois, o PSD, o CDS e o PS as chumbem», acusou.

No entanto, lembrou, foi aprovada este ano uma proposta do Bloco «para o início dos procedimentos para construção do novo Hospital Central do Algarve». Embora admita que esta aprovação «vale o que vale», João Vasconcelos espera que o Governo «dê já início ao trabalho e que seja feita alguma coisa a esse nível até final do ano».

 

Fotos: Hugo Rodrigues|Sul Informação

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